Casal constrói barco para dar a volta ao mundo
Fausto Pignaton e Guta Favarato acreditam que se trata do maior catamarã construído de forma caseira. Obra vai durar quatro anos
Escute essa reportagem

O quintal da casa de dois navegadores, na cidade de Anchieta, litoral Sul do Estado, deu espaço para a construção de um barco, que pode ser, segundo eles, o maior catamarã construído de forma caseira.
Todo o projeto e cada passo da construção é desenvolvido pelo próprio casal, o engenheiro eletricista e navegador Fausto Luiz Pignaton, de 68 anos, e a navegadora Guta Favarato, 40. Eles vão dar a volta ao mundo logo que a embarcação ficar pronta.
“Começamos em abril deste ano e acreditamos que tudo deve ficar pronto em quatro anos”, disse Fausto.
A embarcação de 19,35 metros de comprimento e 11 metros largura está sendo construída aos poucos e com muita precisão pelas mãos do casal, que trabalha sozinho.
“Acordamos 5 horas e começamos a organizar nosso dia de trabalho. A cola, a resina, dependendo da umidade, pode ficar diferente, por isso não é todo dia que seguimos o cronograma. Há dias que estamos mexendo na madeira, e outros organizando partes diferentes. Trabalhamos no projeto de segunda a segunda”, disse Fausto.
A ideia da construção de um catamarã maior é de Guta, que quer embarcar para mais uma aventura pelos sete mares. Os dois já construíram outros barcos, e foi com a experiência adquirida ao longo dos anos que decidiram fazer mais um, e dessa vez maior.
O interesse pelo mundo náutico partiu de Fausto, ao querer encontrar uma nova fase na vida.
“Fausto, aos 35 anos, decidiu mudar de vida. Ele viu um veleiro pela primeira vez, ficou apaixonado pelo veleiro e disse: 'É isso que eu quero fazer, e quero viver disso'”, revelou Guta.
Fausto afirmou que teve que aprender o ofício de construtor. “Para construir um barco a vela, eu precisei aprender a mexer com fibra. Aprendi e acabei mexendo com caiaque. Nosso caiaque foi bicampeão brasileiro de canoagem em ondas. Depois é que fui encontrar espaço para começar o projeto do veleiro”, lembrou.
Ele explicou de onde vem sua motivação: “Cursei engenharia elétrica na Ufes, fui pecuarista, cafeicultor, fui para a Amazônia, rodei o Brasil, e encontrei a vida náutica ao me interessar em construir um veleiro. Nunca quis comprar algo pronto, sempre quis fazer o meu”.
Trabalho diário em casa

A construção do barco catamarã começou pelo casco, que foi dividido em duas partes devido ao tamanho. Com o avanço dos trabalhos, as duas partes serão unidas ainda este ano.
“Os cascos são construídos de forma separada e serão conectados logo. Vamos finalizar o casco de uma maneira só. Estamos construindo um barco para fazer manutenção na praia, e não em marinas, por isso há algumas particularidades também”, explicou Fausto Luiz Pignaton.
O barco terá quatro suítes e até o acabamento será realizado pelo casal. “Executamos o trabalho de carpintaria, trabalho de fibra, revestimento, marcenaria e todo o acabamento. Ela faz acabamento, pinta, e faz toda essa finalização junto também. A parte mecânica eu faço”, explicou.
Fausto completa: “Ninguém mexe no nosso barco. Se colocarmos três pessoas para trabalhar, são três possibilidades de erro, por exemplo, e isso não pode. Por isso é difícil fazer a construção caseira. Nessa somos só eu e ela”.
Guta Favarato declara que todo seu trabalho se completa ao de Fausto, e que com muita união e parceria a embarcação vai ganhando forma. “Vivemos 24 horas juntos. Acordamos cedo, iniciamos nosso trabalho aqui. Saio para fazer o almoço, limpar a casa, e ele segue aqui. Depois voltamos juntos, e assim é nosso dia a dia nessa construção”, revelou ela.
Viagem vai durar 4 anos
A volta ao mundo está prevista para começar em 2025 e durar quatro anos. O trajeto ainda será organizado por Guta Favarato.
Ela e Fausto Luiz Pignaton já deram a volta ao mundo em 2012, e declaram que dessa vez será diferente. “A primeira volta ao mundo não é para curtir, é para aprender, agora é que vamos nos divertir melhor”, disse Fausto.
Para se organizar financeiramente, o casal vai atender navegadores que precisam de mais experiência e visitantes.
“Vamos trabalhar com noivados, casamentos. Há também muitas pessoas que fazem curso de vela em lugares abrigados, e essas pessoas precisam de experiência em alto-mar, de navegar à noite, e essas pessoas fazem um trajeto com a gente para angariar experiência”, explicou Guta.
Furacão
Fausto afirmou que tem experiência até mesmo com furacão. “Peguei cinco furacões no Caribe. Um furacão deu 165 nós, o que equivale a 370 km/h. Morreram mais de 300 pessoas, mil barcos afundaram e 800 ficaram. Eu fui um deles”, contou Fausto.
Durante a viagem, Fausto ressaltou que vai investir em causas sociais e destacou que o Brasil é o melhor lugar para viver.

Primeira viagem ao redor do planeta uniu os aventureiros
Após deixar de fabricar os caiaques e começar a construção de barcos, Fausto Luiz Pignaton fez seu primeiro veleiro. Navegou sozinho. Mas na segunda viagem longa que faria, da primeira volta ao mundo, conheceu Guta Favarato.
Nessa viagem, Fausto teve a ideia de divulgar o projeto nas faculdades do Estado, convidando universitários para a aventura.
“Um ano antes de seguir para uma volta ao mundo, divulguei nas universidades o convite para jovens que quisessem participar de uma volta ao mundo, que tivesse um projeto legal para ser realizado durante a viagem. Seriam seis pessoas, eu e o capitão na embarcação.”
A ideia era pedir patrocínio para custear a viagem, mas sem muito sucesso com investidores, os universitários desistiram.
“Como não tinha grana para custear, os jovens desistiram, mas a Guta não. Começamos a namorar. Demos a volta ao mundo de 2012 a 2016, e estamos juntos até hoje”, completou ele. Os dois estão junto há 18 anos.

Embarcação com energia solar e água reutilizável
Madeira reflorestada, energias renováveis, água reutilizável, esgoto tratado e dessalinizador fazem parte do projeto de construção sustentável da embarcação dos navegadores Fausto Pignaton e Guta Favarato.
“Apostamos em um projeto ecologicamente correto. Não estamos destruindo floresta para construção do barco. A madeira que estamos usando é um cedro australiano. O compensado é todo feito com madeira reflorestada. Não preciso derrubar uma árvore, mas estamos pagando uma empresa de reflorestamento para plantar 90 árvores”, contou Fausto.
Ele informou ainda que vai usar painel solares para geração de energia.“Poderemos cozinhar com micro-ondas na parte da tarde, à noite lavar roupa com a água da chuva. Queremos ter um sistema autossustentável”, completou Fausto Pignaton.
Comentários