Novo tratamento faz câncer regredir 6 vezes mais rápido
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Faculdade de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos, encontraram um composto que pode acelerar em até seis vezes a regressão do tipo mais agressivo do câncer de mama, o triplo negativo.
O tratamento, que ainda está em estudo e só foi testado em camundongos, poderá ajudar na diminuição dos tumores de forma mais rápida e reduzir os efeitos colaterais gerados aos pacientes pela quimioterapia, caso dê certo em humanos.
Segundo o químico Vinícius Ferreira, pesquisador do Instituto de Química de São Carlos da USP, os testes em animais envolveram o tratamento inicial com um composto que causa um estresse nas células de câncer de mama.
“É um resultado bastante promissor, que mostra a relevância de buscar novos tratamentos a partir de uma combinação de fármacos, principalmente, aqueles capazes de induzir algumas 'fraquezas' específicas nos tumores, e que podem ser utilizados como alvo de quimioterápicos de nova geração”, destacou Vinícius Ferreira, que é doutor em Ciências, com ênfase em Química Orgânica e Biológica.
Para a oncologista clínica Kítia Perciano, o estudo ainda precisa ser mais desenvolvido para chegar a conclusões animadoras, mas novas descobertas são bem-vindas.
“A gente estuda as fases 1, 2 e 3, até o medicamento passar a ser usado em seres humanos como tratamento. A fase 1 é a parte de testes em animais, como está esse estudo”, explicou. “Isso está no estágio bem inicial. A gente espera que dê certo e, mais legal ainda, é ver que é um brasileiro envolvido em algo inovador”, completou.
O coordenador da Oncologia da Rede Meridional, Fernando Zamprogno e Silva, também frisou que o estudo é precoce. “Nossa expectativa é que possa ser mais um medicamento promissor daqui a algum tempo. Mas, precisamos ser muito cautelosos em estudos pré-clínicos”, salientou.
A oncologista, pesquisadora e diretora médica do Centro de Pesquisa em Oncologia do Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim, Sabina Aleixo, viu a novidade com expectativa positiva.
“Toda notícia sobre novidades no tratamento nos traz esperança de melhores resultados no tratamento”, pontuou.
SAIBA MAIS
O câncer
- Dados da Sociedade Americana de Câncer apontam que o câncer de mama triplo negativo é responsável por cerca de 10% a 15% de todos os tumores de mama e tende a ser mais comum em mulheres com menos de 40 anos.
- Esse tipo de câncer se difere de outros porque ele cresce e se espalha mais rápido. Há opções de tratamento limitadas e os resultados não tão satisfatórios.
- Um estudo publicado em 2019 mostra que esse tipo de câncer tem seu tamanho duplicado após 124 dias, enquanto outros tipos de tumores de mama dobram seu volume a cada 185 dias.
- O termo “triplo negativo” é utilizado porque as células cancerígenas não possuem receptores dos hormônios femininos estrogênio e progesterona e também não produzem (ou produzem em poucas quantidades) a proteína HER2, fundamental para o crescimento das células mamárias. Ou seja, o teste das células cancerígenas é negativo nas três ocasiões.
A pesquisa
- a proposta do estudo é que, antes do tratamento convencional – a quimioterapia –, as células tumorais pudessem ser enfraquecidas para que apresentem uma resistência menor e morram mais rápido.
- Para isso, foram avaliados 192 compostos químicos que poderiam ser capazes de “debilitar” as células cancerígenas de forma seletiva, ou seja, sem prejudicar as saudáveis.
- Dois compostos foram usados nos testes em animais em combinação com quimioterapia: GPP-78 e FK-866. O quimioterápico usado em combinação foi o S63845.
- O tratamento com GPP78 e FK866 fizeram com que o tumor nos animais ficasse mais suscetível à quimioterapia S63845.
- Utilizando apenas o quimioterápico para tratar os animais, o tumor teve redução de 10% no tamanho. Com o tratamento combinado, o tumor diminuiu 60% no mesmo período, ou seja, a terapia foi seis vezes mais eficiente ou, ainda: 500% mais eficaz.
- O estudo, que está na fase 1, a experimental, foi publicado na Science Signaling, revista científica internacional da área de sinalização celular da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês).
Fonte: USP e especialistas consultados.