"Me preparei para lutar na Segunda Guerra”, relembra José Anália Neto

Aposentado conta que foi convocado para o Exército aos 21 anos e estava na expectativa para atuar quando o conflito acabou

Jonathas Gomes | 08/01/2024, 17:57 17:57 h | Atualizado em 08/01/2024, 17:58

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/160000/372x236/Me-preparei-para-lutar-na-Segunda-Guerra-relembra-0016240300202401081757/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F160000%2FMe-preparei-para-lutar-na-Segunda-Guerra-relembra-0016240300202401081757.jpg%3Fxid%3D702829&xid=702829 600w, José Anália Neto e Marina Anália são casados há 68 anos.

“A vida proporciona surpresas inimagináveis quando estamos dispostos a trabalhar e a receber as oportunidades que recebemos. Sou de Raul Soares, em Minas Gerais, e deixei a cidade já na vida adulta com um intuito: fui para o Rio de Janeiro para servir ao Exército Brasileiro e me preparar para lutar na Segunda Guerra Mundial.

Quando fui convocado a servir no Rio de Janeiro, aos 21 anos, foi a primeira vez que deixei a minha cidade para viver em outro lugar. Com os anos, passei a conhecer toda a Cidade Maravilhosa, que era a capital nacional.

Eu não tinha muito estudo, mas sempre fui dedicado, esperto e trabalhador. Era muito elogiado por escrever bem, por exemplo.

Expectativa

O ano era 1945, ou seja, estávamos vivendo um dos momentos mais tristes da história: a Segunda Guerra Mundial. O momento era de tensão. Tanto que me preparei para lutar na Segunda Guerra, no sentido de ter treinamentos e de estar na expectativa de embarcar para a Itália. Felizmente, antes de partir para a Itália, foi decretado o fim da guerra.

Quando me perguntam sobre como eu me sentia com a expectativa de ir à guerra, só tenho a dizer que eu iria. Não tinha medo ou receio de cumprir o papel ao qual fui designado. Todos sofrem com a guerra, contudo. Nesse sentido, o fim da guerra representou um recomeço para o mundo.

Coma

Após a guerra, voltei para o interior de Minas Gerais e trabalhei com muitas coisas. Infelizmente, por conta de um trabalho, sofri um acidente por excesso de exposição ao sol: tive uma insolação que me levou ao coma. Aquele foi, sem dúvidas, um dos momentos mais difíceis da minha vida. Ao buscar o tratamento, não havia hospitais especializados em queimaduras na região e, por isso, vim para o Espírito Santo.

Estava buscando viver em uma cidade menos quente, além de um lugar com melhor estrutura de saúde. Aqui em Vila Velha criei minhas filhas e ofereci mais qualidade de vida à família.

A adaptação à mudança não foi difícil: em pouco tempo, eu já tinha um emprego, as meninas estavam na escola e alugamos uma casa.

Aqui, apesar do pouco estudo, pude dar condições para que minhas filhas estudassem. Hoje tenho até um neto advogado.

Vida a dois

Nos meus quase 100 anos, o que mais marcou a trajetória da minha vida foi meu casamento de 68 anos. Conheci minha esposa, Marina, quando era dono de um bar. Ela era a garçonete, e sempre tivemos muito respeito um pelo outro. O amor se desenvolveu naturalmente.

Compartilhar a vida com alguém ao longo de 68 anos é um privilégio para poucos, principalmente nos dias de hoje. Sou apaixonado pela minha esposa! Vez ou outra, olhamos os álbuns antigos e vemos toda a história que construímos nas fotos.

Longevidade

Não sei se consigo pensar em um segredo para a longevidade, mas, com certeza, ter fé em Deus, fazer exercícios físicos e visitar regularmente os médicos são pontos que colaboram. Eu sempre fui envolvido com esportes, como o futebol e o ciclismo.

Hoje, depois do acidente devido à exposição ao sol, não costumo ir tanto à rua, mas leio, debato, escrevo, converso e tento, ao máximo, manter a mente ativa, além, claro, do bom humor. Acredito que a longevidade seja efeito dessa combinação.

Depoimento dado ao repórter Jonathas Gomes.

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