Novo amanhã
Voltou a cair a média de idade dos treinadores da Série A e isso na minha leitura reflete, em primeiro plano, a busca por profissionais com salários alinhados à realidade do futebol brasileiro. Mas não apenas isso: os clubes procuram em mentes mais arejadas as ideias que nos aproximem ao futebol jogado na Europa, menos focado nas individualidades, e mais voltado para os aspectos táticos e o jogo coletivo.
Em resumo, me permito a pensar que na falta de recursos para grandes investimentos os dirigentes estão apostando nos treinadores que se mostrem com capacidade para trabalhar com o foco na criação de sistemas e não só pelo resultado do jogo.
Se for isto, realmente, o futebol brasileiro estará dando um passo importante na valorização do espetáculo — o que mais à frente se traduzirá em ganhos financeiros e esportivos para clubes e seleção.
Mas, primeiramente, devo dizer que apenas 5% dos treinadores em atividade na Série A têm mais de 60 anos. Isso significa um dos vinte: Luiz Felipe Scolari, de 72, que reassumiu o Grêmio há pouco em substituição a Tiago Nunes, de 41. Hoje, 65% têm menos de 50 anos, com 55% na casa do 40 e 10% na dos 30. Outros 30% têm entre 54 e 58 anos.
A média de 48,2 anos recoloca os técnicos da primeira divisão do futebol brasileiro no patamar mundial que é de 48,8.
E, vejam bem, não se trata aqui de discutir competência ou sentenciar que os mais experientes estejam desatualizados — discussão tosca que não se justifica na prática.
E para isso basta ver o futebol que joga o Náutico do sexagenário Hélio dos Anjos, líder isolado da Série B e adversário do Vasco, logo mais, em São Januário. Mas o dado confirma tendência verificada desde 2018, mais especificamente após Fábio Carille, então com 44 anos, levar o Corinthians ao título do Brasileiro de 2017.
A exceção da edição de 2020, que chegou a registrar média de 51,2, elevada pela presença de Jesualdo Ferreira (74), Vanderlei Luxemburgo (68), Paulo Autuori (63) e Jorge Sampaoli (60).
O fato é que os treinadores mais renomados do futebol brasileiro atingiram um injustificável patamar salarial na última década. Pouco evoluíram em seus métodos de trabalho e se limitaram a valorizar seus dotes com conquistas à frente de equipes mais fortes em termos orçamentários.
Era mesmo a hora de quebrar paradigmas com jovens mais baratos e antenados com a evolução das metodologias de treinamento. Talvez alguns decanos acordem para um novo amanhã.