Sócio real
Precisou esperar o final da era Eurico Miranda para que o Vasco pudesse resolver as rusgas que o afastavam de seu admirador mais ilustre: Pelé.
O “Rei do Futebol”, figura maior do esporte mundial, não se permitia à aproximação com o clube de sua infância por causa dos embates políticos com o cartola vascaíno. Eurico, todo poderoso vice de futebol e com mandato de deputado federal em vigor, era crítico voraz do ministro de esportes Edson Arantes do Nascimento, autor da Lei que mudou a relação dos clubes com os jogadores.
Bem a seu estilo, o dirigente questionava o conflito de interesses de Pelé por sua participação na “Pelé Sports & Marketing”. E, nesta batalha, aliou-se ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira, antigo desafeto do “Rei”, capitaneando a chamada “bancada da bola”, em Brasília.
Ataques
Os ataques pessoais fizeram com que Pelé anunciasse publicamente apoio à candidatura de Jorge Salgado à presidência do clube, às vésperas do pleito, em 1997.
A vitória da chapa Antônio Soares Calçada/Eurico Miranda e em seguida a conquista do título do Brasileiro implodiram de vez a relação entre Vasco e Pelé.
Relação ainda mais explosiva depois que Hélio Vianna, presidente da Pelé Sports, assinou contrato de parceria com o Flamengo, intermediando contrato de patrocínios milionário com a gigante ISL.
Polido, Pelé nunca expôs detalhes da mágoa que carregou durante anos, mas driblou as pálidas tentativas de reaproximação dos vascaínos com a maestria de sempre. Com um detalhe: sem nunca negar a ligação afetiva com o Vasco, sua primeira paixão, antes de ser adotado pelo Santos, aos 13 anos.
Vasco, aliás, que ele chegou a defender, aos 16, vestindo a cruz de malta num torneio amistoso disputado pelo combinado Vasco/Santos.
O marco dos 80 anos de Pelé, festejados em outubro, e o final da era Eurico Miranda facilitaram essa reaproximação histórica, viabilizada por Pepito — eterno parceiro do “Rei”.
A ideia inicial era recebê-lo em São Januário para homenagem em solenidade no Salão de Troféus. Em um primeiro momento, o estado de saúde de Pelé impossibilitou o encontro.
Depois, com as restrições impostas pela pandemia da Covid-19, o acordo de paz acabou eternizado na concessão de título de sócio honorário, com direito à carta oficial e recortes retratando a história do “Rei” com seu clube do coração.
Ontem, no Guarujá, o “Rei” recebeu a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Sua majestade fez questão de postar a foto em suas redes sociais, pedindo a todos que sigam disciplinados na prevenção à doença. Amém, Pelé. Amém.