Recrutadores denunciam homofobia e racismo em seleção de emprego

| 22/08/2021, 19:19 19:19 h | Atualizado em 23/08/2021, 16:25

Uma foto que reúne todos os funcionários de uma empresa diz muito sobre ela. A imagem pode revelar discriminação, inclusão, vieses inconscientes, diversidade. Para compor esses times, muitas empresas contam com a ajuda de especialistas que escolhem os melhores candidatos para um determinado cargo.

Alguns desses recrutadores no Estado já enfrentaram diversas situações de desrespeito e resolveram denunciar. São atitudes de racismo, discriminação com homossexuais e por causa de sexo e idade por parte de empresários que não querem que pessoas com determinadas características façam parte do time de suas empresas.

O CEO da Heach, Elcio Paulo Teixeira, contou que há dois anos foi chamado para fazer a seleção para uma padaria. “O cliente pediu que o candidato não fosse gordo, negro, gay e não tivesse cárie no dente. Eu dei uma resposta muito intuitiva: 'Acho que não posso trabalhar aqui, porque só não sei se tenho cárie, mas o resto eu sou”.

Ele explicou que sua postura nesses casos é rejeitar o trabalho. “É o tipo de cliente que não faz falta para a gente. Nossa postura é rejeitar. Se a gente aceita, incentiva esse tipo de comportamento”.

Na maioria das vezes a discriminação não é tão clara e aparece no fim do processo seletivo. A especialista em carreiras Gisélia Freitas contou sobre uma seleção que fez para uma vaga de assistente comercial.

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O candidato mais qualificado para o cargo era gay. “A vaga era para Vitória e ele morava em Vila Velha. A empresa disse que não ia contratá-lo porque ele morava longe”.

Para ela, essa argumentação foi uma desculpa para dispensar o candidato e encobrir a discriminação. Ela contou que, nesses casos, quando desconfia da discriminação velada, procura dialogar, argumentar e disseminar a importância da diversidade nas empresas.

Já quando percebe algo logo no primeiro contato com a empresa, rejeita o trabalho. “Declino de fazer seleções que vão contra os meus valores”, ressaltou.

O consultor empresarial Sidcley Gabriel da Silva contou que também deixou de fazer um processo seletivo porque o cliente queria só mulheres. A alegação: o empresário disse que “gostava mais” delas.

Na contramão do que esses empresários procuram, já está comprovado por pesquisas que empresas com equipes diversas têm mais produtividade, inovação e lucro.

Saiba mais

Discriminação

  • Diante de propostas de seleções de caráter discriminatório explícito, os recrutadores devem se negar a fazer o trabalho. É importante deixar claro que tal atitude é crime.
  • Caso seja uma percepção implícita, deve partir do recrutador uma abordagem educativa, na tentativa de explicar o motivo da diversidade ser importante. No caso do racismo, por exemplo, lembrar que a maioria da população brasileira é preta e parda e que isso precisa ser espelhado dentro da empresa.

Racismo

  • O racismo é crime inafiançável e imprescritível. A pena varia de 2 a 5 anos de prisão e multa.
  • Trata-se de uma forma de preconceito ou discriminação devido origem étnica ou cor da pele.
  • Muitas vezes, nas seleções de emprego, ele aparece de forma velada, por meio de olhares, de não dar espaço para o candidato falar, já que na cabeça do selecionador, o candidato já está descartado para a vaga pela sua cor da pele, por exemplo.

Homofobia

  • É a discriminação de pessoas em função de sua orientação sexual (por quem sente atração sexual e afetiva) e/ou identidade de gênero (gênero com o qual se identifica).
  • Vários tipos de violência são decorrentes desse tipo de preconceito, envolvendo desde agressão verbal à agressão física, chegando ao extremo do assassinato.
  • O Supremo Tribunal Federal (STF) se posicionou no sentido de que a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero também deve ser considerada crime. A pena é de até 3 anos de prisão.
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Outros tipo de discriminação

  • Além de racismo e homofobia, há relatos de vítimas de vários tipos de discriminação. Mulheres que percebem, durante a entrevista de emprego, que são sondadas para falar se tem planos ou não de ter filhos, se é um plano próximo ou distante.
  • Empresas que buscam informações para saber se o candidato tem alguma doença que possa levá-lo a se ausentar do trabalho.
  • Pessoas com idade acima de 50 anos, que encontram dificuldade de se recolocar no mercado de trabalho, relatam a discriminação etária. Embora se sintam na melhor fase da vida, muitas vezes com filhos criados e energia para dedicar à carreira, batem de frente com a falta de oportunidades.

Entendimentos

  • Tanto o recrutador quanto o empresário podem ser responsabilizados devido a um processo seletivo discriminatório. Tudo depende da forma como a situação aconteceu.

Denúncia

  • Os casos podem ser denunciados para a própria empresa empregadora, caso tenha um canal para isso. Ou mesmo levado para o setor de gestão de pessoas da corporação.
  • A vítima também pode registrar um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima.
  • Como provas pode reunir testemunhas, conversas de WhatsApp, requerer filmagens do local no momento do fato e gravações.
  • Para formalizar a denúncia no Ministério Público do Trabalho, o endereço é www.prt17.mpt.mp.br ou o aplicativo MPT Pardal.
  • Em caso de dúvida ou dificuldade, é possível fazer a denúncia pessoalmente na sede da Procuradoria Regional do Trabalho (PRT) 17ª Região (em Vitória). Tel: (27) 2125-4500.
  • Outra possibilidade é denunciar nas Procuradorias do Trabalho nos municípios de Cachoeiro de Itapemirim, Colatina e São Mateus.
  • Também é possível entrar com uma ação de indenização por danos morais na Justiça do Trabalho.

Fonte: MPT, Edilamara Rangel, Rivelino Amaral, ABRH.

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