Pesquisa aponta uso de bebidas alcoólicas em excesso por universitários
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O consumo exagerado de bebida alcoólica está cada vez mais presente na vida dos jovens. Um estudo feito com alunos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) mostra que metade dos estudantes bebeu de forma excessiva no período de um ano. O percentual chega a 50,65%.
O levantamento foi publicado em uma tese de doutorado feita junto ao Centro de Estudos e Pesquisas com o tema “Álcool e outras Drogas da Ufes”. Ao todo, 559 alunos foram entrevistados, sendo que metade apontou consumo no formato binge drinking – definição para o ato de beber uma grande quantidade de uma só vez.
Para mulheres, o formato leva em conta a partir de quatro doses, enquanto para o homem é a partir de cinco. Cada dose é equivalente a uma lata de 350 ml de cerveja.

“Na faixa etária analisada, com média de 22 anos, ainda não há um nível de dependência, mas esse consumo intenso aumenta a possibilidade de uma dependência futura. É um comportamento de risco”, afirmou a enfermeira especializada em Psiquiatria e Saúde Mental, Rayane Cristina Faria de Souza, responsável pelo estudo.
Nesta faixa etária, até os 30 anos, o cérebro ainda está em processo de formação e amadurecimento, podendo ser comprometido pelo álcool, de acordo com o médico psiquiatra Valber Dias Pinto.
“A ingestão de álcool em quantidade alta e de forma contínua se torna perigosa em um cérebro em processo de formação, e qualquer substância psicoativa usada regularmente pode provocar modificações, entre elas a dependência química e emocional da substância. Os estudos mostram que 20% das pessoas que fazem esse uso contínuo desenvolvem o quadro de dependência”, ressaltou o psiquiatra.
A pesquisa desenvolvida com os alunos da Ufes mostrou, ainda, que 12,5% utilizam tranquilizantes sem prescrição médica. Nesses casos, os relatos são de que o uso estaria afetando a qualidade de vida dos estudantes.
Por fim, o estudo também analisou sintomas que podem indicar dificuldades emocionais nos estudantes: 59,3% apresentaram esses sinais. “Desses, 39% apresentavam sintomas sugestivos de ansiedade, e 19% de depressão. É algo preocupante, pois compromete o psicológico e as relações sociais, afetando significativamente a qualidade de vida”, afirmou a pesquisadora Rayane Cristina Faria.
Consumo aumentou durante a pandemia

O abuso de álcool e outras drogas cresceu durante a pandemia da Covid-19, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O levantamento foi realizado em países como Brasil, Canadá, Estados Unidos e África do Sul.
Esse aumento foi registrado, principalmente, nos primeiros meses do isolamento social, mas ainda tem tido reflexo.
Por conta disso, a OMS chegou a recomendar, no ano passado, que os países limitassem a venda de bebida alcoólica. No Brasil, a única limitação foi com o fechamento de bares, principalmente no período da noite, em restrições feitas em diversas cidades, inclusive no Estado.
“Mesmo com os bares fechados, as pessoas continuaram bebendo ainda mais, mas em casa”, afirmou o psiquiatra André Malbergier.
Ele afirma que um dos motivos para o aumento do consumo é a insatisfação gerada pela pandemia, o que também já foi registrado em outros momentos de crise no mundo.
“Acham que estão vivendo algo que podem compensar o mal-estar com coisas que dão prazer, principalmente comida, bebidas e drogas. É como se fosse justificável lidar com as emoções através do álcool”, afirmou Malbergier.
Saiba mais
A pesquisa
- O levantamento foi publicado em uma tese de doutorado feita junto ao Centro de Estudos e Pesquisas sobre o Álcool e outras Drogas da Ufes.
- foram entrevistados 559 alunos do campus de Maruípe da Ufes.
- 50,65% afirmaram ter bebido de forma excessiva no período de um ano.
- O consumo exagerado é no formato binge drinking – definição para o ato de beber uma grande quantidade de uma só vez.
- Para mulheres, o formato leva em conta a partir de quatro doses, enquanto para o homem é a partir de cinco. Cada dose é equivalente a uma lata de 350 ml de cerveja, por exemplo.
Fonte: pesquisadora Rayane Cristina Faria.
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