Mais solteiros entram na fila para adotar crianças no Estado
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O desejo de ser mãe ou pai por meio do processo de adoção tem sido frequente entre os solteiros, que têm aparecido cada vez mais nas filas de adoção de crianças, segundo o Tribunal de Justiça do Espírito Santo.
Apesar de pouco conhecido, toda pessoa que tenha condições de exercer a maternidade e a paternidade pela via biológica também pode fazê-la pelo meio adotivo.
Nesta terça-feira, 25 de maio, no Dia Nacional da Adoção, especialistas explicam como funciona o processo, e mães e jovens contam sobre a experiência.
No Estado, há 1.083 pretendentes habilitados e 106 crianças e adolescentes disponíveis para adoção, segundo a Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja).
De acordo com o juiz da Vara da Infância e Juventude de Colatina, Ewerton Nicoli, pessoas solteiras que vivem união estável e outras formas de união familiar também podem participar do processo.
Mas um dos desafios para quem tenta adotar é a demora. Esse é o caso da psicóloga Roberta Torres, na fila há seis anos.
Roberta acompanha o Grupo de Adoção Mãos Amigas, da Serra, e disse que os perfis de crianças procuradas para adoção têm mudado.
“Há 10 anos, o perfil para a adoção era de menina branca, saudável, de até 3 anos. Isso mudou, mas o tempo de espera continua grande. E por que se há pessoas que adotam jovens de 17 anos com necessidades especiais?”, questionou.
Mas, apesar das mudanças, ainda há um grande descompasso entre a realidade das crianças para adoção e os perfis escolhidos pelas pessoas que querem adotar.
“Temos um grupo muito grande de pessoas que querem adotar crianças de até 4 anos, saudáveis, sem deficiência ou enfermidade não tratável (67% das pessoas habilitadas a adotar), sendo que apenas 16% das crianças para adoção têm esse perfil”, explicou o juiz.
A advogada e professora de Direito de Família da Faculdade Pio XII Ludmila Montibeller pontuou que é preciso um olhar atento.
“Projetos como o 'Esperando por você', do Tribunal de Justiça, são importantes. Por meio dele é dada voz a esses adolescentes que, através de pequenos vídeos, se apresentam, despertando o interesse em possíveis adotantes”.
"Admiro meus filhos pela força"

Apesar de nunca ter pensado em ser mãe, a coordenadora administrativa Kathierline Martins Garcia, 37, mudou a concepção depois de conhecer os irmãos Joázes Martins Garcia, 19, e Jonatas Martins Garcia, 22, que estavam no abrigo onde trabalhava, e perceber que o carinho que tinha por eles era de mãe.
Kathierline é mãe monoparental (solteira). “Admiro meus filhos pela força, resiliência e coragem. São motivos de muito orgulho mesmo com toda essa mudança”, disse.
"Amor imenso"

A família da comerciante Marcia Anita Pereira, 45, e do servidor público José Alexandre Pereira, 50, recebeu duas crianças que hoje têm a mesma idade, 11 anos: o Lucas Silva de Oliveira Pereira e a Danielle Silva de Oliveira Pereira.
Eles são “gêmeos do coração”, como chama Marcia, porque ela faz aniversário em novembro e ele em dezembro. “Amor é uma descoberta plantada cada dia. A cada momento vai crescendo mais, e hoje em dia está imenso”, disse Marcia.
SAIBA MAIS
Como adotar
- Para quem tem interesse em adotar, o primeiro passo é fazer a inscrição no site do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ou se dirigir à Vara da Infância e Juventude onde reside, em que irá preencher o mesmo formulário.
- Depois disso, deverá fazer a entrega de documentação solicitada na Vara da Infância e Juventude.
- Os próximos passos envolvem a análise dos documentos, a avaliação da equipe multidisciplinar do Poder Judiciário, a participação em um programa de preparação e, por fim, a habilitação, isto é, um certificado que permite a participação do pretendente no SNA.
- O objetivo de todo esse processo é verificar qual a motivação das pessoas que estão buscando a adoção e explicar efetivamente como funciona o processo, que é irrevogável depois de concretizado. Após verificar que a pessoa está apta a adotar, a habilitação é concedida.
Números da adoção no Espírito Santo
- Hoje, há 1.083 pretendentes habilitados a adotar no Espírito Santo e 106 crianças e adolescentes disponíveis para adoção.
- Atualmente, 67% das pessoas habilitadas ao processo querem adotar crianças de até 4 anos de idade, saudáveis, sem deficiência ou enfermidade não tratável.
- Mas apenas 16% das que estão disponíveis para adoção têm esse perfil e 68% das crianças têm mais de 9 anos.
- Em 2020, foram 72 processos concluídos e 107 crianças encaminhadas para adoção. Mas o número foi abaixo da média anual, que fica entre 130 e 140 adoções, devido à pandemia, que ocasionou paralisações nos processos de adoção.
- No ano de 2019, 140 adoções foram concluídas.
- A expectativa do Tribunal de Justiça do Espírito Santo é de que neste ano a situação melhore e mais adoções ocorram.
Campanha “Esperando por você”
- A Campanha “Esperando por você”, que faz parte de um programa de adoção tardia realizada pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo, procura estimular que crianças e adolescentes fora dos perfis mais procurados pelos candidatos ao processo sejam adotados.
- Para isso, são divulgadas no site do Poder Judiciário fotos, vídeos e informações dos que não têm pretendentes.
- É uma forma de dar a eles visibilidade, e a campanha tem tido efeitos positivos. No último ano, uma criança com microcefalia foi adotada e, neste ano, também houve a adoção de adolescentes de 16 anos.
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