Ira! faz protesto musical contra injustiças em novo disco
Edgard Scandurra e Nasi | Músicos “Não podíamos falar de loucurinhas de amor”
AT2: Por que lançar neste momento de pandemia?
Edgard: Creio que o tempo para as pessoas ouvirem o novo disco estava no limite. Esse álbum é um trabalho para ser mostrado em 2020. Não faria sentido esperar mais tempo.
O que este CD representa?
Edgard: É um olhar para nós mesmos dentro desse sistema cruel e opressor que se agiganta a olhos vistos. Não podíamos falar de loucurinhas de amor. Era preciso um disco de resistência, de enfrentamento e autocrítica.
É um trabalho que carrega a sonoridade que faziam no início do Ira!, mas com um toque atual. Como foi?
Nasi: Um dos responsáveis é o produtor Apollo Nove, que trabalha comigo desde 2006. Ele conhece bem a gente e não interfere muito na concepção do disco. Procura realizar a vontade do artista e traduz na gravação o jeito do músico. Tudo isso fez o disco ter a sonoridade próxima de nossos primeiros álbuns, mas soando bem contemporâneo.
A história da banda é marcada por brigas. As desavenças estão refletidas nesse CD?
Edgard: As crises que passamos deixaram cicatrizes que estão no novo disco. Não estão explicitadas coloquialmente, mas deixaram marcas. Creio que seja nosso CD mais adulto, sem resquícios de uma juventude eterna que parece ser uma temática tentadora em bandas de rock.
O fato de gravarmos este CD com tamanha energia, que remete aos primeiros álbuns, mostra respeito ao nosso público e à nossa história. Se é para terminar ou dar um tempo, que seja com um trabalho que nos dê orgulho e que deixe nossos fãs felizes com nossas novas canções, e não uma pobre “lavação de roupa suja” em uma página policial.
Voltaram em 2014, mas só agora lançam CD inédito.
Nasi: Dois anos depois da volta, tivemos o projeto folk, que acabou virando álbum e tirou um pouco esse foco. Pudemos sentir que ele era o trabalho de um novo Ira! e deixou que a coisa caminhasse de maneira natural. Sabíamos que esse disco deveria estar à altura dos nossos melhores e talvez a pressa de fazer algo pudesse fazer ser um CD não tão bom.
“Chuto Pedras e Assobio” é inspirada na rotina que a estrada impõe aos músicos. A sua própria companhia é a melhor de todas, como cantam?
Nasi: Desde quando começamos, essa é a nossa vida. Então, muito do que fizemos realmente foi dessa forma: em quarto de hotel ou em passagens de som.
Nela, cantam: “Não penso em mais nada, vem ficar comigo, vai que o mundo acaba”. Escreveram a trajetória da banda sempre vivendo um disco como se fosse o último?
Edgard: O mundo nos mostra, cada vez mais, que devemos viver intensamente tudo que for possível, aprender com os erros e tentar melhorar nossa perfomance como seres humanos.
Serviço
“IRA”
Artista: Ira!
Faixas: 10
Gravadora: Independente, com distribuição digital da Ditto Music
Preço: R$ 19,00 (digital)