Por que cardeal condenado quer desafiar ordem do papa Francisco e votar no conclave? Entenda
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O cardeal italiano Angelo Becciu, ex-número 3 na hierarquia do Vaticano, causou polêmica nesta terça-feira, 22, ao afirmar que pretende participar do conclave mesmo aparecendo como “não eleitor” na lista divulgada oficialmente, com 135 nomes que poderão escolher o novo pontífice. Historicamente, após declarada a Sé Vacante, o rito tem de 15 a 20 dias para ser iniciado.
“Estarei lá”, disse Becciu, de 76 anos, ao jornal italiano L’Unione Sarda, da Sardenha, sua terra natal. O cardeal até está dentro da idade limite para participar (80 anos), mas há outro porém: no fim de 2023, Becciu foi condenado, em primeira instância, a cinco anos e meio de prisão por fraude financeira, após julgamento histórico relacionado a operações da Santa Sé. Ele responde em liberdade.
Becciu agora alega que o papa não o “expulsou” do conclave. “O papa reconheceu minhas prerrogativas como cardeal intactas, pois não houve nenhum desejo explícito de me expulsar do conclave, nem pedido de minha renúncia explícita por escrito. A lista publicada pela assessoria de imprensa não tem valor jurídico e deve ser considerada como tal”, afirmou o cardeal ao L’Unione Sarda.
O cardeal declarou ainda que, ao saber da morte do papa nesta segunda-feira, 21, ficou “impressionado, profundamente chocado com a notícia que chegou tão repentinamente”. Afirmou também que “foram anos de estreita colaboração”, “de compartilhamento de escolhas e visões eclesiais, mas também de discussões honestas, sempre vividas na aceitação de suas decisões”.
“Não posso esconder o fato de que a súbita mudança em seu julgamento em relação a mim, com as consequências conhecidas que dela resultaram, causou-me imensa dor, que tentei aceitar como um teste do Senhor. Sinto-me consolado por ter mantido, apesar de tudo, o relacionamento adequado para alguém que, ao receber o cardinalato, jurou dar a vida pelo papa”, completou.
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Durante sete anos, Becciu foi muito próximo do papa. Era o substituto do secretário de Estado do Vaticano, uma espécie de chefia de gabinete – dessa forma, seria o terceiro na hierarquia. Foi também o próprio Francisco que o nomeou cardeal em 2018 e depois o colocou no cargo de prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, responsável pelos processos de canonização.
Além de ser condenado a quatro anos de prisão, o cardeal também foi multado em € 8 mil. Becciu sempre alegou inocência e garantiu que “nunca roubou um centavo”. Também disse ter sido vítima de um “linchamento midiático”. Outras nove pessoas foram julgadas na época. “Respeitamos o veredito, mas certamente entraremos com recurso”, declarou, na época, o advogado do réu, Fabio Vignone.
Na Igreja, ele exerceu atividades nas Representações Pontifícias do Sudão, Nova Zelândia, Libéria, Reino Unido, França e Estados Unidos. Em 2011, foi Bento XVI quem o nomeou para substituto da secretaria de Estado. Uma de suas funções na Cúria era de falar com frequência em nome do Vaticano sobre notícias que o papa preferisse não se envolver. Becciu também foi o responsável pelos procedimentos do conclave após a renúncia do papa, em 2013, que escolheu Francisco.
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