O básico
As críticas dos argentinos à qualidade dos gramados brasileiros trazem à luz um ponto crucial que tem sido deixado à margem na discussão sobre o futebol que se joga no Brasil. Tanto Lionel Messi, o craque, quanto Lionel Scaloni, o treinador, espinafraram o campo do Estádio Nilton Santos, palco da partida de estreia das seleções da Argentina e do Chile (1 a 1) na Copa América. E com toda razão.
Na Copa América de 2019, o mesmo Scaloni já havia se queixado dos gramados brasileiros. E não estava sozinho: Carlos Queiroz e Rafael Dudamel, na época respectivos treinadores de Colômbia e Venezuela, o acompanharam nas críticas.
Fonte Nova, Arena do Grêmio, Mineirão e Maracanã – nenhum deles foi aprovado por treinadores e jogadores daquela edição. Fator básico, ignorado pela CBF e pelas federações promotoras das competições.
Vergonha
Os campos dos nossos estádios envergonham o futebol brasileiro num momento em que dividimos as atenções com partidas da Eurocopa.
A qualidade do terreno de jogo é fundamental para o bom passe, e vital para dribles e arremates. E o que vemos aqui é deplorável.
Messi, por exemplo, disse após o jogo no Nilton Santos que o gramado não permitiu o jogo rápido e dificultou a condução da bola. E quem reclamava era o Messi, não os jogadores da casa.
Duvido que o atacante tcheco Patrick Schick teria a mesma eficiência naquele chute a 51 metros de distância do goleiro da Escócia, se em vez do Hampden Park, em Glasgow, estivesse no Niltão, onde Messi abriu o placar em belíssima cobrança de falta.
Mas o pior é saber que a grita de treinadores e jogadores de fora do país, a maioria acostumada aos gramados europeus, não será capaz de produzir os efeitos esperados.
No Brasil, esta questão estrutural (ainda que primária) é tratada com desdém até mesmo pelos torcedores.
São poucos os que se importam com o fato de seus clubes não zelarem pela qualidade do piso.
E lembrem-se que o Flamengo, por exemplo, já perdeu titulares por contusão em função do péssimo estado do gramado do estádio que o próprio clube administra.
Aliás, os dirigentes esperam apenas a renovação da concessão do Maracanã (o edital ainda não foi divulgado) para estudar a possibilidade de implantação de campo híbrido, que mistura gramas natural e artificial.
Segundo especialistas envolvidos no projeto, é o que faz dos gramados europeus verdadeiros tapetes.