Vagão-restaurante e espaço para eventos: como será o novo trem turístico que passa por Rio e Minas

Estações ferroviárias centenárias, montanhas, rios e cachoeiras estão na rota de um trem turístico que vai ligar as cidades de Três Rios e Sapucaia, no Rio de Janeiro, na divisa com Minas Gerais. O trem deve começar a circular até o final de junho deste ano. O trajeto inicial será de 36 quilômetros, passando também pela cidade mineira de Chiador. O objetivo é incentivar o turismo em uma região conhecida pela riqueza de seu patrimônio histórico e natural.

O contrato para a operação da linha férrea foi assinado em 11 de dezembro, no Ministério dos Transportes, em Brasília. A iniciativa é da empresa de logística VLI, que opera ferrovias, portos e terminais, e da Oscip Movimento Nacional Amigos do Trem, que ficará responsável pela operação e administração da rota turística. A parceria é acompanhada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Inicialmente o projeto será direcionado aos turistas e também tem o objetivo de valorizar as belezas da região, afirma Cyntia Nascimento, presidente da Amigos do Trem. “Além de promover a valorização cultural e histórica da ferrovia, o projeto tem grande potencial de impacto positivo no turismo e na economia dos municípios envolvidos”, diz.

Para tornar o projeto possível, a VLI cedeu à Oscip quatro locomotivas e uma oficina ferroviária localizada em Recreio (MG), além de pátios e linhas de manobras. Também recuperou a via permanente do trecho, que faz parte da malha da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), com a substituição de 5 mil dormentes e outros serviços, investindo cerca de R$ 40 milhões – o valor não inclui as locomotivas.

Já os vagões que serão usados na nova rota fazem parte do acervo da Amigos do Trem e, até o início de abril, serão transportados pela VLI à cidade de Três Rios para a formação das composições. Segundo Cyntia, o modelo básico de composição previsto para o Trem Rio-Minas inclui 4 locomotivas e até quinze carros de passageiros, dependendo da demanda de cada operação.

A exemplo dos antigos trens de passageiros, o trem turístico terá vagão-restaurante, cozinha e local para eventos, tudo com acessibilidade. Inicialmente o trem terá capacidade para atender aproximadamente mil passageiros por viagem, com possibilidade de expansão conforme o crescimento do interesse turístico. “A previsão de demanda é otimista, considerando o potencial turístico da região e o interesse já demonstrado pelas comunidades locais e visitantes de outros estados”, diz a presidente da Oscip.

Em Chiador, cidade de apenas 2,8 mil habitantes, o trem vai parar na estação do distrito de Penha Longa, que também é histórica, datada de 1887. A estação principal, na cidade, está em restauro e é considerada uma relíquia: foi a primeira estação ferroviária de Minas, inaugurada um ano antes da abertura da linha da Central do Brasil. A cidade, banhada pelo Rio Paraíba, é bucólica e acolhedora, com suas fazendas históricas, prainhas no Lago de Furnas e trilhas.

Na chegada a Sapucaia, de novo no Rio, os turistas podem se surpreender com a beleza da estação, inaugurada em 1871 pela antiga Estrada de Ferro D. Pedro II, com a presença do imperador. A cidade de 17,7 mil habitantes, cercada de montanhas, tem balneário, ao lado da cachoeira Três Quedas, e estrutura de lazer, incluindo piscinas, tirolesa e trilhas.

País tem linhas turísticas em sete Estados

Segundo a Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais, 19 empresas associadas mantêm linhas turísticas em sete Estado: Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. Juntos, os trens transportam mais de 3 milhões de passageiros por ano.

A maioria das linhas turísticas é mantida pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF). É o caso do Trem da Mantiqueira, que liga a cidade mineira de Passa Quatro à entrada do Túnel da Mantiqueira, na divisa com São Paulo, que se tornou marco da Revolução de 32. Uma extensão da linha está sendo reformada até a cidade paulista de Cruzeiro, com passagem do trem pelo túnel de 1 km de extensão.

O mais famoso e antigo trem turístico brasileiro, o Trem do Corcovado, no Rio, foi inaugurado em outubro de 1884 pelo imperador D. Pedro II. A linha começa no bairro do Cosme Velho e segue até o cume do morro do Corcovado, a uma altura de 710 m, onde fica a estátua do Cristo Redentor.

A linha de trem exclusiva para turismo mais longa do Brasil é a da Serra Verde, ligando Curitiba a Morretes, no Paraná, com percurso de 70 km.

Muitas linhas turísticas ainda operam com locomotiva a vapor tipo ‘maria-fumaça’, como a Campinas-Jaguariúna, no interior de São Paulo, o Trem da Serra do Mar, em Negrinhos (SC) e o Trem do Vinho, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Em Pernambuco, o Trem do Forró liga a capital, Recife, ao Cabo de Santo Agostinho.