Defesa de sargento nega relação do crime com pagamento de R$ 7 a motocilista
Segundo advogado de defesa, PM não apresentava mau comportamento na corporação
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A Associação Pernambucana de Cabos e Soldados fará a defesa do 2º sargento da Polícia Militar Venilson Cândido da Silva, de 50 anos, preso por matar um motociclista por aplicativo após suposta cobrança de uma corrida no valor de R$ 7.
Por meio de nota assinada pelo advogado Jethro Ferreira, a associação primeiro lamentou o ocorrido e prestou “condolências aos familiares da vítima”. Logo em seguida, o advogado informou que está prestando assistência jurídica ao PM associado, para que “o mesmo tenha um julgamento justo, observados o contraditório e a ampla defesa, constitucionalmente assegurados”.
*Pagamento não foi motivo de discussão, frisa defesa*
Em entrevista ao Tribuna Online, Jethro Ferreira informou que teve um contato rápido com o sargento, mas o PM não explicou por qual motivo matou o jovem. No entanto, o PM frisou que “a discussão não teve nada a ver com o pagamento da corrida”.
O advogado ainda negou que o cliente estivesse com problemas de saúde mental, como se especulou, o que proíbe o porte de arma. “Ele não estava de Licença para Tratamento de Saúde por problemas psiquiátricos. Tanto assim que a identidade funcional dele permitia o porte de arma. 'Se' ele tinha problemas de saúde mental, não oficializou isso junto à PM”, declarou.
Sem histórico de mau comportamento
Indagado sobre o que poderia dizer a respeito do seu cliente e qual linha adotaria na defesa, Jethro afirmou: “só sabemos que ele não responde a outros procedimentos criminais, e não apresentava mau comportamento na PM”, disse.
O advogado lembrou que o inquérito deve ser concluído em 10 dias, uma vez que o acusado está preso. Após a conclusão, o Ministério Público tem 5 dias para oferecer denúncia.
O sargento teve a prisão preventiva decretada em audiência de custódia e divulgada pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco. Ele responderá pelo crime de homicídio qualificado.
A fragilidade de uma profissão
O crime cometido pelo sargento Venilson Cândido da Silva, do 25º Batalhão, gerou comoção e protestos entre os colegas de aplicativo de Tiago, que se sentem alvo fácil de pessoas violentas e até mesmo de criminosos. A profissão de Venilson, por sua vez, tem o propósito de proteger a sociedade.
Segundo o próprio secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho, o sargento deve ser expulso da corporação após passar por processo administrativo. Em entrevista à imprensa durante agenda administrativa, Carvalho disse que viu as imagens e considerou o crime “bárbaro”.
“O crime foi bárbaro, sem nenhuma razão (...) Ele (o PM) já está preso e deve ser expulso da corporação”, disse Carvalho em evento administrativo do qual participava no Palácio das Princesas.
O pai que não verá o nascimento do filho
Tiago estava prestes a ser pai. Ele foi morto na manhã do último domingo (1) quando, segundo testemunhas, cobrou a viagem do sargento, no valor de R$ 7, e o suspeito respondeu que pagaria na próxima, o que não é permitido pelo aplicativo.
Os dois falaram algo inaudível e Venilson Cândido puxou a arma. Tiago permaneceu incrédulo quando o sargento sacou a arma e chegou a dizer: "Vai, atira aí", o que foi realmente feito.
Após o homicídio, segundo testemunhas, Venilson entrou no condomínio onde mora, trocou de roupa e pegou um ônibus, mas foi cercado por motoristas de aplicativos e pessoas revoltadas com a frieza do crime. Ele apanhou bastante antes de ser detido por policiais militares e levado para depoimento. Chegou a falar sobre isso com seu advogado.
Mas o sargento escapou por pouco de uma morte por linchamento - aquela que ocorre quando a população decide punir um suspeito, também sem dar direito de defesa.
O pai de Tiago, Sérgio Luiz de Bezerra, descreveu a perda como irreparável. “R$ 7 foi o que valeu a vida do meu filho”, disse, emocionado, lamentando que o filho não tenha sequer tido direito à defesa. "Ele era um menino bom, trabalhador", acrescentou.
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