Dona Izaura fez 1ª viagem de avião aos 100 anos
Ao lado da filha, ela saiu de Vitória em direção a Rondônia para participar das bodas de ouro de um dos seus 10 filhos
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Por trás das lentes dos óculos pequenos, os olhos de Izaura Elias da Costa brilham ao avistar novamente a pista do Aeroporto de Vitória.
“É lindo aqui!”, sussurra a senhora que, aos 100 anos e 9 meses, encarou o desafio de uma vida: viajou de avião, pela primeira vez, rumo a Rondônia para a celebração das bodas de casamento de um dos seus 10 filhos, sendo sete vivos.
Ao lado da filha que herdou o mesmo nome, a cabeleireira Izaura das Graças Tamanini, 55, a senhora, hoje com 101 anos, recém-completados no último sábado (08) , recorda a viagem feita em julho, diz que não sentiu medo algum e revela que se sentaria de novo na poltrona do avião para repetir a aventura.
“Não imaginava viajar de avião. Fiquei muito alegre e satisfeita, graças a Deus”, responde entre um sorriso e outro, enquanto faz questão de reforçar que se lembra perfeitamente da viagem.
Mesmo nunca tendo subido em um avião, Izaura sempre gostou de se aventurar. “Até os 97 anos ela viajava sozinha”, contou a filha.
Entre os passeios, faziam parte do roteiro as viagens de trem ao interior do Estado, as visitas de ônibus a uma irmã, que morava em Aracruz, e as excursões para Aparecida do Norte, em São Paulo.
O convite especial para ir até Monte Negro, cidade rondonense localizada a cerca de 280 km da capital Porto Velho, foi feito pelo filho Manoel Tamanini, 69, que completaria 50 anos de casado com Valdete Ferrari, 66. Era uma forma de reencontro. Isso porque, há 20 anos, Dona Izaura viajou para Rondônia, só que de carro. A saga durou dois dias e duas noites.
Passadas duas décadas, em maio deste ano, Manoel pediu autorização de cada irmão para ter Izaura ao seu lado na cerimônia de suas bodas de ouro. “No início tive medo de deixar, mas vendo a animação dela, vejo que valeu a pena superar a preocupação”, lembra a filha.
“É uma história que vou contar para as minhas netas e guardar comigo enquanto eu estiver aqui”, confessou a cabeleireira.
A palavra final autorizando a viagem, no entanto, partiu do cardiologista da senhora. “Não há o que proibir nessa idade. O que tiver que acontecer não será por conta da viagem”, lembrou a filha das palavras do médico.
Percurso inteiro acordada
Do embarque em Vitória até a descida do carro em Rondônia, Dona Izaura encarou toda a viagem acordada. E o longo trajeto não causou desânimo. Ao contrário, valeu a pena diante da felicidade de passar 13 dias com os filhos, amigos e familiares que não via há tempos.
Com as malas prontas e acompanhada de três filhas e um genro, a senhora deixou o aeroporto capixaba às 17h30 do dia 11 de julho, fez uma conexão em Brasília, chegando em Porto Velho às 22h20. De lá, enfrentou mais três horas de carro para chegar na fazenda do filho, local da comemoração.
“Foi uma festa linda que meu filho deu. Gostei demais! Muita gente e muita comida. Comi umas duas vacas de uma vez”, brincou.
Quando questionada se ainda tem mais algum sonho a ser realizado, Izaura pergunta: “Sem ser viajar?”. Pensa um pouco e responde. “Eu ainda quero passear!”.
Se repetiria a viagem a bordo de um avião, a senhora sorri com um “sim”, como se a vida começasse agora.
Quem é ela
Trajetória:
- Sexta filha do casal de lavradores Maria Luiza e Romão Luiz, Izaura Elias da Costa nasceu em Limoeiro, Afonso Cláudio, no ano de 1921.
- Aos 13 anos, perdeu a mãe durante um parto. Desde então, ajudou o pai a criar os irmãos mais novos.
- Aos 24 anos, casou-se com Sabino Tamanini e se mudou para Itaguaçu. Juntos, tiveram 10 filhos, todos criados na roça, onde os pais trabalhavam como lavradores.
- Após 53 anos de união, Izaura ficou viúva. Seu Sabino faleceu em 1999, vítima de um enfisema pulmonar, mas deixou um legado de 40 netos, 68 bisnetos e 8 trinetos.
Vila Velha
- Com o falecimento do patriarca, os filhos optaram, em maio de 2000, por trazer Izaura para Vila Velha, onde ficaria sob os cuidados de outros três filhos, todos moradores da cidade canela-verde.
- No município, o clube da terceira idade foi uma das opções de lazer da qual desfrutou. Em 2003, ela foi consagrada Miss Terceira Idade. “Eu fui a Miss de Vila Velha. Tenho foto, tá tudinho guardado. Eu passeava muito e onde chegava era bem recebida”.
Saúde
- Além da disposição, a saúde de Dona Izaura também é invejável.
- Com mais de um século de vida, a idosa toma apenas três medicamentos: um para circulação, um para o coração e outro para a pressão arterial, todos devido à idade avançada.
- No entanto, não tem, nem nunca teve, nenhuma doença que a impossibilitasse de se aventurar. “Não gosto muito de (ir ao) médico, não”, confessa aos risos.
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