Nascemos imunizados pela nossa mãe

Coluna publicada nesta terça-feira, em A Tribuna

Dr. João Evangelista | 16/08/2022, 08:31 08:31 h | Atualizado em 16/08/2022, 08:32

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Além do amor, esse poderoso protetor imunológico emocional,  a mãe oferta seus anticorpos para o bebê durante o nascimento, período em que ele ainda não dispõe  de sistema imune.

Embora ainda não tenha um aparelho imunológico satisfatório, o recém-nascido conta com barreiras mecânicas, químicas e biológicas, que auxiliam em sua proteção. 

A pele é coberta com uma camada de células escamosas queratinizadas que são continuamente eliminadas. Junto com a secreção de suor, essa descamação limita a capacidade dos microrganismos de se fixarem e invadirem o corpo. 

O muco, existente nas membranas mucosas, dificulta a adesão e a penetração de germes nos tratos respiratório, gastrointestinal e geniturinário. A pele e o estômago secretam ácido clorídrico, que mata bactérias. 

A lisozima , enzima encontrada na saliva e lágrima, apresenta propriedade antibiótica.

Nos recém-nascidos, as barreiras naturais, como o intestino, por exemplo, não estão desenvolvidas. A produção de anticorpos só atinge níveis protetores após 1 ano de idade. 

Por isso, a maioria desses elementos vem da mãe, tendo atravessado a placenta antes do nascimento. Além disso, o intestino é protegido por anticorpos maternos que são secretados no leite.

O motivo exato pelo qual os recém-nascidos têm pouca imunidade é desconhecido, mas o mesmo fenômeno é descrito em todos mamíferos, sugerindo que esse estado confere uma vantagem evolutiva à sobrevivência. 

Uma explicação possível é que a mudança repentina do útero relativamente estéril para o mundo externo é acompanhada de um enorme aumento na quantidade de materiais estranhos, a maioria inofensivos, com os quais o bebê se depara. 

Assim, o sistema imunológico do recém-nascido necessita adotar uma postura tolerante, uma vez que responder a todos esses materiais estranhos, como se fossem invasores patogênicos, resultaria em uma resposta inflamatória exacerbada e inapropriada, que causaria danos aos tecidos do rebento. 

Enquanto a criança vai desenvolvendo sua defesa própria, a mãe colabora com uma imunidade passiva. 

Recebida passivamente pelo filho, na forma de componentes imunes que foram pré-formados pela mãe, o bebê segue protegido, embora suscetível a infecções. 

Por esse motivo, as vacinas devem ser administradas o mais cedo possível. Todavia, se forem utilizadas precocemente, a criança não conseguirá produzir uma resposta efetiva.

Com o passar do tempo, a imunidade adaptativa irá fornecer memória a longo prazo. Com isso, se poderia esperar que a imunidade ficasse cada vez mais forte com a idade. 

Não é verdade. Sabe-se que à medida que envelhecemos, a imunidade diminui. O timo, fonte de linfócitos, começa a atrofiar após a puberdade, apresentando incapacidade de gerar células novas.

Ao nascer, o rebento permanece atado ao cordão imunológico de sua mãe. Durante esse estágio da vida, ele vai desenvolvendo o próprio critério de relações com o mundo em que participa e compete.

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