Estudo revela que uma a cada 5 crianças sofre com bruxismo
O “ranger dos dentes” está mais frequente, segundo especialistas. Adenoide, refluxo e até uso de telas estão entre as causas
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Ranger ou apertar os dentes de forma involuntária são sinais de quem sofre de bruxismo. E o problema, mais frequente durante o sono, também pode ocorrer na infância.
Estudo realizado na Universidade Ceuma, em São Luís, no Maranhão, com crianças com idade entre 7 e 10 anos, constatou a presença do bruxismo noturno em 19,7% delas, ou seja, uma a cada cinco tem o problema.
Ao todo, 247 crianças foram analisadas e entre as crianças com bruxismo, 17% relataram ter sono ruim, 44% dormiam até 9 horas por noite, 82,2% relataram sentir solonência diurna, 14,9% disseram ter dor de cabeça toda semana e 17,9% disseram sentir dor nos músculos da face ao acordar. Além disso, 42,3% das crianças tinham o hábito de roer as unhas.
A odontopediatra Emanuely Guedes, mais conhecida como Tia Manu, destacou que tem percebido mais crianças com bruxismo.

“Desde a pandemia tem sido crescente o número de pais que trazem os filhos preocupados com os 'barulhos' que a criança faz ao dormir”.
O problema tem muitas causas, conforme destacou a odontopediatra Beatriz Dutra.
“As principais são respiração pela boca de forma rotineira devido à obstrução do nariz, adenoide ou amídalas grandes, refluxo gastroesofágico, problemas psicológicos, uso de telas e até a ingestão de açúcar”.
Segundo a odontopediatra Mara Tavares, estudos mostram que mais de duas horas de telas recreativas por dia e mais de duas vezes de consumo de açúcar por dia aumentam o risco, entre três e oito vezes, de bruxismo do sono em crianças. “O que já víamos na prática clínica do consultório, agora está comprovado cientificamente”.
Dores no maxilar, dores no ouvido, dificuldade de abrir a boca pela manhã, sono muito interrompido, desgaste severo dos dentes e perda da dimensão vertical da oclusão (mordida) são sinais de atenção, de acordo com a odontopediatra Estefany Trigo Daroz.
“O diagnóstico do bruxismo é feito pelo odontopediatra, através de anamnese e exame clínico. Já o tratamento é indicado para casos graves, realizado através do uso de placas, acompanhando sempre o crescimento craniofacial da criança”.
Crianças ansiosas ou que estejam passando por situações emocionais delicadas também devem ser encaminhadas ao psicólogo, de acordo com a Tia Manu.
Indicação de placa dentária
Há dois anos a auxiliar financeira Emilly Alves Schultz, 28, descobriu que a filha Micaela Schultz Nascimento, 7, tem bruxismo, devido a quadros de ansiedade.
“Ela começou a tratar a ansiedade, o que ajudou a aliviar o bruxismo. Mas agora ela tem rangido tanto os dentes que o barulho é muito alto. Às vezes, eu ou o pai dela precisamos colocar o nosso dedo na boca dela para separar”.
“Agora o dentista indicou uma placa dentária para o tratamento”.
Hábito de “apertar dentes”
Ao contrário do que muitos pensam, o bruxismo não é uma condição que se manifesta apenas durante o sono, sem que a pessoa perceba. Ele pode ocorrer também com a pessoa acordada, tanto de dia quanto à noite.
Com a pandemia, o bruxismo de vigília, quando ocorre com a pessoa acordada, aumentou, de acordo com o especialista em dores na face, o dentista Ricardo Tanus.
“O bruxismo da vigília não tem a ver com padrões de sono, tem a ver com fatores emocionais, como medo e ansiedade. Isso tudo leva o bruxismo da vigília, um comportamento que a pessoa tem que pode ser ranger o dente, apertá-lo, apenas encostar ou até mesmo manter a musculatura da face tensa”.
O tratamento, segundo o especialista, é diferente do bruxismo do sono. “Para o tratamento do bruxismo da vigília, precisamos que o paciente se mantenha focado. É preciso mudanças comportamentais como exercícios de respiração, em que ele mantenha a musculatura da face relaxada”.
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