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Cidades

Kyra Grace: “Toda mulher precisa aprender a se proteger”


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Imagem ilustrativa da imagem Kyra Grace: “Toda mulher precisa aprender a se proteger”
Kyra é a 1ª faixa preta mulher da família Gracie, que difundiu o jiu-jítsu |  Foto: Arquivo/at

Kyra Gracie, 35 anos, carrega no sobrenome o poderoso clã das artes marciais brasileiras, herdeira dos pais do jiu-jítsu. Mas nem isso, nem a faixa preta que conquistou na modalidade e os oito títulos de campeã mundial já a impediram de passar por situações comuns a uma mulher neste País: “Tentaram me dar gravata para dar beijo em festa”, conta.

Um episódio pequeno, mas que pode descambar na realidade feminina: abusos, agressões e perseguições. Por isso, lançou o curso “Defesa Pessoal para Mulheres”, onde ensina as alunas a se protegerem diante de situações de risco que possam surgir no dia a dia.

São 10 aulas, com cerca de 30 minutos cada, voltadas também para quem nunca viu um tatame na vida. Nesta entrevista, Kyra compartilha seus conhecimentos e avisa: “Toda mulher precisa aprender a se proteger”.

A TRIBUNA – Como surgiu a ideia de passar os conhecimentos dos tatames para a defesa das mulheres no dia a dia?

KYRA GRACIE – Minha família dá aulas de defesa pessoal há quase 100 anos. Tudo começou nas décadas de 20 e 30. Sou a primeira faixa preta mulher da família e vivi situações em que os homens, às vezes, não se preocupam.

Desde que me aposentei como atleta (em 2014), percebi que as mulheres estavam vulneráveis. Então, comecei a estudar as taxas de agressão contra a mulher. Como estavam crescendo, achei que era hora de fazer a minha parte (segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registra, a cada quatro minutos, pelo menos, um caso de agressão cometida por homens contra mulheres).

Como transformar o que você sabe da luta para um episódio cotidiano?

Eu montei o curso com uma policial civil faixa preta de jiu-jítsu e uma psicóloga. Em cima das agressões mais comuns, organizei as técnicas de jiu-jítsu para que elas saiam dessas situações e que não fiquem tão vulneráveis.

Dentro da percepção de defesa civil, os ensinamentos são feitos de mulheres para mulheres. Analiso os vídeos das agressões, vejo como as mulheres precisam reagir, e vejo muito do jiu-jítsu ali.

Como são as mais comuns?

Os homens seguram as mulheres pelos cabelos ou pelo pescoço, apertando bem. E aí mora o perigo: a mulher tem oito segundos até sair desse sufocamento. Caso contrário, ela cai no chão e o homem continua estrangulando ou busca um estupro.

Mas você aconselha que toda mulher aprenda algumas práticas de luta?

A mulher precisa aprender a se defender e é possível para qualquer biotipo.

O que fazer num caso de assédio, por exemplo?

Precisamos evitar as situações de risco. O mais importante é a antecipação. Eu também ensino como ir para o enfrentamento, mas é preciso analisar o ambiente, ter uma postura verbal, falar de maneira correta. A ideia é sair da situação sem agressão. Se não der certo, tem táticas físicas mais contundentes. O que eu sempre falo é: se você saiu ilesa, você ganhou. Não estamos aqui para medir força com ninguém.

O que não fazer?

Existe o triângulo da violência: numa ponta, o agressor. Na outra, a vítima. E na terceira, a oportunidade para a agressão. Não podemos dar a oportunidade. Por isso, ao andar na rua, voltando do trabalho, da academia, indo para o ponto de ônibus, não podemos estar desatentas, olhando para o celular. Olhe com frequência para trás, dando a ideia de que está ligada e percebendo tudo.

E se for abordada?

O nosso corpo fala. Temos de agir com postura, olhar nos olhos, temos de passar para o agressor a imagem de segurança. Mas é preciso entender que mensagem é essa: o tom de voz não pode ser soberbo. Tem de mostrar firmeza e autoridade, mas sem falar coisas que possam despertar ainda mais o agressor.

Pense assim: se eu disser isso, ele ficará irritado? Sugestão: diga que tem câmeras de segurança na rua, que seu marido ou namorado está chegando a qualquer momento para te buscar.

Você já teve de colocar suas dicas em prática?

Eu fui uma menina adolescente no Rio de Janeiro. Nas festas, principalmente. Na hora do banheiro, formava uma fila de homens que iam puxando as meninas que passavam. Minhas amigas ficavam presas, mas eu não. Já tentaram me puxar pelo braço e beijar à força na famosa “gravata”.

A mulher que sai à noite está sempre num estado de alerta. E não precisa ser em festa: saindo sozinha do trabalho, no estacionamento.

O agressor pode estar em casa?

Pode. Costumam muito sacudir e jogar a mulher em cima da cama. Ou enforcar quando ela já estiver jogada. Há casos também em que os homens, em discussões, tentam tirar as mulheres do elevador à força. Por isso, o jiu-jítsu é uma opção: ele cria muita habilidade no chão, quando a mulher fica vulnerável. E, para além da agressão, é preciso identificar que relacionamentos abusivos são esses.

Como?

Uma vez, recebi uma mensagem em que a menina disse: “Meu namorado nunca me bateu. Ele só me sacode muito. Tenho um relacionamento abusivo?”. É lógico. Começa assim, antes de uma agressão física. São sinais: ele começa a gritar? Humilhar? Te tira do círculo social? Dos amigos? Da família?

Como se sente ao falar tudo isso, sendo mãe de duas meninas?

Fico triste vendo a situação das mulheres. Isso me motivou a criar o curso. Quero empoderar as mulheres. Elas precisam, devem se defender. Não podemos ficar vulneráveis, esperando a ajuda de alguém. Temos de ficar preparadas para essas situações.

Tenho duas filhas e espero que o mundo fique melhor quando elas crescerem. Paralelo a isso, os homens precisam se conscientizar. Uma vez, durante um curso, tinha um rapaz assistindo à mulher dele fazer o treinamento. Depois, ouvindo tudo isso, falou: “Kyra, sou agressivo sem perceber. Meu pai era assim com minha mãe. Então, caiu a ficha”.

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