Novas gírias nascem nas redes sociais

| 11/05/2020, 20:32 20:32 h | Atualizado em 11/05/2020, 20:49

Hitou, flopou, fada sensata e biscoiteiro são algumas das novas gírias da internet que romperam barreiras e entraram no vocabulário diário dos capixabas. Os termos, alguns deles derivados do inglês, se juntam a palavras já conhecidas da língua portuguesa e passam a expressar situações e sentimentos cotidianos.

Essas expressões que surgem no ambiente virtual muitas vezes se inspiram em memes, conteúdos virais na internet. No caso de outras, a origem é desconhecida, mas se mantêm populares por cair no gosto dos internautas.

O fenômeno demonstra como as mutações da língua são naturais em diferentes situações de comunicação. Os novos termos contribuem para a criação de identidade de uma geração, capaz de se expressar e ser compreendida através dessas expressões.

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/prod/2020-05/372x236/novas-girias-6dcefe0cb8568f0d7bdce5891158ff5a/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fprod%2F2020-05%2Fnovas-girias-6dcefe0cb8568f0d7bdce5891158ff5a.jpeg%3Fxid%3D121453&xid=121453 600w, Leonardo Rangel exibe algumas gírias que costuma usar: “É uma forma de criar identidade para um grupo”

O estudante de Jornalismo Leonardo Miranda Rangel, 21 anos, adota os termos coloquiais em ambientes virtuais e ocasiões informais e defende o uso.

“As gírias não ameaçam a formalidade pois não são utilizadas em todos as situações. É uma forma de se expressar que cria identidade para um grupo.”

Ao mesmo tempo, as mutações da língua podem criar barreiras na comunicação do dia a dia. A assistente contábil Esther Martins, 20 anos, conta que já houve ocasiões em que pessoas questionaram o que ela havia dito por não compreenderem as gírias.

“Tive dificuldade para me expressar no meu trabalho porque usava muitas gírias e sempre precisava explicar o significado delas. Me ajustei, mas meus colegas também se adaptaram ao meu jeito.”

Entretanto, nem sempre as diferenças de comportamento geracionais são bem acolhidas socialmente. A professora de Português Aurélia Pedroni destaca a importância de combater o preconceito em relação às diferentes formas de se comunicar.

De acordo com ela, é preciso ter em mente que existem situações para se utilizar a norma culta e a norma coloquial da língua. Ainda assim, julgar alguém pela linguagem é um preconceito linguístico.

“A língua portuguesa é um organismo vivo que está em constante adaptação ao momento histórico e reflete os jovens de cada geração.”
Aurélia recorda que todas as faixas etárias carregam gírias de sua juventude e, portanto, devem respeitar as particularidades desta geração.


Conheça as novas gírias


Auge

  • Usado com tom irônico para se referir a um fracasso ou criticar a postura de alguém. Por exemplo, “o auge da vergonha” significa que a pessoa está no limite máximo da vergonha.

Biscoiteiro

  • Pessoa que faz algo para chamar atenção em busca de aprovação.

Cancelar

  • Boicotar ou suspender o apoio a alguém. Geralmente a pessoa é cancelada quando faz algo controverso, ofensivo ou preconceituoso.

Chocar zero pessoas

  • Não surpreender ninguém. Para se referir a algo que já era esperado.

Contatinho

  • Usado para se referir a alguém com quem se relaciona ocasionalmente, mas sem compromisso.

Crush

  • Alguém por quem se nutre sentimentos mais profundos para desenvolver um relacionamento sério.

Dar biscoito

  • Elogiar o biscoiteiro. Costuma ser um deboche para responder aqueles que estão em busca de chamar atenção.

Fada sensata

  • Pessoa com discurso e posturas com bom senso e sabedoria.

Flopar

  • Significa fracassar, não ter sucesso, se dar mal em alguma circunstância.

Hater

  • Pessoa que dispara comentários odiosos e críticas contra os outros sem motivo específico.

Hino

  • Significa alguma coisa incrível, maravilhosa, excepcional. Refere-se tanto a música quanto a atitudes.

Hitar

  • Verbo derivado de “hit”. É usado, por exemplo, quando algo chama atenção ou viraliza.

Ícone

  • Semelhante a hino, mas no contexto de personalidade. Está relacionado a pessoas admiráveis.

Jantar

  • Deixar outra pessoa sem argumento durante uma discussão ou debate.

Lenda

  • Sinônimo de ícone, também é atribuído a pessoas de posturas marcantes.

Palestrinha

  • Usado para pessoas que se prolongam muito em um mesmo assunto, parecendo dar palestra sobre o tema.

Pisa menos

  • Elogio usado para fazer referência a pessoas que estão arrasando.

Sextou

  • Celebra a chegada da sexta-feira. Ou seja, já vai começar o fim de semana.

Shippar

  • Derivado do termo em inglês “relationship”, que significa “relacionamento”. É sinônimo de torcer pela união de um casal.

Stalkear

  • Bisbilhotar vida alheia na internet.

Tá na Disney

  • Quando a pessoa está desligada da situação ou pensa que tudo são flores.

Vibe

  • Refere-se ao estado de espírito de uma pessoa ou até a aura do ambiente.

Fonte: Entrevistados e pesquisa AT


Análise 


srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/prod/2020-05/372x236/marta-zorzal-2ea1918a125e49bf1b7085f42e42f32d/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fprod%2F2020-05%2Fmarta-zorzal-2ea1918a125e49bf1b7085f42e42f32d.jpeg%3Fxid%3D121454&xid=121454 600w,
“A juventude costuma criar palavras e formas de comunicação devido a um desejo de se identificar e se organizar enquanto grupo social. Isso faz com que se desvinculem dos adultos.

Além de cada geração ter sua própria linguagem para buscar se diferenciar, diversas culturas e espaços interferem na forma de comunicação dos indivíduos.

Até mesmo dentro da juventude observamos subgrupos que constroem seu próprio vocabulário, assim formando linguagens características, semelhantes a dialetos. Assim a composição do grupo não é apenas pela faixa etária e também por outras características que os aproxima.

A criação das gírias está relacionada a uma forma de diferenciação e composição de identidade. Ao ver alguém usando uma determinada gíria, a pessoa se identifica como pertencente àquele grupo.

O que observamos é que, com as redes sociais, essas gírias se multiplicam no meio virtual e se tornando cada vez mais comuns no dia a dia de comunicação”.

Marta Zorzal e Silva, Cientista polítia e professora aposentada

SUGERIMOS PARA VOCÊ: