Videochamadas em asilo para espantar a solidão
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Em tempos de isolamento social, moradores de um lar de idosos de Cachoeiro de Itapemirim estão usando a tecnologia para matar a saudade dos familiares e amigos. É que há mais de 30 dias os asilos estão impedidos de receber visitas ou liberar os idosos em função da pandemia do novo coronavírus.
No Lar dos Idosos Adelson Rebello Moreira, instituição mantida pela Santa Casa de Misericórdia, os moradores conseguem falar com amigos ou parentes por meio de videochamadas.
Os contatos são feitos pelo celular, por meio da internet. “A gente teve de adotar essas medidas para que eles não se sintam isolados”, explicou a gerente administrativa do lar, Cintia Melo Silvia Gaspar.
A aposentada Marina de Fátima Francisca, 66, não perde a oportunidade de falar com os amigos, como a secretária Rozangela Leida Ribeiro, 56, com quem mantém uma amizade de mais de 40 anos.
“Temos um afeto com Marina como alguém da família. Nos conhecemos na Igreja da Consolação, com o grupo de jovens. Ela começou a fazer faxina aqui em casa, depois na casa da minha mãe, de meus irmãos e a amizade cresceu. Sempre ficou com a gente”, explicou Rozangela.
Pela tela do celular, Marina se diverte enquanto conversa com a amiga. Pergunta sobre as novidades e brinca com a cadela Pipa. Ela, segundo a amiga, está internada no asilo desde dezembro, quando começou a se esquecer das coisas, em função do Alzheimer, doença neurodegenerativa.
“Todo final de semana nós a buscamos no lar. Ela gosta de participar das missas ou ir à roça, mas desde março não pode mais sair. Nós entendemos a situação. Não dá para arriscar”, disse Rozangela.
Cintia explicou que os idosos já tinham a rotina de falar ao telefone com seus familiares, mas o contato por videochamada é novo. Começou com a restrição das saídas e das visitas.
“Na verdade, eles ficam encantados ao ver o familiar pela tela. Ajuda a suprir a carência. Não se sentem abandonados e ficam mais tranquilos, pois podem ver o rosto do parente e conferir que estão bem”, explicou a gerente do lar.
Mudanças na rotina
Os idosos fazem parte do grupo de risco. Das 101 mortes registradas no Espírito Santo em função do novo coronavírus, 73 são de pessoas com mais de 60 anos de idade.
Esse risco fez com que o lar mudasse a rotina e criou alternativas para manter os moradores em segurança, explicou a gerente administrativa do lar, Cintia Melo Silvia Gaspar.
Segundo ela, na semana passada uma idosa, que sempre vai ao salão de beleza, teve que cortar e pintar os cabelos no próprio espaço.
“Nos mobilizamos, compramos tinta e ela ficou muito satisfeita com o resultado do corte”, comentou a gerente.
Ela explicou que para evitar aglomeração, foi reduzido o número de cadeiras no refeitório e as refeições são feitas em horários diferentes. De acordo com a gerente, a instituição também disponibiliza álcool em gel em todo o abrigo e máscaras para funcionários e idosos.
Tecnologia ajuda a estimular o cérebro

Além de facilitar o contato visual com os amigos e familiares, o uso da tecnologia pode levar mais benefícios aos idosos das instituições ou mesmo que estão em casa. Na avaliação da psicóloga Priscyla de Castro Côgo Thezolin, a atividade estimula o desenvolvimento intelectual e também ajuda a evitar a ansiedade e a depressão.
“Na terceira idade, o isolamento infelizmente é rotineiro e a situação se agrava agora, gerando ansiedade e debilitando ainda mais o emocional da pessoa. Com a videochamada, esse cidadão pode interagir com o familiar ou conhecido e isso fortalece o processo de socialização, que é muito importante nessa faixa etária”, explicou Priscyla.
De acordo com ela, a videochamada representa para os idosos algo novo, um estímulo tanto em nível cerebral quanto cognitivo.
“O fato de estarem observando o que acontece, falar com alguém a distância. Mesmo que uma funcionária os ajude a se conectar, é uma forma de exercitar a mente. O cognitivo e a atividade cerebral são estimulados nessas horas”, destacou a profissional.
No entanto, a psicóloga ressaltou que o uso da tecnologia não substitui o contato do idoso com os familiares e amigos.
“Tão logo a situação volte ao normal e possam receber visitas, a família deve se mostrar presente. Eles precisam do toque, do abraço”, alertou.
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