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Regional

Região no ES mantém vivo o dialeto vêneto

São Bento de Urânia, em Alfredo Chaves, é uma das poucas regiões onde ainda se fala o idioma trazido por imigrantes italianos


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Imagem ilustrativa da imagem Região no ES mantém vivo o dialeto vêneto
O produtor rural Jandir Gratieri, que cultiva inhame em São Bento de Urânia, ainda hoje faz uso do dialeto vêneto entre amigos e familiares | Foto: Clóvis Rangel

O pequeno distrito de São Bento de Urânia, em Alfredo Chaves, com pouco mais de 2 mil moradores, mantém vivo o dialeto vêneto. Segundo pesquisadores, é uma das poucas regiões do ES onde ainda se fala o idioma trazido pelos imigrantes italianos.

Os primeiros habitantes do distrito, imigrantes italianos, comunicavam-se exclusivamente em vêneto. Os portugueses chegaram ao local 40 anos depois, permitindo que os italianos preservassem, por quatro décadas, traços culturais e linguísticos de sua terra natal.

Em 1920, o então presidente Getúlio Vargas proibiu o uso de qualquer idioma que não fosse o português no Brasil. Com isso, os italianos foram impedidos de falar sua língua-mãe. De acordo com a professora e pesquisadora de Língua Portuguesa Katiúscia Sartori Cominotti, a imposição acelerou a adoção do português.

“Pais e avós deixaram de falar italiano com filhos e netos. Em São Bento de Urânia, os mais velhos continuavam se comunicando entre si, mas evitavam ensinar a língua às novas gerações por medo de perseguição”, explica.

Ainda assim, muitos descendentes de italianos no distrito preservam os dois idiomas. O produtor rural Jandir Gratieri, de 59 anos, é bisneto de Francesco Gratieri, italiano que chegou às serras capixabas em 1893 trazendo uma muda antecessora do inhame São Bento, conhecido como roxo chinês.

“Meus avós vieram da Itália e crescemos ouvindo o dialeto. Eles só conversavam em italiano. Meus pais também falavam muito. Com o tempo, misturamos com o português, mas ainda hoje mantemos o vêneto”, conta Paulo.

O vêneto é uma língua românica falada por cerca de 5 milhões de pessoas, principalmente na região do Vêneto, na Itália. “São Bento de Urânia é o local com maior presença desse dialeto no ES. Os mais velhos ainda o utilizam entre si, mas, como não o transmitiram aos mais novos, muitos apenas compreendem, mas não falam”, acrescenta a pesquisadora.

Com o passar dos anos, Alfredo Chaves se tornou um dos maiores produtores de inhame do País, Jandir fundou a associação de produtores da região, publicou livros com receitas à base do tubérculo e tornou-se um dos maiores produtores de inhame do ES. No setor, é conhecido como “Rei do Inhame”.

“Não podíamos falar italiano”

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Descendente de vênetos, Sante Lorenzon cresceu ouvindo e falando apenas o dialeto de seus ancestrais, mantendo vivas as tradições de sua família | Foto: Clóvis Rangel

Vivendo em uma casa de estuque que construiu há mais de 50 anos, o produtor rural Sante Lorenzon, de 88 anos, carrega consigo a história de uma geração de imigrantes italianos. Descendente de vênetos, ele cresceu ouvindo e falando apenas o dialeto de seus ancestrais, mantendo vivas as tradições de sua família.

Aliás, o português só entrou em sua vida por uma necessidade escolar. Quando começou a estudar, aos 13 anos, precisou se adaptar a um idioma que até então era distante de sua realidade.

“Só falava italiano até os 13 anos. Mas tive que começar a estudar e a professora só falava português, então não podia falar vêneto. Foi quando comecei a aprender o português. Mas até hoje falo o vêneto. Tem uma turma ainda, que é da minha época, que só se comunica em vêneto”, conta.

A presença italiana no Brasil, especialmente no Espírito Santo, é um reflexo da grande onda migratória que ocorreu no final do século XIX e início do século XX.

Muitos italianos, fugindo da pobreza e das dificuldades econômicas na Europa, embarcaram para o Brasil em busca de oportunidades. A família de Sante foi uma dessas. Ele guarda até hoje um documento valioso, que detalha a chegada de seus avós ao País.

“Meus avós vieram de Vêneto. Meu avô tinha 12 anos. Temos até o registro com o nome do navio que eles vieram. Embarcaram dia 5 de dezembro no porto de Gênova e chegaram em Vitória no dia 27 de dezembro”, lembra.

Surgimento de nova língua

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Giorgia Miazzo: conexão | Foto: Clóvis Rangel

O dialeto vêneto também possui presença em diversos estados brasileiros. Com a imigração italiana entre os séculos XIX e XX, muitos imigrantes do norte da Itália estabeleceram-se no Sul do País, contribuindo para o surgimento do talian, uma variante do vêneto.

A linguista Giorgia Miazzo observa que, embora em 2011 o talian fosse falado por cerca de um milhão de pessoas no Brasil, estimativas mais recentes apontam para cerca de meio milhão de falantes.

Giorgia Miazzo também se interessa pelo talian, ressaltando que, embora o italiano seja a língua oficial da Itália, os dialetos desempenham um papel essencial na formação da identidade cultural. Para muitos descendentes de imigrantes, o talian é uma conexão tangível com as raízes familiares.

A historiadora Maria Cristina Dadalto acrescenta que, no Espírito Santo, cerca de 93% dos imigrantes italianos vieram de regiões do norte da Itália, sendo 40% originários do Vêneto.

Ela observa que, apesar da diminuição no número de falantes, os dialetos continuam a ser símbolos de resistência cultural e identidade para várias comunidades.

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