Perdão de juros e multas criaria mais empregos

| 16/08/2021, 15:33 15:33 h | Atualizado em 16/08/2021, 15:36

No Brasil há um total de 62,5 milhões de inadimplentes. Cada um deles deve em média R$ 3.937,98. Se todos eles conseguissem negociar e pagar suas dívidas sem multas e juros, o resultado seria significativamente positivo para a sociedade.

A avaliação é de economistas e de uma contadora ouvidos pela reportagem. “Se o brasileiro recebe o dinheiro e não tem dívida para pagar, ele acaba criando consumo e girando mais o comércio em si”, destacou a contadora Mônica Porto. Ela detalhou que isso faz o dinheiro circular e cria empregos.

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O principal segmento diretamente beneficiado seria o comércio, criando mais oportunidades para atendentes, vendedores, gerentes, especialistas em e-commerce entre outros profissionais.

No entanto, a contadora ressaltou que quando o comércio gira, a economia gira e o Produto Interno Bruto (PIB) melhora também. Ou seja, a melhora é ampla e atinge diversos segmentos da economia.

Especialistas destacam que pagar as dívidas significa se restabelecer no mercado de crédito.

“Quanto menor a inadimplência, melhor o ambiente para a queda de juros para os consumidores finais”, destacou o economista Jorge Eloy Domingues da Silva.

O superintendente da CDL Vitória, Wagner Júnior Correa, enfatizou que “nesse momento de retomada econômica, quanto mais pessoas tiverem acesso ao crédito, maior será o impacto positivo na retomada do ambiente de negócios”.

PHD em Contabilidade e Finanças e professor da FGV, André Moura destacou que muitos consumidores conseguem crédito mesmo já estando endividados. Mas ressaltou que o pagamento de dívidas também significa abertura de novas linhas de crédito para as famílias e estabilização do orçamento.

Educação financeira

A educadora financeira Lorena Milaneze destacou que ninguém está imune ao desemprego, a uma situação de doença ou mesmo separação. São situações que podem trazer algum tipo de instabilidade, endividamento e, em último caso, levar a inadimplência.

Lorena explicou que quando o consumidor estuda educação financeira, ele tende a se planejar mais. “A gente foca em fazer uma blindagem, uma reserva estratégica para evitar o endividamento e a inadimplência”, destacou.

Ela explicou ainda que quem não tem educação financeira tem mais chance, durante a sua vida, de se endividar, recorrer a crédito e se tornar inadimplente.

Federação diz que bancos estão renegociando

A falta de educação financeira, o hábito de gastar mais do que ganha, as dificuldades impostas pela pandemia ou por outras situações acabam, muitas vezes, levando o consumidor a acumular dívidas.

Um total de 29,7% dos brasileiros que estão endividados têm como credores os bancos. São dívidas no cartão de crédito, no cheque especial, muitas vezes, com juros de tirar o sono.

De acordo com a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), o setor também tem renegociado. De 16 de março a 31 de dezembro do ano passado, renegociou cerca de 17 milhões de contratos.

O saldo devedor total era de R$ 1 trilhão. A soma das parcelas suspensas dessas operações renegociadas totalizou cerca de R$ 150 bilhões, segundo dados do Banco Central, destacados pela Associação em nota.

Segundo a instituição, esses valores trouxeram alívio financeiro para empresas e consumidores, que passaram a ter uma carência entre 60 a 180 dias para pagar as prestações.

“A maioria dos agentes beneficiados com prorrogação de parcelas foi representada por pequenas empresas e pessoas físicas (ao redor de R$ 80 bilhões)”, diz a nota.

A Febraban destacou ainda que, em março deste ano, os bancos se juntaram ao governo para ampliar o prazo de carência das linhas emergenciais, estendendo-o para até 90 dias. “Para as micro e pequenas empresas, o setor bancário fez concessões de crédito de R$ 325,2 bilhões, incluindo novos contratos e renovações”.

A instituição acrescentou que “no período, o setor renegociou 1,75 milhão de contratos de micro e pequenas empresas, no valor total de R$ 105,1 bilhões, com carência entre 60 e 180 dias para o pagamento, com alívio no pagamento de parcelas de R$ 17,4 bilhões”.

Intenção de não quitar as contas

Na contramão daqueles que buscam levar a vida na honestidade, trabalhando, pagando suas dívidas, honrando seus compromissos, uma minoria dos consumidores querem mesmo é usufruir dos bens “comprados”, sem ter a preocupação de pagar por eles.

Dessa forma, há uma parcela da população que faz aquisição de bens e serviços, com a intenção de lesar o credor. Muitas vezes fazendo aquisições de valores que dificilmente conseguiria pagar, se agisse com honestidade.

O superintendente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) Vitória, Wagner Júnior Correa, contou que muitas vezes existe por parte do consumidor uma falsa esperança de que determinadas dívidas podem prescrever.

“A sociedade ainda não tem uma compreensão de que não é só passar de cinco anos que a dívida vai deixar de existir. Passou desse prazo, a cobrança pode ser feita por via judicial”, lembrou.

O diretor da Fecomércio José Carlos Bergamin enfatizou que esses clientes formam uma minoria. “Poucos têm a irresponsabilidade de comprar e não pagar. Por isso não é aconselhável emprestar seu nome para o outro comprar”.

Esse tipo de comportamento vai quase na direção de pessoas que roubam, assaltam.

“O consumidor mesmo, que tem sua vida, trabalha para receber o seu salário, não faz isso por intenção. Ás vezes ele é imprudente. Mas a intenção dele é de pagar”, diferenciou Bergamin.

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