Viagem de trem vira arte em exposição no ES
“Descarrilho”, em cartaz no Museu de Artes do Espírito Santo, conta com videoarte, escultura, instalação, pintura, entre outros
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O som inconfundível de um trem, que passa todos os dias pelo mesmo local, foi suficiente para provocar o artista recém-formado Thiago Sobreiro, de 29 anos, a pesquisar e criar uma exposição coletiva sobre a viagem pelo trajeto do trem de Cariacica a Itabira, em Minas Gerais, que completa 100 anos de funcionamento em 2024.
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No total, oito artistas, com diferentes linguagens, estão com seus trabalhos relacionados ao tema à disposição do público até o dia 13 de agosto, no Museu de Artes do Espírito Santo, que fica no Centro de Vitória. São eles Alessa Felix, Filipe Borba, Jaíne Muniz, Jessica Maria, Jéssica Sampaio, Maria Menezes, Thiago Sobreiro e Yurie Yaginuma.
Morador do bairro Inhanguetá, em Vitória, Sobreiro contou que sempre ouviu o barulho do trem de seu terraço, mas que, só nos últimos anos, percebeu que nunca tinha nem visto aquele veículo, quanto mais feito aquela viagem.
"Depois disso, eu comecei a pesquisar e surgiu a ideia de convidar mais sete artistas para fazer essa viagem. Então eu apresentei essa ideia para a Maria Menezes e para a Clara Pignaton (curadora da exposição) e suriram novas ideias. Na discussão, percebemos que além de fazer a viagem, seria muito interessante parar em algumas cidades do caminho e, com isso, escolhemos Aimorés e Itabira", contou o idealizador.
Além da linha férrea, o grupo também discute o rio que corre ao lado, as paisagens, as pessoas daqueles locais e até as palavras encontradas nesse caminho. De acordo com a curadora da mostra, Clara Pignaton, foram necessárias algumas etapas para chegar à conclusão do trabalho.
"Depois que nos reunimos em um círculo de conversas, falamos também com uma pessoa que trabalha no movimento dos atingidos pelas barragens, dois arquitetos e, no fim, uma residência, que consistia em percorrer esse trajeto de trem até Itabira. Fizemos uma parada em Aimorés, depois em Itabira e voltamos direto para Cariacica", explicou.
Durante a viagem, Pignaton afirmou que ter acompanhado o grupo a fez perceber que o trem permite a apreciação da paisagem, mas, ao mesmo tempo, cria um distanciamento com o território em volta.
"Você assiste a uma paisagem, que está atravessando. Então, de certa forma, essa linha férrea tanto é uma barreira, para quem vive ali próximo, acessar o rio, ela corta e delimita. E a gente que passa em um abiente fechado (o vagão), acaba tendo uma desconexão com o lado de fora", afirmou a curadora.
A artista Maria Menezes, que fez e ainda faz esse trajeto por grande parte da sua vida, explicou que o trabalho é resultado das bagagens de cada um dos expositores com o tema.
"O que fica aqui é registro das nossas experiências passadas, para quem já conhecia o caminho, mas também é registro de uma experiência com esse primeiro contato com o trajeto, com as cidades e tudo isso se materializa nos trabalhos que chegaram aqui", explicou.
Serviço
O que: Exposição Descarrilho
Quando: Até o dia 13 de agosto. De segunda a sexta, das 10h às 18h; Sábados, domingos e feriados, das 10h às 16h.
Onde: Museu de Arte do Espírito Santo (Maes), Av. Jerônimo Monteiro, 631, Centro, Vitória;
Quanto: visitação gratuita
Para agendar visitas guiadas em grupos, é só acessar o link https://l1nk.dev/agendamentomaes
Exposições que conversam entre si
Em paralelo à Descarrilho, o Museu de Artes do Espírito Santo (Maes) também está com a exposição “Modernidade Cultura e Paisagem”, que explora a relação entre a paisagem e a modernização.
Ao Jornal A Tribuna, o diretor do Museu de Artes do Espírito Santo, Nicolas Soares, explicou que o Maes resolveu dedicar uma sala, desde o início do ano passado, para ser de exibição permanente do museu, com o acervo próprio.
"Esse acervo do museu está sendo construído há 25 anos, que ele completa agora em dezembro. É uma coleção que começa com o Dionísio Del Santo, que dá nome ao museu, mas possui diversas linguagens e artistas. Com isso, temos a possibilidade de apresentar esse trabalho trazendo para o contexto atual e em diálogo com a exposição que estiver sendo apresentada e com outros acervos de fora também", afirmou o diretor.
Esta exibição tem 11 obras, desde desenhos a objetos, de artistas como o próprio Dionísio, Raphael Samú e Celina Rodrigues, e fica aberta até o dia 26 de novembro. O objetivo, segundo a Secretaria de Estado da Cultura (Secult), é oferecer uma perspectiva sobre a formação cultural da paisagem e sua influência na sociedade.
VEJA ALGUMAS OBRAS DA "DESCARRILHO"
1- No trabalho Dormentes, Filipe Borba produz gravuras a partir de uma dormente de madeira que já pertenceu à Estrada de Ferro Vitória a Minas.
2- O Modo de Escuta, da artista visual Maria Menezes, é composto por um mobiliário e um áudio, que funde memória real e memória construída. "É um local de sentar, ouvir e pensar o entorno. Todas essas questões estão implícitas, mas também serve para ouvir o áudio que eu criei".
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