Justiça manda prender acusado de ferir gato com vergalhão em Linhares

| 25/11/2020, 17:15 17:15 h | Atualizado em 25/11/2020, 19:58

A Justiça de Linhares, no Norte do Estado, mandou prender o suspeito de espetar um gato em vergalhões na cidade. O mandado de prisão foi expedido nesta quarta-feira (25), conforme informações da Polícia Civil. 

O caso chegou até a polícia após um vídeo circular pelas redes sociais e aplicativo de mensagens, mostrando um morador resgatando o animal, que foi envolvido em vergalhões, em uma espécie de armadilha, no bairro Jardim Laguna. O caso foi na terça-feira (24).

O delegado Tiago Cavalcante, que investiga o caso, disse que logo após receber o material foi instaurado inquérito pela Delegacia de Linhares para apurar os vídeos e, durante as investigações, foram confirmadas as informações recebidas pela equipe. 

A polícia também conseguiu a identificação do suspeito, que não foi informada para a reportagem. Ao ir até os endereços de trabalho e moradia do suspeito, a polícia constatou que ele havia fugido e fez o pedido de prisão preventiva dele para a Justiça.

"Pelas características do crime, para a manutenção da ordem pública e do processo e pelo risco da testemunha, a  gente pediu a prisão dele que foi deferida pela Justiça", explicou Cavalcante. 

De acordo com o delegado, o crime teria sido provocado porque o suspeito se sentia incomodado com o gato. "Ele alega que fez isso, porque não estava mais aguentando mais os gatos da região, que tem muitos, eles entravam na casa dele e faziam necessidades", disse. 

A CPI dos Maus-Tratos Contra os Animais da Assembleia Legislativa, presidida pela deputada Janete de Sá (PMN), recebeu a denúncia e acompanha o caso. Em nota, a comissão informa que no local onde o gato foi encontrado ainda havia um facão e o animal foi levado em estado grave para uma clínica veterinária.

“É uma crueldade o que aconteceu em Linhares, por isso acionamos a polícia e o prefeito municipal, uma vez que a denúncia aponta que o agressor é um servidor da prefeitura. Nós não vamos sossegar enquanto esse agressor não for preso”, afirmou Janete de Sá.

Em nota, a Prefeitura de Linhares informou que condena e repudia qualquer tipo de violência e crueldade contra os animais. "Esclarecemos que todas as providências necessárias e legais já estão sendo tomadas pelos órgãos competentes em relação aos fatos".

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/prod/2020-11/372x236/gato-maltratado-em-linhares-839f23aa279ad59366fb9d5f1f0050f3/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fprod%2F2020-11%2Fgato-maltratado-em-linhares-839f23aa279ad59366fb9d5f1f0050f3.jpeg%3Fxid%3D151971&xid=151971 600w, O animal foi preso em uma armadilha e foi espetado com vergalhões

Homem que aparece em vídeo não é o suspeito de maus-tratos

As imagens do gato ferido em meio aos vergalhões circularam por grupos de mensagens e redes sociais. Nas cenas, uma moradora narra o sofrimento do gato enquanto que um morador aparece tentando resgatar o gato da armadilha, mas a polícia frisa que o homem não é quem maltratou o animal. 

"A Polícia esclarece que o homem que aparece nos vídeos, que estão sendo veiculados nas redes sociais, não é o autor dos maus tratos e sim uma das pessoas que realizou o resgate do animal", informou a Polícia Civil em nota.

O morador que tenta socorrer o gato junto com uma protetora, é o professor Cícero Ezequiel, de 46 anos. Ele relata que se preparava para sair de casa e fazer uma caminhada, quando a mãe dele o chamou até o quintal.

"Eu achei que era briga, mas não era. Era uma mulher que estava gritando desesperada e me chamou. Quando cheguei lá na casa as crianças e a dona da casa estavam chorando e a protetora tentando ligar para pedir ajuda porque o gato estava com os vergalhões no corpo e também tinha um agarrado acima do olho", lembra ele.

Cícero tentou acalmar as pessoas que estavam em volta e também tentava tirar o animal de dentro da armadilha. "Estava muito difícil de tirar e é muito agonizante para a gente que gosta de animal ver ele olhando para você dessa forma".

Depois de alguns minutos e de algumas tentativas, os dois conseguiram resgatar o gato, que foi levado para uma clínica veterinária da cidade. 

Cícero acreditava que o maior momento de desespero tinha acabo, mas, horas depois, começou um pesadelo na vida do professor. As imagens do resgate foram parar nas redes sociais e o morador começou a receber diversas mensagens, algumas delas, com hostilizações.

Isso ocorreu porque algumas pessoas acreditaram que Cícero foi o autor das agressões ao gato, já que ele aparece nas imagens perto do animal. No entanto, nas cenas ficam evidente que ele tenta resgatar o animal. 

"Eu não sabia que estava sendo filmado. Eu estava tão concentrado no animal que tentei anular minhas emoções para conseguir ajudar ele", explica o professor. 

Desde terça-feira, ele não sai mais de casa por medo de que alguém possa machucá-lo. 

"Fiquei numa situação muito complicado, porque não saio mais sair de casa, minha família ficou preocupada. Meus amigos ficaram falando comigo direto. Hoje, acontece o linchamento virtual e as pessoas não analisam as imagens direito e passam a querer fazer justiça com as próprias mãos. Se não tenho um grupo de amigos que me ajudasse poderia ter ocorrido algo de pior comigo. Meus amigos me disseram que já tinha uma pessoa de um bairro próximo já preparada para vir aqui armada me pegar. Eles me colocaram no grupo onde ela faz parte e, em contato com ela, e eu expliquei o que aconteceu. Ele me agradeceu pelo gesto. Ainda há risco, porque, enquanto não dão esclarecimento maior, algumas pessoas ainda correm o risco de me confundir com o autor pela forma como o vídeo foi divulgado", afirma Cìcero.

O professor pede para que as pessoas tenham equilíbrio e não promovam linchamentos virtuais. 

"É injusto e perigo fazer julgamento precipitado e prejudica uma família inteira. A gente não pode tomar a frente da Justiça, a gente precisa confiar nas instituições e deixar com que a Justiça seja feita  nas leis e não fazer vingança. A gente precisa acreditar que a pessoa, tendo uma oportunidade, podem mudar. Acredito que as pessoas precisavam ter mais fé  e analisar o sofrimento daquela família. Ali tem pai, mãe, sobrinhos sofrendo num contexto, que amanhã, pode ser outra família sofrendo", desabafa.

A Polícia Civil destaca que a população pode contribuir com informações de forma anônima através do Disque-Denúncia 181, que também possui um site onde é possível anexar imagens e vídeos de ações criminosas, o disquedenuncia181.es.gov.br.

SUGERIMOS PARA VOCÊ: