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Claquete

Mank: um filme que entrelaça política, alcoolismo e conflitos morais


Imagem ilustrativa da imagem Mank: um filme que entrelaça política, alcoolismo e conflitos morais
Mank |  Foto: Reprodução / Netflix

Celebrado até hoje como um dos maiores filmes de todos os tempos “Cidadão Kane” ainda é instigante, mesmo 80 anos depois que “Rosebud” foi balbuciada por um moribundo Charles Foster Kane (Orson Welles), entrando para a mítica Hollywoodiana, sendo revisitado agora pelo filme de David Fincher “Mank”, centrado na figura do roteirista Herman J. Mankiewicz. Sendo mais do que um simples “filme de bastidores”, o filme se assume como uma ode ao cinema de uma época. O filme da Netflix confirma o esforço do estúdio de realizar produções de qualidade, como no final do ano passado quando trouxe o excelente “O Irlandês” de Martin Scorcese.

“Mank” é um trabalho de amor para seu diretor, David Fincher, desde sua última realização “Garota Exemplar” (Gone Girl), de 2014. Amor pelo cinema e amor pelo seu legado familiar já que o roteiro foi feito por seu falecido pai Jack Fincher, antes mesmo que David fizesse sua entrada em Hollywood em “Alien 3” de 1992.

O filme de Fincher entrelaça política, alcoolismo, manipulação midiática (sim, isso já existia muito antes das fake news em rede social) e conflitos morais à medida que constrói sua narrativa. Se por um lado a figura de Mankiewicz, revivida na pele do excelente Gary Oldman, mostra uma figura desacreditada e decadente, por outro mostra como seu olhar crítico analisa as hipocrisias de figuras icônicas do período como Louis B. Mayer (Arliss Howard), o todo poderoso chefão da MGM ou o magnata William Randolph Hearst (Charles Dance), que viria a se a figura de inspiração para o personagem de Charles Foster Kane.

Gary Oldman preenche a tela com sua atuação, mostrando o porquê de ser um dos melhores intérpretes de sua geração, fazendo uso não somente das palavras, mas também de seu olhar, uma força cênica à medida que seu personagem sofre as pressões para terminar seu roteiro em 2 meses para satisfazer a vontade de Orson Welles (Tom Burke), este surgindo desmistificado no filme, retratado como alguém egóico, mas talentoso, nunca endeusado como a única força motriz por trás do projeto que se tornaria “Cidadão Kane”.

Para alcançar esse efeito, Orson é uma presença constante ao telefone, mas distante da ação mais física na construção da história. Ao lado de Mankiewicz a fiel enfermeira Fraulein Freda (Monika Gossman) e a eficiente secretária Rita Alexander (Lily Collins), ambas importantes para as crises pessoais de Mank. Ainda no elenco feminino, Amanda Seyfried se destaca com louvor, no papel de Marion Davis, a sonhadora atriz Hollywoodiana, a Bette Boop loira, amante de Hearst, e que teria sido a inspiração para a figura de Susan Alexander no filme de Welles.

Contudo, algumas diferenças aparecem entre fato e liberdade poética. No filme de Fincher, Davies deixa a MGM em 1934 depois que ouve Irving Thalberg dizer que seus filmes não arrecadam uma boa bilheteria, mas na verdade o motivo real foi que a Metro não lhe deu os papéis que queria; entre eles o de Maria Antoinette, que foi para Norma Shearer. Davis deixou a MGM (juntamente com William R. Hearst) seu protetor, e se aposentou prematuramente das telas em 1937, aos 40 anos.

Anos mais tarde veio a dizer que nunca assistira “Cidadão Kane”. Na prática, Hearst em nada ajudou para que Davies conseguisse bons papéis, e quando ele enfrentou problemas financeiros, foi Marion que o ajudou chegando a vender as joias caras que ele lhe deu.

Fincher é bem cuidadoso nos diálogos como forma de fazer o público se transportar para a época, seja nas relações de Mank com nomes como Irving Thalberg (Ferdinand Kingsley), David W. Griffith (Toby Leonard Moore) ou na menção dos irreverentes Irmãos Marx preparando hot-dogs nos escritórios da MGM. A fotografia de Erik Messerschmidt (em seu primeiro trabalho com Fincher) é primorosa para recriar o final da década de 30, e início da década de 40.

Desde a década de 90 o diretor tentava encontrar um estúdio para o projeto, mas nenhum deles aprovava a filmagem em preto e branco, essencial para o filme, tanto quanto foi o trabalho de Gregg Toland no filme de Welles. O som é outra parte fundamental para possibilitar essa qualidade vintage gravada em mono mixado em surround 5.1 de forma a simular o eco ouvido nas salas de exibição na época.

O filme não esquece da manipulação por trás do cenário político na meca do cinema mostrando a eleição para governador da California feita através de campanha de desinformação no rádio e noticiário fake em favor do candidato republicano Frank Merriam, e desacreditando o democrata Upton Sinclair.

Refletida nas palavras ferinas de Mank, que diz que “um roteirista é mais ameaçador para um público desavisado do que o partidário”, e assim o filme de Fincher ganha ecos de impressionante atualidade. Não é a primeira vez que Fincher filma uma figura polêmica, já tendo usado inclusive da técnica de depoimentos múltiplos na ocasião que fez ‘A Rede Social” (2010), sobre Mark Zuckerberg do facebook.

Tanto Orson Welles quanto David Fincher começaram suas carreiras bem jovens. Este tinha 22 anos quando começou dirigindo videoclips de artistas como Paula Abdul, Roy Orbinson e Madonna, chamando a atenção para sua câmera com “Alien 3” em 1992. Já o diretor de “Cidadão Kane’ tinha 25 anos quando lançou sua obra máxima, jamais igualada pelo próprio, e na qual obteve absoluto controle criativo levando o Oscar de melhor roteiro com crédito dividido entre Welles e Mankiewicz.

O filme é de Oldman e não resta dúvidas de como a força do seu personagem conduz a trama; e entrega mais do que um vislumbre de uma época, mas a essência da convicção de quem fez um dos momentos mais emblemáticos da magia e da história que faz do cinema a sétima arte.

Trívia:

#1 Depois do lançamento de “Mank”, Fincher assinou um contrato de mais quatro anos com a Nefflix para realização de outros projetos.
#2 Esse não é o primeiro filme a mostrar o processo criativo do clássico “Cidadão Kane”. Em 1999 houve “RKO 281” com John Malkovich no papel de Mankiewics e Liev Schreiber como Orson Welles.
#3 No final do filme de Fincher, o apresentador que anuncia o prêmio de melhor roteiro original é interpretado por Ben Mankiewicz, neto de Herman Mankiewicz.
#4 Gary Oldman e Amanda Seyfried já atuaram juntos em “A Garota da Capa Vermelha” (2011)
#5 Charles Dance trabalhou em “Alien 3” (1992), estreia de Fincher em Hollywood.

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