Fila de espera para benzedeira a distância

Dona Maria da Conceição, em casa, com a Bíblia. “As pessoas reclamam da vida. Eu não. Faço de bom coração” |  Foto: Alessandro de Paula

Os últimos dias foram movimentados para a doméstica Maria da Conceição Depoli Spolador Sonsin, 70 anos, que ficou conhecida em todo o Estado após reportagem no jornal A Tribuna do dia 16 de agosto. (CLIQUE AQUI para ler)

Dona Maria Rezadeira, como é chamada, é benzedeira há 50 anos, mas, em função da pandemia do novo coronavírus, passou a atender a distância, pelo telefone.

“Estou recebendo telefonemas de todo o Estado. Toda hora o celular toca. Fora as mensagens que me enviam”, contou a doméstica, que já tem fila de espera a distância para as orações. Entre as pessoas que ligaram está um aposentado de 68 anos, morador de Vitória, que foi diagnosticado pelos médicos com colite, uma doença inflamatória no intestino.

“Sou católico, faço parte do grupo de casais da minha igreja e acredito que a fé remove montanhas”, afirmou o aposentado, que não quis se identificar. Também ligou uma mulher pedindo a Dona Maria que rezasse para sua mãe, que sofre com fortes dores de cabeça.

“Fiz oração para todos eles. Dia desses, me ligaram às 6h15. Eu ainda estava acordando. A mulher queria que eu rezasse pelo seu enteado, que está com problema no pé. Ficou de mandar uma carta com foto dele. Ainda não chegou, mas já rezei por ele”, comentou.

Católica, moradora do bairro Novo Parque, em Cachoeiro de Itapemirim, Dona Maria Rezadeira conta que não cobra pelas orações. Ela explica que orar pelas pessoas é um dom. Chegou a ver sua bisavó rezando, mas ninguém a ensinou.

“Se quiser pegar para orar, eu passo isso para você. Mas depois a minha reza não vale nada. Porém, não sei se alguém passou para mim”.

Dona Maria se aposentou, mas continua trabalhando. Toma conta de dois netos, ajuda a irmã a lavar roupa e ainda arruma tempo para rezar pelas pessoas. Normalmente, faz suas orações à noite, antes de dormir.

A maioria das pessoas procura Dona Maria por problemas de saúde. O aposentado Pedro Caetano, 75 anos, lembra que há muitos anos levou seu filho mais velho para rezar, pois estava com mal de simioto, nome popular para um quadro grave de desnutrição. A criança ficou curada.

Mas os motivos de oração são bem variados, como pedidos de emprego, casamento e mau-olhado.

Alguns pedidos de oração

Mal do simioto

• Na tradição popular, quando uma criança está com quadro avançado de desnutrição, logo se imagina que está com mingua ou mal do simioto.
• Entre as causas prováveis estão alergias a lactose, glúten e outros alimentos, parasitoses ou infecções.

Mau-olhado

• Também conhecido como olho gordo, é a crença de que a inveja de alguém transmita uma energia negativa que prejudique a realização de algum sonho ou cause doenças.
• O alvo do olho gordo pode sentir desânimo, cansaço e ter a impressão de que nada do que faça dá certo.

Espinhela caída

• Mal que provoca dor no peito, nas costas e pernas, além de forte cansaço.
• A espinhela é um osso flexível, na altura da boca do estômago, que pode envergar para dentro.