Sintoma é a voz da doença

Coluna foi publicada nesta terça-feira (14)

Dr. João Evangelista | 14/11/2023, 10:05 10:05 h | Atualizado em 14/11/2023, 10:07

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/150000/372x236/Sintoma-e-a-voz-da-doenca0015522700202311141005/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F150000%2FSintoma-e-a-voz-da-doenca0015522700202311141005.jpg%3Fxid%3D664753&xid=664753 600w, João Evangelista Teixeira Lima  é clínico geral e gastroenterologista

Ao contrário do que se pensa, 70% dos diagnósticos médicos são elaborados por meio de história clínica minuciosa. O fundamento da medicina é a observação. O corpo fala, a semiologia traduz.

A cadeira de semiologia não é apenas uma disciplina da graduação em medicina, ela é composta por um conjunto de técnicas, permitindo que a relação entre duas pessoas seja estabelecida, o médico e o paciente, para que o primeiro ofereça uma solução ao segundo.

Semiologia é a disciplina que se interessa pelo estudo da entrevista e do exame físico, expressos em sinais e sintomas, que o médico interpretará para compor o diagnóstico. Dentro dessa maneira de sentir e verbalizar sensações, emergem significados. Qualquer moléstia tende a ser sobrecarregada de adjetivação e significação.

Na metade do curso de Medicina, na cadeira de semiologia, acompanhando o paciente à beira do leito, abre-se uma nova realidade para o acadêmico, dando sentido à teoria antes acumulada.

O contato com o doente mescla teoria com prática. Mergulhado na semiologia, o estudante busca a decodificação das mensagens corporais emitidas pelo corpo doente.

Os sinais e sintomas traduzem o caráter invisível da doença, uma vez que pertencem ao campo das sensações. Nesse momento, o estudante de Medicina escuta os avisos do corpo, tentando compreender sua linguagem.

A semiologia médica tornou-se um conjunto sistematizado de técnicas, sendo legitimada como domínio específico do saber científico. As doenças, antes entidades invisíveis, passaram a ser concretas e bem definidas.

Com dinâmica sensorial, a semiologia conta com a visão, o tato e a escuta. O sintoma não é mais signo, mas significado da doença. Nesse contexto, o ideal se torna real, o olhar da superfície mira a profundidade, transformando o invisível em visível. A semiologia torce a teoria para obter fatos. O diagnóstico é estabelecido com base em “pistas”, visando a interpretação dos sintomas e a leitura dos sinais corporais.

A entrevista médica é denominada anamnese, cujo significado é “recordar”. Dessa forma, o enfermo é levado a rememorar o passado na reconstituição da história da doença. O médico que não sabe semiologia escuta sem ouvir, olha sem reconhecer e palpa sem perceber. Entre os sintomas que significam, e a doença que é significada, o método clínico surge como base para o diagnóstico.

Mudanças decorrentes dos extraordinários progressos experimentados pela ciência nos últimos anos também alcançaram a semiologia médica, com novos e sofisticados meios diagnósticos. Como ciência, a semiologia está em contínuo processo de evolução e aperfeiçoamento.

Enquanto existir um indivíduo com seus sofrimentos e suas mazelas, os preceitos da anamnese e do exame físico haverão de perdurar insubstituíveis, porque representam o esteio da medicina arte.

A ciência passa, mas a arte é perpétua, e a semiologia, como arte da ciência médica, continuará sendo exercida com a mente e o coração.

SUGERIMOS PARA VOCÊ: