Mais aviões para ajudar na produção de alimentos no ES

Estado recebeu só este ano pelo menos 100 aeronaves para semear e pulverizar plantações. Uso é em todo tipo de lavoura: de café a trigo

Yamara Tovar, do Jornal A Tribuna | 20/09/2023, 04:30 04:30 h | Atualizado em 19/09/2023, 12:34

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As plantações do Espírito Santo receberam o reforço de pelo menos mais 100 aviões para ajudar na produção de alimentos só este ano. As aeronaves chegaram para pulverizar e semear as lavouras, conforme registro das compras feitas entre janeiro e agosto deste ano.

Se as aquisições continuarem nesse ritmo, o mercado capixaba vai bater o recorde do ano passado, de 197 aviões importados.

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De janeiro a agosto, 127 aeronaves vindas do exterior foram adquiridas, com valor total de compra superior a R$ 2,5 bilhões, segundo o delegado da Alfândega de Vitória, o auditor-fiscal Douglas Costa Koehler. “É um número bem expressivo e com tendência de aumento”, acrescentou.

O delegado explicou que, quando a aeronave é importada, é a Alfândega que libera a entrada no País. “É necessário pagar os tributos devidos. Se não pagar, ou se houver algo ilícito, o avião é apreendido”, concluiu.

Das 127 aeronaves importadas que chegaram ao Estado de janeiro a agosto, 90% se destinam ao agronegócio, segundo análise do Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag). O número corresponde a 114 aviões, que, conforme a instituição, operam em atividades do campo.

Sérgio Bianchini, empresário de Aracruz que tem aeronaves que realizam o trabalho nas plantações, disse que os aviões agrícolas podem pulverizar todos os tipos de lavouras.

“Café conilon, cana, eucalipto, milho, banana, até trigo a gente já pulverizou; pastagem também”, listou o empresário.

Apesar da atividade, Bianchini relatou que há discriminação com a atividade. “As pessoas acham que é só veneno, mas a gente trabalha com orientação e segurança. É preciso desmistificar o preconceito”.

Antônio Garrido, piloto, engenheiro e mestre em Ciências Aeronáuticas, disse que um avião de pequeno porte pode cobrir uma área de 15 a 20 hectares por voo — o que corresponde ao tamanho de um centro comercial ou um hipermercado.

Esse número significa 200 hectares por dia. Por terra, um trator consegue pulverizar 20 hectares por dia. Para cobrir o espaço e o tempo que o avião faz, a máquina demoraria 50 dias para tratar da mesma área de mil hectares.

“O avião diminui as limitações, o tempo de trabalho e chega em lugares que o trator não consegue”, diz o piloto.

Alcides Torres, especialista: "Objetivo é proteger o solo de pragas e doenças"

Engenheiro agrônomo formado pela Universidade de São Paulo (USP), analista, especialista em insumos agropecuários e fundador da Scot, empresa de consultoria agro, Alcides Torres, conversou com a reportagem de A Tribuna e explicou a importância dos aviões agrícolas para o desenvolvimento da cadeia produtiva nacional.

A TRIBUNA - O que é a pulverização agrícola?

Alcides Torres - Imagine um borrifador de álcool. Pulverizar é algo parecido, só que o esguicho é mais forte e tem mais precisão, com o objetivo de proteger o solo de pragas e doenças.

- Por que pulverizar as lavouras com um avião agrícola?

O óbvio: praticidade, segurança, economia de tempo e dinheiro. Não óbvio: a altura das plantas. Algumas atingem dois metros de altura, como a cana-de-açúcar, laranja e milho, aí só o avião mesmo.

- Tem mais exemplos?

A urgência. Quando uma lavoura tem uma doença que avança rápido ou no caso de doenças muito agressivas, não existe tempo para o trabalho manual e nem de máquinas de solo. Para alcançar grandes áreas rapidamente, é necessário usar o avião.

- É seguro usar avião?

Sim, mas existe um mito. Muitos acreditam que os defensivos são prejudiciais ao meio ambiente e à população, quando na verdade, é um controle que faz exatamente o contrário.

- É seguro como?

Existem muitos controles, então não vale para todas as lavouras, nem todos os defensivos. Existe uma proporção adequada e o preparo da calda de pulverização segue as regras do Ministério da Agricultura (Mapa).


Movimento contrário

Ambientalistas vão à Justiça
O fim da aplicação de agrotóxicos por meio de aeronaves — também conhecida como pulverização aérea — está em discussão e chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Na Europa, a pulverização aérea de pesticidas e outras substâncias tóxicas está proibida desde 2009, por causa de potenciais danos à saúde e ao meio ambiente gerados pelas chamadas “chuvas de veneno”.

No Brasil, por enquanto, só o Ceará tem uma legislação que veda a prática — a Lei Zé Maria do Tomé.

Há quatro anos, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) tenta impedir que a atividade seja proibida.

A Confederação argumenta que qualquer lei que impeça a pulverização aérea viola a livre iniciativa.

No entanto, o STF decidiu que a atividade está proibida no Ceará, o que abre espaço para que a medida seja aprovada em outros estados.

O Supremo sustentou a decisão com o argumento de que a atividade gera perigos graves, específicos e cientificamente comprovados de contaminação do ecossistema e de intoxicação de pessoas pela pulverização aérea de agrotóxicos.

A discussão deu fôlego a parlamentares de todo país, que tentam proibir a aplicação de agrotóxicos por aeronaves em seus estados.

Apesar do assunto ser polêmico, no Espírito Santo ainda não há projeto de lei para impedir a atividade de pulverização aérea.

Os números

Novos aviões
Conforme os dados apresentados pela Alfândega do Porto de Vitória, no período de janeiro a agosto deste ano, 127 aeronaves foram compradas para operar no Estado, com gasto equivalente a R$ 2,5 bilhões.

Top 5 

1-  Vitória/ES: 127;
2- Cuiabá/MG: 41;
3- Foz do Iguaçu/PR: 23;
4-  São Paulo/SP: 21;
5-  Belo Horizonte/MG: 13.

Período de janeiro a agosto de 2023

Fonte: Alfândega de Vitória

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