Mais de 900 mil sofrem com impactos do ronco no ES
Pesquisa aponta que 65% dos brasileiros estão dormindo mal. Entre os motivos está o ronco, que afeta 40% da população adulta
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Ter uma alimentação saudável, praticar atividade física e dormir bem. Esses são alguns dos pilares da vida saudável. Só que 65% dos brasileiros estão dormido mal, aponta pesquisa publicada na revista Sleep Epidemiology (Epidemiologia do Sono).
Entre os problemas que atrapalham o sono está o ronco. No Brasil, 40% da população adulta ronca, estima a Associação Brasileira do Sono.
Considerando que, segundo o Censo 2022 do IBGE, o Espírito Santo tem 2.280.730 pessoas com 30 anos ou mais, a estimativa é que cerca de 912.292 pessoas ronquem.
A pneumologista Roberta Couto, especialista em Medicina do Sono, explica que o ronco é um sinal de que a via aérea está ficando estreita. “Ele é um barulho que se apresenta quando o ar passa por uma via aérea mais estreita. Já a apneia é um fechamento total da via aérea”.
Entre os fatores que podem levar ao estreitamento da via aérea, causando o ronco, segundo Roberta, estão: aumento de peso, amígdalas muito aumentadas, idade, mulheres na menopausa e situações que levam à flacidez dessa região. “Como ingestão de álcool, doenças neuromusculares e uso de medicações calmantes”.
O ronco pode ser eventual, segundo a pneumologista Jessica Polese, especialista em Medicina do Sono, por um nariz entupido, cansaço ou por ingestão de bebida alcoólica, por exemplo.
“Normalmente, é passageiro. Outras vezes, as pessoas podem roncar toda noite, mesmo que de forma leve. Duas a três vezes na semana, consideramos crônico”.
A psiquiatra Laís Fardim, médica do Sono, destaca que o importante é investigar, através da polissonografia, se há uma doença por trás da ocorrência do ronco, como a apneia obstrutiva do sono.
“Se existir, merece tratamento específico. Em caso da presença de ronco sem apneia (ronco primário), merece tratamento, caso esteja perturbando o bem-estar do paciente ou do parceiro de cama. Há aparelhos, manobras posicionais do corpo, além da perda de peso e fortalecimento das musculaturas das vias aéreas como alternativas para o tratamento do ronco”.
Aparelho para tratar apneia ainda causa desconfiança
O CPAP, aparelho que aplica uma pressão positiva contínua nas vias aéreas, usado para o tratamento da apneia obstrutiva do sono, ainda gera receio em certos pacientes, segundo especialistas.
O equipamento “empurra” o ar nas vias respiratórias, mantendo-as abertas, enquanto o paciente dorme, evitando que as vias aéreas colapsem e causem apneia.
Apesar dos benefícios, a aceitação leva tempo. Foi o que aconteceu com o servidor público, Leandro Maia Tovar, 40. Depois de adulto, ele começou a roncar de forma esporádica, até que o ronco se tornou recorrente, sendo identificada a apneia pelo exame de polissonografia.
Ele procurou ajuda médica, já que seu ronco estava atrapalhando o sono da esposa. “A solução seria usar o CPAP, mas, como tinha preconceito por causa da máscara e pelo equipamento ser caro, acabei não comprando”, afirmou.
“Conversei com um conhecido que usa o aparelho e tirei várias dúvidas sobre a adaptação. Comprei o meu em março e comecei a usar. O processo de adaptação foi um pouco longo, já que muda a forma de dormir. No geral, eu me sinto muito bem dormindo com ele, acordo um pouco mais disposto e sinto que tenho um sono menos fragmentado”, observou.
Saiba mais*
Ronco
Roncar é o som gerado pela vibração dos tecidos durante a passagem do ar, e costuma ser o primeiro sinal de que o ar está passando com dificuldade pela garganta devido ao estreitamento da área.
Para saber se o ronco é passageiro ou não, a monitorização pode ser feita por um parceiro de cama e por alguns aplicativos que documentam o ronco. Isso pode ajudar a entender se ele só ocorre em dias específicos, por exemplo, após consumo de álcool ou diariamente.
o álcool, por tornar a musculatura da via aérea mais relaxada, pode aumentar a ocorrência dos roncos.
Apneia obstrutiva do sono
À medida que o quadro de ronco vai se acentuando, a garganta fica cada vez mais estreita, podendo fechar completamente. Esse quadro de fechamento da garganta e bloqueio da passagem do ar é conhecido como apneia obstrutiva do sono (parada da respiração durante o sono).
No organismo, durante esses episódios de apneias, ocorre queda da oxigenação do sangue e, para retornar o padrão respiratório, ocorrem despertares curtos e frequentes durante o sono.
Devido aos diversos despertares, que por serem breves não são conscientes, ou seja, o indivíduo não lembra que despertou várias vezes na noite, o sono fica fragmentado e com baixa qualidade, explicam os especialistas.
Consequências
A fragmentação do sono irá gerar ao acordar a sensação de que o sono foi insuficiente e de má qualidade. A sonolência excessiva diurna é um dos principais sintomas da apneia obstrutiva do sono.
Outras consequências são: falta de atenção e memória, alterações de humor como queixas de depressão, ansiedade e irritabilidade; maior risco para acidentes devido à sonolência, risco para doenças como hipertensão, diabetes e obesidade.
Tratamento
O diagnóstico da apneia do sono é feito por um médico especialista em Medicina do Sono, que além de confirmar essas queixas de ronco, paradas respiratórias à noite e sonolência diurna em excesso, solicita um exame que registra durante a noite essas paradas respiratórias e outras atividades do organismo. Esse exame é chamado de polissonografia.
O tratamento envolve várias medidas associadas: controlar e diminuir o peso, tratar doenças de nariz e garganta, evitar privação de sono, evitar uso excessivo de bebidas alcoólica e tabagismo.
podem ser necessários ainda o uso de aparelhos sob máscara nasal (CPAP), uso de aparelhos intra-orais, cirurgias nasais, de garganta ou face; treinamento dos músculos da garganta com fonoterapia ou estimulação elétrica desses músculos.
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