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Brasil

Pichadora de estátua no 8/1 escreve carta com desculpas a Moraes

STF avalia a obra entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões -é uma das principais do artista mineiro Alfredo Ceschiatti


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Imagem ilustrativa da imagem Pichadora de estátua no 8/1 escreve carta com desculpas a Moraes
Estátua "A Justiça" é avaliada entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões pelo STF |  Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Presa três meses após os ataques que depredaram as sedes dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023, a mulher que pichou a estátua "A Justiça", em frente ao STF (Supremo Tribunal Federal), chegou a fazer uma solicitação de próprio punho pedindo desculpas ao ministro Alexandre de Moraes.

Fotos registradas pela Folha durante a destruição, há dois anos, identificaram a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, 39. O STF avalia a obra entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões -é uma das principais do artista mineiro Alfredo Ceschiatti.

Em novembro passado, o nome dela voltou a aparecer em outro evento relacionado a um ataque antidemocrático. A polícia encontrou um recado que mencionava Débora na casa alugada por Francisco Wanderley Luiz, o Tiu França, que morreu ao cometer um atentado a bomba ao lado da estátua da Justiça.

Não há, no entanto, qualquer indício de relação entre os dois.

Ré, mas ainda sem julgamento que a condene ou absolva, a cabeleireira afirmou na carta que desconhecia a simbologia da estátua e seu valor material, além de ter pedido desculpas pela ignorância.

Na missiva, também afirmou que agora compreende o significado simbólico e histórico do monumento para o país e para a Justiça. A cabeleireira argumentou ainda que hoje sabe que a estátua tem um nome, o que ela disse desconhecer antes.

Até agora o apelo não resultou em uma decisão a seu favor --assim como outros pedidos feitos pelos seus advogados.

A estátua foi pichada com batom, e lavada nos dias seguintes aos ataques que ocorreram na praça dos Três Poderes.

Débora é casada, tem dois filhos, de 6 e 11 anos, e residência em Paulínia, no interior de São Paulo. Atualmente, ela está detida no Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro, a uma hora de distância.

Para pedir sua liberdade, os advogados têm mencionado a vulnerabilidade afetiva e emocional das crianças, a ausência de antecedentes criminais de Débora e também a falta de risco de que ela reincida em crimes. Também afirmam que ela tem residência fixa e família estável.

Em um dos pedidos feitos ao STF, a defesa argumentou que ela não é filiada a partido político, não "é um dos ativistas chamados de bolsonaristas" e não teria ingressado em nenhum dos edifícios depredados, ficando apenas "perto da estátua da Justiça, onde teve a ideia de pichar a estátua da justiça com batom vermelho, e não teve a intenção de danificar [o monumento]".

A frase pichada na escultura foi uma referência à resposta do ministro do STF Luís Roberto Barroso a um apoiador de Bolsonaro, em novembro de 2022. "Perdeu, mané. Não amola!", disse o ministro ao homem que o abordara em Nova York.

A defesa da cabeleireira é feita pelos advogados Tanieli Telles Padoan e Hélio Júnior, que também acompanham a situação de outros presos no 8 de janeiro.

Débora se tornou ré pelo 8 de janeiro em agosto do ano passado, sob acusação da Procuradoria-Geral da República pela prática dos crimes de associação criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e dano qualificado por violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União.

O último julgamento relacionado ao caso aconteceu em setembro, e os ministros da Primeira Turma do STF (além de Moraes, Flávio Dino, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin e Luiz Fux) rejeitaram o pedido de Débora.

Moraes afirmou em seu voto que apesar de ela ser mãe de duas crianças, a gravidade concreta dos fatos imputados à investigada "constitui situação excepcional a obstar a substituição da prisão preventiva pela domiciliar".

A técnica de enfermagem Cláudia Rodrigues Leal, irmã de Débora, criticou à Folha a situação imposta a ela.

"Em 17 de março fará dois anos que a Débora foi presa, e a sensação que nós temos é que ela foi esquecida lá [na prisão]. Trancafiaram lá dentro, esqueceram a chave e esqueceram dela", diz Cláudia.

"Tudo o que é pedido pelos advogados é negado por parte do ministro Alexandre de Moraes".

Ela diz que a família está indignada com a afirmação de que Débora causaria risco à sociedade. "Eu falo como pessoa, não como irmã. Ela é cristã, é mãe, sempre trabalhou, tem residência fixa, ré primária, nunca cometeu nenhum tipo de crime nem nada errado. Ser vista como risco à sociedade por ter escrito em uma estátua com batom... que risco é esse que ela causa à sociedade?", questiona a irmã.

Cláudia relata que, na prisão, a irmã dorme em uma cela ocupada por 13 pessoas. Atualmente faz trabalhos internos com montagem de semijoias, mas já trabalhou também na cozinha. Aos sábados, frequenta o culto.

A irmã afirma que as crianças não têm dimensão de tudo o que está acontecendo, mas que é difícil especialmente em datas comemorativas, como o Natal e o Ano-Novo.

O nome de Débora voltou à tona algumas vezes no último ano. No meio do ano, parlamentares aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como Bia Kicis (PL-DF) divulgaram vídeos pedindo que ela fosse libertada.

O recado que o autor do atentado a bomba deixou na casa em que viveu os últimos dias também foi escrito de batom. No espelho do banheiro da casa de Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal, o nome Débora Rodrigues estava escrito em vermelho.

Mais abaixo, aparecia o seguinte texto: "Por favor, não desperdice batom! Isso é para deixar as mulheres bonitas. Estátua de merda se usa TNT".

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