Sete em cada 10 moradores do ES vão ter excesso de peso
Excesso de peso eleva o risco de doenças crônicas. Veja como calcular sua massa corporal
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Os hábitos da vida moderna estão moldando um futuro próximo preocupante. Em 2030, ou seja, em oito anos, sete em cada 10 pessoas no Brasil terá excesso de peso, e a obesidade atingirá uma a cada quatro pessoas.
Os dados são do estudo “A Epidemia de obesidade e as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) – Causas, custos e sobrecarga no SUS”. O estudo mostrou que a prevalência do excesso de peso aumentou de 42,6% em 2006 para 55,4% em 2019; em 2021 esse índice chegou a 57,1%.
“Estamos caminhando para ter um mundo obeso. Temos essa pandemia invisível, silenciosa, da obesidade já há algumas décadas e vai aumentando a cada ano. Há previsão de aumento até o ano de 2040. Se não fizermos nada agora, vamos, com certeza, colher os frutos das doenças que a obesidade traz”, alerta o nutrólogo Roger Bongestab, especialista em obesidade.
Com o aumento do excesso de peso – que engloba não só a obesidade, mas também o sobrepeso – eleva o risco também de doenças crônicas ligadas ao estilo de vida, como hipertensão arterial, diabetes, esteatose hepática e suas diversas complicações, como diz a endocrinologista Marina Pazolini.
“Essas doenças afetam a qualidade de vida e o desempenho das pessoas na sociedade como o todo”.
Doenças essas que são mais comuns na velhice, mas que estão aparecendo cada vez mais cedo, segundo o nutricionista Felipe Strela, professor do Unesc.
“O padrão alimentar que os jovens estão apresentando tem como efeito doenças crônicas que teriam o surgimento esperado na terceira idade, mas que estão surgindo cada vez mais precoce”.
A médica ortomolecular Jordana Jantorno lembra que o sobrepeso, apesar de não ser considerado doença como a obesidade, é um sinal de alerta. “É um caminho que está sendo percorrido para que se torne uma doença, a obesidade”.
Tem de haver estratégias de política pública de tratamento da obesidade, como enfatiza a endocrinologista Jacqueline Rizzolli. “Ainda não podemos jogar a toalha. Há muitas coisas para melhorar essa perceptiva e fazer com que as pessoas e governos tenham consciência da obesidade como doença”.
“Tentamos de tudo”, diz confeiteira
Os irmãos Brenda Olaia, 24 anos, e Breno Olaia, 23, dividem a paixão pela confeitaria, mas também a luta contra o excesso de peso. Os dois jovens irmãos pesavam juntos 350 quilos até resolverem fazer a cirurgia bariátrica.
Brenda conta que ela e o irmão lutam contra a balança desde crianças e que a obesidade desencadeou outras doenças. Só nos últimos dois anos eles engordaram 40 quilos cada um, e até a caminhada na praia se tornou um martírio.
“Lutamos com a balança desde crianças. Já tentamos de tudo, desde orientação profissional a remédios, mas nunca nos livramos da obesidade. O problema maior veio quando a obesidade nos desencadeou outras doenças. Meu irmão desenvolveu até doenças cardíacas”, disse Brenda.
A obesidade também gerou baixa autoestima. Coisas comuns, como se enrolar na toalha ou andar de ônibus, começaram a ser evitadas.
“A toalha não fecha na gente. Não podemos mais andar de ônibus porque não tem como passar na roleta. Mesmo que a dieta ou o remédio pareça o mais eficaz possível, nunca vimos resultados, porque a obesidade é uma doença, e ela não se cura da noite para o dia”, desabafa.
Indicada pelos médicos, os irmãos decidiram encarar a cirurgia bariátrica, que foi realizada há 14 dias. “Queremos ir à praia, praticar atividades físicas, viver todos os dias como não vivemos. Com tranquilidade e sem o cansaço que a obesidade nos causou”, completa.
Alimento ultraprocessado pode prejudicar a memória
Um estudo americano publicado este ano em revista científica sugere que alimentos ultraprocessados podem afetar a memória dos idosos, além de causar várias doenças, como já comprovado. Os dados da pesquisa ainda são preliminares, mas acendem mais um alerta a respeito dos ultraprocessados.
Um levantamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), de 2019 e 2020, mostrou que entre os entrevistados de 18 a 55 anos houve um aumento de 30% para 35% no consumo de salgadinhos e biscoitos e outros alimentos ultraprocessados.
“Esses alimentos burlam o sistema de fome e saciedade, fazendo com que consumamos maior quantidade e logo favorecem o ganho de peso”, explicou a endocrinologista Marina Pazolini.
Consumir esse tipo de alimento com frequência traz prejuízos para a saúde, como alerta a nutricionista da Medquimheo Naira Fraga. “Diariamente estamos rodeados de alimentos ultraprocessados que, geralmente, são opções práticas e saborosas, mas nem um pouco inofensivas. O consumo elevado podem contribuir para um ganho de peso e, consequentemente, o aumento de doenças relacionadas ao sobrepeso, como o câncer”.
Menos 42kg após mudança
Foi comendo hambúrguer quase todos os dias e substituindo água por refrigerante que a autônoma Iara Marchezi, 29 anos, chegou a pesar 120 quilos, atingindo o grau três de obesidade.
Depois de se ver em um vídeo na piscina durante uma festa com os amigos ela resolveu mudar de hábitos e começou seu processo de emagrecimento, mudando principalmente a alimentação.
“Comia hambúrguer umas quatro vezes por semana e tinha que ser sempre o maior lanche, x-tudo com três carnes. Além disso, quando sentia sede, pegava refrigerante ao invés de água. Substituía refrigerante por água”, lembra.
Ela conta que tinha dificuldade para caminhar, subir escada e até de amarrar um sapato. Iara não conseguia de brincar com a filha, Beatriz, de 4 anos, mas não entendia que era por causa do excesso de peso.
“Depois que me vi no vídeo na piscina é que fui me ver gorda. Era um feriado, e decidi começar uma dieta em plena quarta-feira. Fui cortando os lanches, comendo frutas”.
Ela conta que só de cortar os lanches durante a semana conseguiu perder 13 quilos no primeiro mês. Foi então que buscou ajuda profissional e acelerou o processo.
“Essa mudança só veio quando mudei meu jeito de pensar. Hoje não sinto dores, tenho disposição e ganhei uma nova vida ao me olhar no espelho”, completa a autônoma, que já perdeu 42 quilos em dois anos.
Saiba mais | Doenças
O excesso de peso ou obesidade aumenta significativamente o risco de contrair e favorecer o desenvolvimento de várias doenças crônicas.
1 - Doenças cardiovasculares: Podem culminar em um infarto ou em um AVC, o acidente vascular cerebral.
2 - Diabetes: Sendo que afastar o sedentarismo é primordial, inclusive para o controle da glicemia em quem já foi diagnosticado com essa doença.
3 - Esteatose hepática: Trata-se do acúmulo de gordura nas células do fígado, atrapalhando perigosamente o funcionamento desse órgão vital.
4 - Síndrome metabólica: Um conjunto de alterações que pode incluir a própria obesidade, com aumento da circunferência abdominal, hipertensão arterial, triglicerídeos altos, colesterol HDL baixo e diabetes.
5 - Doenças respiratórias: Elas tendem a ser ainda mais graves em pessoas que levam uma vida sedentária.
6 - Distúrbios do sono: Cada vez mais associados, por sua vez, ao aparecimento de doenças cardiovasculares e a problemas até de memória.
7 - Doenças osteoarticulares: Mais do que causarem dor nas articulações, podem comprometer a autonomia e a qualidade de vida.
8 - Câncer: Vários tumores malignos, como os de mama e os de intestino, estão associados ao excesso de gordura no corpo e ao comportamento sedentário.
Como calcular o IMC
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