Avanço do mar provoca destruição em Manguinhos, na Serra
Erosão ameaça construções na orla da Serra e tem deixado moradores preocupados. Projeto prevê o aumento da faixa de areia
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O avanço do mar na orla de Manguinhos, na Serra, tem causado preocupação para moradores e comerciantes do balneário. Em algumas ocasiões, a força das ondas já foi capaz de destruir calçadas e ameaçar as construções. Na semana passada, o carro de um morador quase foi “engolido” pela erosão.
Segundo o aposentado Marco Sena, 65 anos, esse processo acontece há várias décadas. Nos últimos anos, porém, com os ventos mais fortes e as chuvas mais concentradas, a frequência aumentou.
“Existiam muitos quiosques e estacionamentos na orla. Alguma medida definitiva precisa ser tomada. Até agora, só ações paliativas foram apresentadas pela prefeitura da Serra”, afirmou.
A professora do Departamento de Oceanografia e Ecologia da Ufes, Jacqueline Albino, explica que o problema acontece por conta de alguns fatores.
“A erosão é natural, porém ocorre com mais força em alguns pontos. Manguinhos, por exemplo, possui recifes rochosos. Esse detalhe faz com que, durante a maré alta, o mar avance ainda mais, pois o volume de água se torna ainda maior”.
Soluções
Segundo Jacqueline, uma boa forma de resolver o problema seria optar pelo retorno da restinga. “Replantar a restinga por toda a orla ajudaria bastante. É um meio inteligente e sustentável de resolver o problema, bem como realizar o engordamento da faixa de areia”.
De acordo com o secretário de Obras da Serra, Halpher Luiggi, um novo projeto já foi elaborado para que o engordamento da faixa de areia seja realizado.
“A expectativa é que a largura da faixa passe a ter 15 metros. O morador terá mais conforto e segurança. O processo de licitação deve acontecer em setembro e a ordem de serviço, para o início das obras, ocorrerá provavelmente em novembro”, contou.
Ainda segundo o secretário, a licença ambiental também foi realizada. O documento prevê que a mesma areia seja retirada de outros pontos da praia e depositada nos trechos que estão sofrendo com erosão. Também será feito plantio de nova restinga.
Construções

O aposentado Marco Sena, 65, é morador antigo de Manguinhos. Segundo ele, o que acontece na região é a soma de vários fatores.
“A falta de preservação da restinga e a construção de edifícios em lugares errados parecem ser os principais erros”, opinou.
Além disso, Sena conta que o ideal é que um projeto definitivo seja realizado pela prefeitura.
Restinga

Adalto Oliveira Leite, 62, é garçom de um dos vários restaurantes que existem na orla de Manguinhos. É acostumado a ver o movimento das marés todos os dias e diz que a erosão que ocorre na região poderia ter sido evitada.
De acordo com ele, caso a restinga estivesse no lugar original, esse problema provavelmente não estaria acontecendo.
“É preciso preservar a natureza. As pessoas deveriam entender isso. Penso que não deveria existir casas tão perto da água”, afirmou.
Análise
“A erosão chega a ser um fenômeno natural. É comum que a linha de costa, área próxima à água, sofra alterações em função de ondas, ventos e chuvas. Nos últimos anos, porém, estamos observando ventos mais fortes, chuvas mais concentradas e a frequência desses fatores aumentou.
Outra questão é a ação dos seres humanos, que ocuparam áreas da região. Muitas construções foram erguidas junto à orla, nos locais que deveriam existir restinga.
Em várias ocasiões, a restinga acabou sendo retirada e casas ou mesmo comércios foram erguidos no local.
Tudo isso faz com que a erosão aconteça com mais frequência e seja ainda mais potente. É importante explicar que a restinga serve como barreira natural para que as ondas percam energia e não consigam invadir o calçadão ou mesmo a rua. Sem essas plantas, não existe nada para deter as ondas.
Na geologia, estudamos que o papel desse tipo de planta é a proteção da orla”
Jacqueline Albino, Professora de Oceanografia e Ecologia da Ufes
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