Alerta para infecções graves com uso de "botox pirata"
Médicos apontam riscos na utilização de produto que já é proibido no País pela Anvisa desde junho do ano passado
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Com a promessa de ser uma toxina botulínica e auxiliar no tratamento de rugas, o “botox pirata” da marca Israderm, que ganhou repercussão nacional nesta semana, tem risco de provocar infecções, inclusive graves, de acordo com médicos.
Isso porque ainda não se sabe a sua composição – nem se, de fato, ele contém toxina botulínica – e há relatos de pessoas que sofreram infecções e até necrose da pele após a aplicação do produto.
Ele está proibido no País pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O órgão informou que “produtos nessa condição não devem ser consumidos em nenhuma hipótese, pois podem causar sérios danos à saúde do usuário”.
O produto ganhou repercussão após a divulgação em um programa de televisão nacional do caso de uma cirurgiã-dentista ter sido presa no Rio Grande do Sul, porque estaria fazendo aplicação dele.
Segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional Espírito Santo (SDB-ES), Karina Demoner de Abreu Sarmenghi, essa situação é reflexo do crescimento da oferta de procedimentos estéticos por profissionais não habilitados a realizá-los.

“Nesse caso, observamos desde lesões de pele com necrose a pontos de infecções. Pontos infectados podem evoluir para complicações mais graves, como a sepse”, alertou a médica.
Professora do Departamento de Medicina Especializada da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a cirurgiã plástica Patricia Henriques Lyra Frasson cita que o risco de infecção existe porque não se sabe como o produto foi fabricado e nem quais substâncias contém.
“Se a infecção não for cuidada de forma adequada, o tecido envolvido na infecção pode acabar evoluindo com a isquemia local, porque vai gerar pus, edema no local, e pode abrir ferida”, explicou.
A dermatologista Hannah Cade frisou que as infecções podem se tornar graves, com risco de se generalizar e impactar outros órgãos. “O mais importante é não ser só uma busca pelo preço, mas também pela procedência do produto”, disse.
Israderm é o mesmo de uma empresa que fabrica produtos dermatológicos em Israel. Mas a companhia informou que não conta com representantes no Brasil ou na América Latina.
SAIBA MAIS
Entenda
- No último domingo (13), foi divulgado o caso de uma cirurgiã-dentista que foi presa em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, porque estaria aplicando uma suposta toxina botulínica, proibida no Brasil, em clientes. A informação foi repassada em um programa de televisão nacional.
- O produto, da marca Israderm, está proibido no País pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde junho do ano passado.
- A proibição ocorre porque não se sabe quais substâncias ele contém e nem a procedência do produto.
- O frasco diz apenas que é fabricado em Israel. Mas, segundo investigação do programa, a informação faz parte de uma fraude e ainda não se sabe a verdadeira origem dele. No Paraguai, a venda do item é liberada.
- No Brasil, há registros de infecções por esse produto. Em dezembro, o dono de uma clínica de procedimentos estéticos em São Paulo fez um alerta na internet contra o Israderm.
- Também houve casos de infecções após a ação do produto relatados por um cirurgião plástico de Foz do Iguaçu, no Paraná. Ele contou que já viu, inclusive, necroses de perdas do nariz e outras áreas da face devido a esse tipo de complicação.
- No Estado, ainda não se tem conhecimento do uso do Israderm, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional Espírito Santo.
Toxina botulínica
- É uma substância originada de uma bactéria utilizada para prevenir ou amenizar rugas e linhas de expressão dinâmicas – aquelas que aparecem ao fazer expressões, como sorrir – em regiões da face.
Como fazer um tratamento seguro
- Segundo os especialistas, o primeiro passo para fazer um tratamento com toxina botulínica de forma segura é procurar por um profissional habilitado para a aplicação.
- Também é importante verificar se o ambiente de realização do tratamento é devidamente higienizado.
- Outro ponto essencial é procurar saber qual é o produto e a procedência. É direito do consumidor ser informado pelo profissional sobre o tratamento que realizará.
- Depois de saber o nome do produto, uma dica é consultar o site da Anvisa e verificar se o item está registrado.
- A consulta pode ser realizada por meio do link: consultas.anvisa.gov.br/#/cosmeticos/registrados/, pelo nome do item ou pelo número do registro.
Fonte: Pesquisa AT e especialistas consultados pela reportagem.
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