A Pedagogia do Oprimido x ChatGPT nas escolas públicas
Coluna foi publicada no domingo (12)
Os chatbots baseados em inteligência artificial (IA) são programas de computador que podem simular uma conversa com um ser humano. Eles estão sendo cada vez mais utilizados em diversas áreas, incluindo a educação. Entretanto, pedagogos da rede pública de ensino têm bloqueado o acesso a essas ferramentas para os alunos da educação básica.
O principal argumento é que os alunos poderão pular etapas do processo de aprendizagem e perder o foco em pesquisas, uma vez que os chatbots podem fazer isso por eles. Talvez alguns desses pedagogos tenham esquecido os ensinamentos do seu livro de cabeceira, “Pedagogia do Oprimido”, que faz uma severa crítica ao modelo tradicional de ensino, em que o educador deposita conhecimento no aluno passivo.
No entanto, quando a tecnologia cria mecanismos para que o aluno possa ser, finalmente, o protagonista do seu processo de aprendizado, surgem autoridades educacionais para impor bloqueios controversos.
Confesso que fiquei consternado ao levar as turmas para o laboratório de informática de uma escola pública e constatar o bloqueio do uso da ferramenta ChatGPT. E mais, ter ouvido do setor de TI que não poderia fazer nada para efetuar o desbloqueio, pois estaria recebendo ordens do setor pedagógico.
Cercear alunos do ensino público do acesso a essa tecnologia, que se espalha rapidamente pelo mundo e em todos os setores, equipara-se à atitude de retirar o acesso a um smartphone ou à própria internet de um adolescente ou jovem. Por mais que se tente, não há como competir com a tecnologia; ao contrário, é preciso torná-la uma aliada também na área da educação.
Além de descumprir a legislação educacional do país, em especial a Lei nº 14.533/2023, que instituiu a Política Nacional de Educação Digital e consagrou, no artigo 3º, a necessidade de inserção da educação digital nos ambientes escolares, em todos os níveis e modalidades, a partir do estímulo ao letramento digital e informacional.
Sendo assim, o bloqueio ao acesso por parte dos alunos da rede pública de ensino não passa de uma medida que afasta a inclusão digital de uma parcela da população que, muitas vezes, não possui acesso a esses recursos em seus lares.
Outra consideração importante: é inócuo criar resistência ao uso da tecnologia, pois bloqueia-se o ChatGPT, mas existem outras ferramentas incorporadas aos navegadores, como o Google Chrome e o Microsoft Edge, que não logram êxito em bloqueios, a não ser que sejam inteiramente removidos dos sistemas.
Em vez de uma solução rasa de proibição, os educadores deveriam explorar abordagens que incorporem essas tecnologias de forma crítica, promovendo o desenvolvimento de habilidades essenciais, como a capacidade de discernir informações confiáveis, identificar fake news, avaliar criticamente fontes on-line e usar a tecnologia de maneira responsável.
É importante ressaltar que os chatbots não devem substituir os professores. Os professores continuam sendo essenciais para o processo de aprendizagem.
No entanto, os chatbots podem ser uma ferramenta valiosa para complementar o trabalho dos professores e melhorar a experiência de aprendizagem dos alunos. Enfim, fica aberto o debate!