Em entrevista a 'A Tribuna', Tarcísio Meira disse que estava aposentado "contra a própria vontade"
"Nunca vi um ator que queira parar, e eu jamais pensei em parar. Nós não nos aposentamos. Somos aposentados contra a nossa vontade". Estas foram as palavras de Tarcísio Meira, um dos maiores atores da dramaturgia brasileira, em uma entrevista exclusiva ao Jornal A Tribuna publicada em abril de 2016.
Nesta quinta-feira (12), o ator, de 84 anos, morreu após complicações da covid-19. Ele testou positivo na semana anterior e foi internado ao lado da mulher, a também atriz Glória Menezes.
Tarcísio Meira esteve em Vitória em maio de 2016, para apresentar a peça "O Camareiro", no Teatro Universitário, em Vitória.
Em entrevista a jornalista Paula Dell'Isola, do AT2, Tarcísio falou sobre a fama de "galã", fez uma análise da carreira e exaltou a parceria com Glória Menezes além do relacionamento. "Eu tive muitos problemas com a fama de galã. Porque ela vinha carregada de preconceitos. Achavam que eu não poderia ser um ator. Esse preconceito era tão evidente que eu simplesmente passei por cima e não tomei conhecimento”, contou.
SAIBA MAIS Leia a entrevista na íntegra, concedida ao AT2, em abril de 2016
“O Camareiro” mostra as dificuldades de ser ator. A vida de um ator é dura, Tarcísio?
(Vida) muito dura. Emocionalmente e, muitas vezes, exige um esforço físico muito grande. É um trabalho
muito difícil, mas muito bonito e gratificante também
Entre os dilemas da peça está o de continuar ou desistir. Já viveu isso?
"Nunca vi um ator que queira parar, e eu jamais pensei em parar. Nós não nos aposentamos. Somos
aposentados contra a nossa vontade. (Risos)
Voltar ao teatro é uma forma de celebrar os 80 anos?
Não digo que seja um coroamento de algo, porque eu espero ainda fazer muitas coisas. (Risos). Mas é uma forma bonita de celebrar bastante coisas que eu já fiz.
Você é um ator consagrado. Buscou manter o sucesso?
Não pelo sucesso em si. O Lauro César Muniz dizia que nenhum artista trabalha para fazer fracassos. Claro, mas o sucesso é uma coisa efêmera. A amizade, o entendimento, a ponte que você consegue estabelecer com as pessoas é muito mais importante. Até uma reprovação pode ser um sucesso. Se uma pessoa que está me vendo tem a intimidade de me dizer que não gostou, é um grande sucesso. Sempre procurei ter esse tipo de diálogo. É a razão de ser do meu trabalho.
Parece ter muita vitalidade. Sente-se com 80 anos?
Acho que sim. (Risos) Eu gostaria de ter 50 ou 60 anos, mas tenho 80. Estou bem. Mas tenho a vitalidade de um homem de 80 anos. Não dá para jogar tênis, vôlei. Não quer dizer que me sinto velho. Mas tenho a idade que tenho e convivo bem com as limitações que isso me traz. Não nado contra a maré.
E do jovem Tarcísio, ainda tem algo dele?
Acho que Tarcísio é o que é em qualquer idade. Eu não mudei muito de quando eu tinha 15 anos. Eu tinha as coisas próprias da idade, mas eu nunca renunciei e nem denunciei a mim mesmo. Sou o que sou, com todos os meus defeitos e as minhas qualidades.
Bem-sucedido, famoso. Tem sido uma vida de louros?
Não, de forma alguma. Eu sou uma pessoa muito simples. Gosto das coisas simples. E, quando ficam complicadas demais, eu trato de simplificá-las.
E a vida ao lado de Glória. Imita as novelas?
Não é uma vida de novela. Somos um casal absolutamente normal. Nossa trajetória juntos é bastante comum e temos uma vidinha muito simples.
Foi fisgado imediatamente?
Mais ou menos. Vi, gostei e aconteceu. Quando fizemos 50 anos de casados, nos impressionamos. É bocado de tempo. Mas não sentimos passar. De repente, chegamos aos 50. E agora são 53. (Risos)
Há segredo para uma parceria como esta?
Não. Não há muito o que falar. A gente se gosta, evidentemente. Quando as pessoas se gostam e se entendem, permanecem juntas. Se há amor, por que não permanecer?