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Política

Governo Bolsonaro prepara telejornal só de 'boas notícias' em TV pública


Imagem ilustrativa da imagem Governo Bolsonaro prepara telejornal só de 'boas notícias' em TV pública
Governo Bolsonaro prepara telejornal só de 'boas notícias' em TV pública |  Foto: Edu Andrade / Agência Estado

A TV Brasil, canal público de televisão ligado ao Ministério das Comunicações, planeja incluir na sua grade de programação um telejornal que irá exibir apenas "boas notícias". No momento em que o País se aproxima da marca de 500 mil mortes por covid-19, a ideia será levar ao ar apenas fatos considerados "leves" sobre temas como saúde, comportamento e entretenimento.

A atração tem sido negociada diretamente pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, com a diretora de jornalismo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), estatal responsável pela TV, Sirlei Batista. Ainda não há data para estreia.

O presidente Jair Bolsonaro e seus auxiliares são críticos da cobertura da imprensa sobre a pandemia e defendem um noticiário que se concentre no número de curados da covid-19. No novo telejornal, mortes pela doença, inflação, desemprego, aumento da pobreza, nada disso é pauta.

Um dos ministros mais próximos do presidente, o ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, costuma reclamar que "só tem caixão" na TV. "No jornal da manhã é caixão, corpo; na hora do almoço, é caixão novamente. No jornal da noite é caixão, corpo e número de mortos", disse Ramos em entrevista no Palácio do Planalto no ano passado.

O nome do telejornal de "boas notícias" já está definido: "Bom de Ver". As gravações do piloto, espécie de versão de teste, já foram feitas. A exibição será ancorada pelos jornalistas Katiuscia Neri, que hoje apresenta o Repórter Brasil, principal telejornal da emissora, e Tiago Bittencourt.

Em cerimônia no Palácio do Planalto, na terça-feira, 15, Faria defendeu o uso da TV pública para combater "narrativas erradas". "No fim da linha, presidente, é onde sua voz chega", afirmou Faria, dirigindo-se a Bolsonaro. Na plateia formada por donos de emissoras de televisão e rádio, Faria fez uma convocação: "Tenho certeza que todos vocês, a partir de agora, vão conseguir atingir mais a voz que é necessária chegar nos lugares onde até hoje chegam informações equivocadas e narrativas erradas".

O ministro disse mais: "que a verdade possa chegar onde o povo quer ouvir. A gente, infelizmente, muitas vezes, é obrigado a ficar combatendo fake news, perdendo tempo, deixando de trabalhar, deixando de fazer os nossos deveres aqui para desmistificar as notícias enganosas. Vamos levar a verdadeira comunicação para o restante do País".

Mas a divulgação de fake news tem sido uma prática do atual governo. O próprio Bolsonaro teve vídeos retirados do ar pelo Facebook e pelo Google sob a alegação de que propagava informações falsas ou sem comprovações. Por conta disso, o governo prepara uma decreto para limitar a atuação das redes sociais no Brasil. No Supremo Tribunal Federal, um inquérito investiga a disseminação de fake news por parte de aliados do governo. No Congresso, também há uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar a participação de nomes ligados ao Palácio do Planalto na produção deste tipo de conteúdo.

Na terça-feira, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) pediu ao Ministério Público Federal que investigue o uso do canal público para divulgação pessoal do presidente. O motivo foi a transmissão de um culto religioso, no último dia 9, que teve a participação de Bolsonaro. Para a entidade, a veiculação representou um atentado à Constituição Federal, que, em seu artigo 37, proíbe a promoção pessoal.

O plano de investir na TV pública como um contraponto ao noticiário da pandemia contraria promessa de campanha de Bolsonaro. Antes mesmo de ser eleito, o presidente afirmou que privatizaria a EBC, passando a empresa responsável pela emissora para a iniciativa privada. A estatal chegou a ser incluída no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), mas a ideia nunca saiu do papel.

Ao assumir o cargo de ministro das Comunicações, no ano passado, Faria adaptou o discurso e tem repetido desde então que antes de vender a EBC, é preciso "enxugá-la". O argumento é de que a empresa é deficitária e, por isso, não haveria interessados na compra.

Em abril, porém, o governo pagou R$ 3,2 milhões pelos direitos de exibição da novela Dez Mandamentos, de cunho religioso, que foi produzida pela Record TV, emissora ligada à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). O bispo Edir Macedo, líder da Universal, é aliado de Bolsonaro. O gasto foi contestado por opositores ao governo sob o argumento de que deturpa o conceito de comunicação pública.

Em outro investimento contestado, o governo transmitiu a partida de futebol entre Brasil e Peru, em outubro do ano passado, válida pelas eliminatórias da Copa do Mundo. Na ocasião, após falta de acordo entre a TV Globo, que costuma transmitir o campeonato, e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), integrantes do governo entraram em campo para negociar a exibição.

Durante o jogo, o narrador mandou "abraço especial" a Bolsonaro e propagandas favoráveis ao governo foram exibidas no intervalo. Nas redes sociais, a oposição classificou a iniciativa como uso político da TV pública.

A TV Brasil foi criada em 2007, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, sob argumento de fomentar a comunicação pública no País. Em países como no Reino Unido e no Japão, por exemplo, canais públicos de TV, como a BBC e a NHK, respectivamente, são referências.

O aparelhamento político da EBC nas gestões petistas, porém, fez com que a iniciativa fosse contestada. Na campanha eleitoral, Bolsonaro costumava dizer que a estatal se tornou um "cabide de empregos". Na sua gestão, a empresa foi comandada pelo general do Exército Luiz Carlos Pereira Gomes, sem experiência na área, antes de o publicitário Glen Lopes Valente assumir o cargo, em setembro. Valente é ex-diretor do SBT, de Silvio Santos, sogro do atual ministro das Comunicações.

Funcionários da empresa, sindicatos e outras entidades criaram um movimento para denunciar casos de censura e uso político da estatal. Entre os exemplos citados pela "Frente em Defesa da EBC e da Comunicação Pública" estão ordens internas para que programas jornalísticos não abordem temas como os assassinatos da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL), e de João Alberto Silveira Freitas, homem negro morto em uma unidade do Carrefour de Porto Alegre, em novembro do ano passado, na véspera do dia Consciência Negra. O crime suscitou um debate nacional sobre racismo.

Procurada, a EBC afirmou "desconhecer" informações sobre o novo programa. O Ministério das Comunicações e Faria não se manifestaram até a publicação desta matéria.
 

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