Após depressão, médica ajuda a vencer doença

Pâmela Nonato decide se especializar em Neurologia e Psiquiatria e alerta sobre estigmas e preconceitos que persistem na sociedade

Roberta Bourguignon, do jornal A Tribuna | 15/03/2024, 05:00 05:00 h | Atualizado em 13/03/2024, 16:16

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/170000/372x236/Apos-depressao-medica-ajuda-a-vencer-doenca0017157300202403131616/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F170000%2FApos-depressao-medica-ajuda-a-vencer-doenca0017157300202403131616.jpg%3Fxid%3D754849&xid=754849 600w, Pâmela Nonato disse que a mulher em depressão precisa de muito apoio

Cuidar da saúde mental foi visto por muitos como algo banal e nos últimos anos até ganhou um apelido: “mimimi”. Foi após superar a depressão, que a médica Pâmela Nonato decidiu se especializar em Neurologia e Psiquiatria, para ajudar outras mulheres a vencer a doença.

Pâmela destaca que sempre houve certo preconceito com os assuntos relacionados à saúde mental. Fazer tratamento com psicólogo ou psiquiatra, por exemplo, era visto como “coisa pra maluco”. “Quem nunca ouviu isso?”, questiona a especialista.

Pâmela conhece bem esses estigmas. Após passar por uma batalha contra a depressão, ela encontrou sua vocação: ajudar outras mulheres a enfrentarem seus próprios desafios de saúde mental.

“Quando fui vítima da doença, percebi o quão vital é cuidar da nossa saúde mental. Essa experiência foi minha motivação para me especializar em Psiquiatria e dedicar minha carreira a ajudar outras pessoas a superarem seus próprios obstáculos. A cada paciente, é como se eu fosse capaz de me colocar no lugar deles”, diz.

No caso das mulheres, quando são diagnosticadas com a doença, chegam a julgar como frescura.

“Nós, mulheres, estamos naturalmente habituadas a sermos fortes. Não preciso relembrar aqui todos os papéis que a sociedade nos impõem, porque se você é mulher, sabe de tudo que estou falando”, destaca Pâmela.

“Em discurso motivacional, escutamos: 'Você consegue, você é forte, acredite em você', mas esquecem de te falar é que: 'Tudo bem não segurar a barra sozinha, e tudo bem procurar ajuda'. Nós não somos máquinas e nem super-heroínas o tempo todo”, completa.

Com toda a evolução da tecnologia e da sociedade, a informação sobre saúde mental tem atingido mais pessoas e quebrado pouco a pouco as objeções sobre o assunto. Mesmo assim, algumas pessoas permanecem sendo vistas com preconceito e de forma marginalizada.

Para Pâmela Nonato, é crucial quebrar esses estigmas e incentivar o autocuidado.

“Não acredite que é 'mimimi'. Cuide de você, da sua saúde mental, e incentive que os outros cuidem também. É uma jornada desafiadora, mas com o apoio adequado e a compreensão de que não estamos sozinhos, podemos superar qualquer obstáculo. Passar por isso sozinha não é uma opção saudável”, avaliou.

“É preciso acreditar em uma saída”

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A aposentada Izabel Faria, de 63 anos, acordou de uma depressão profunda e agora quer ajudar outras pessoas, vítimas da doença. Ela explica que, mesmo no fundo do poço, as pessoas não podem desistir, e é preciso acreditar na saída.

“Primeiro, eu não acreditava que tinha depressão. Porque eu não via motivos para isso. Acreditava que era outra doença, que eu precisava descobrir. E só quando eu saí dela, é que fui entender que se tratava de uma depressão”, relata Izabel, dizendo que não houve um motivo para desencadear a doença.

“A depressão começou com uma tristeza, que foi aumentando com o passar do tempo. Não tinha vontade de comer, de beber nem água, e nada fazia sentido pra mim. Eu não queria fazer nada. Não tinha vontade de conversar com ninguém. Perdi roupas, calçados, e cheguei a pesar 49 quilos”, conta a aposentada, que sofreu também com os seus familiares.

“Abandonei meu filho na hora que ele mais precisava. Encontrava meu outro filho e meu marido chorando porque eu estava daquele jeito. Abandonei toda minha família. Foram dois anos e cinco meses assim. Só pensava em morrer”, disse Izabel, destacando que contou com ajuda de médicos e remédios receitados por especialistas para dar se reerguer.

“Minha família é maravilhosa, a família do meu marido, nossos amigos, as pessoas da igreja, eu só tenho a agradecer. Parece o fundo do poço, mas é preciso acreditar numa saída. Acredite que esse é um deserto, e que tudo vai passar. A depressão ainda é muito desconhecida. As pessoas acham que é fácil de resolver, mas não é tão simples”, conta Izabel, que admite ser muito religiosa

“A mensagem que fica é: procure um médico, não ache que é frescura, e acredite na sua força para se recuperar. Tenha fé na sua recuperação”, aconselha.

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