Pílulas vão imitar benefício de fazer atividades físicas

Cientistas avançam em um projeto inovador: a produção de pílulas que imitam os benefícios da atividade física. Com isso, seria possível obter os ganhos sem precisar se mover. Especialistas defendem, no entanto, que os exercícios físicos regulares são indispensáveis.

Em laboratórios de universidades e institutos dos Estados Unidos, da Austrália e do Reino Unido, pesquisadores mapearam as substâncias liberadas durante a atividade física e, agora, avançam para o encapsulamento dos elementos.

Dessa forma, as pílulas poderiam induzir o ganho muscular, a queima de calorias e, até mesmo, aprimorar a capacidade da memória, por exemplo.

O mestre em Fisiologia e professor de Educação Física Mauro Guerra reitera, contudo, que cada pessoa tem necessidades individuais de atividade física.

“Os exercícios físicos são muito mais complexos do que o estímulo das substâncias liberadas. Um corpo precisa de mobilidade, de alongamento, de flexibilidade e responde de forma individual às atividades físicas”.

A endocrinologista e especialista em Medicina Esportiva Gisele Lorenzoni avalia que as pílulas podem ser positivas para pessoas com doenças crônicas ou a população mais frágil, como os idosos.

Gisele Lorenzoni disse que as pílulas podem ser positivas para pessoas com doenças crônicas e para idosos |  Foto: Divulgação

“A atividade física nunca deve ser deixada de lado, em hipótese alguma. Se a comunidade científica estuda a criação de pílulas que podem ser benéficas para pessoas com doenças crônicas ou para a população mais frágil, como idosos, o desenvolvimento é positivo”.

O profissional de Educação Física Christian Rosa destaca que a atividade física é uma experiência de interação social. 

“A atividade física vai além da liberação dessas substâncias. Ela ajuda o corpo a funcionar melhor, dá sustentação, promove a interação social e melhora a saúde mental”.

Estudante de Matemática, Abraão Santana Pezente, 22 anos, conta que a atividade física regular tem “efeito terapêutico”.

“A falta de atividade física afeta a minha saúde mental e o funcionamento do meu corpo. Com a rotina acadêmica pesada, sinto que alivio o estresse quando corro, pedalo e pratico esportes. As pílulas seriam um bom complemento, se forem aprovadas após a pesquisa”.

SAIBA MAIS

Estudos

• Cientistas de universidades e institutos dos Estados Unidos, da Austrália e do Reino Unido mapearam as substâncias liberadas durante a atividade física e, agora, buscam encapsular os elementos.
• As pílulas poderiam induzir o ganho muscular, a queima de calorias e aprimorar as capacidades pulmonar e da memória, a depender das substâncias utilizadas. 
• Médicos e educadores físicos reiteram, no entanto, que a atividade física é indispensável, complexa e trabalha o funcionamento de todo o corpo, muito além dos estímulos de substâncias liberadas durante a prática.

Clusterina

• Pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, descobriram uma proteína liberada durante as atividades físicas, chamada clusterina. O componente ajuda na capacidade da memória e na redução da inflamação do cérebro.
• Ainda não há testes comprobatórios dos benefícios em humanos, mas cientistas afirmam que é uma proteína com maiores níveis em pessoas que se exercitam. Caso se comprove, os especialistas esperam desenvolver medicamentos que imitam o efeito da clusterina. 

Sestrina 

• Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, descobriram outra proteína, chamada de sestrina. Ela é liberada com os estímulos da atividade física nos músculos e é relacionada ao ganho muscular, à queima de gordura e ao aumento da capacidade pulmonar.

Irisina

• Cientistas do Dana-Farber Cancer Institute, em Boston, mapearam o hormônio irisina, liberado durante práticas físicas e relacionado à perda de peso e ao fortalecimento dos ossos.

Outros componentes

• Cientistas da Universidade de Southampton, no Reino Unido, desenvolveram um composto químico relacionado à perda de peso e à redução os níveis de açúcar no sangue.
• Pesquisadores da Universidade Nacional Australiana mapearam mensageiros químicos que auxiliam na redução do risco de degeneração macular, que causa perda de visão com o avanço da idade.  
• Uma equipe da Universidade do Estado da Louisiana, nos Estados Unidos, conseguiu induzir benefícios da atividade física a partir do isolamento de  proteínas mensageiras da contração muscular. Espera-se que, futuramente, essas proteínas sejam encapsuladas.

Recomendações

• É recomendado, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que todos os adultos praticam de 150 a 300 minutos de atividade física moderada.
• Caso a atividade física seja mais intensa, a recomendação é de 75 a 150 minutos.
• Adolescentes e crianças, a partir de 5 anos, devem praticar 60 minutos de atividade física por dia, durante a semana .
• É comprovado que pessoas com prática regular de atividade física têm ganhos significativos no funcionamento do coração, do corpo e da mente. Há, também, a redução de sintomas da ansiedade e da depressão.
• Mais de 5 milhões de mortes anuais em todo o mundo poderiam ser evitadas se a população fosse mais ativa. 
• Por outro lado, a OMS alerta que mais de 80% da população adolescente em todo o mundo pratica tempo insuficiente de atividades físicas. 

Fonte: Universidade de Stanford, Universidade de Michigan, Dana-Farber Cancer Institute, Universidade de Southampton, Universidade Nacional Australiana, Universidade do Estado da Luisiana, OMS e especialistas