Governo alerta para risco de rombo nas contas do INSS

Congresso Nacional aprova lei que reduz de 20% para 8% a contribuição patronal dos municípios com até 156.200 habitantes

Rodrigo Péret, do jornal A Tribuna | 14/02/2024, 16:57 16:57 h | Atualizado em 14/02/2024, 16:57

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/160000/372x236/Governo-alerta-para-risco-de-rombo-nas-contas-do-I0016756000202402141657/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F160000%2FGoverno-alerta-para-risco-de-rombo-nas-contas-do-I0016756000202402141657.jpg%3Fxid%3D733282&xid=733282 600w, Fachada da Previdência:  governo federal teme migração de prefeituras para o INSS e aumento de prejuízos

A disposição do Congresso em cortar a alíquota de contribuição das prefeituras ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) acendeu um alerta dentro do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o risco de migração em massa de municípios que hoje mantêm regimes próprios de Previdência.

Uma eventual transferência de servidores municipais para o regime geral poderia aprofundar o déficit do INSS, que em 2023 fechou em R$ 311,3 bilhões – ou R$ 283,6 bilhões, descontado o pagamento extraordinário de precatórios represados de anos anteriores.

O temor existe porque o Congresso aprovou uma lei que reduz de 20% para 8% a contribuição patronal dos municípios com até 156.200 habitantes.

A medida foi vetada por Lula, mas o veto foi derrubado pelo Congresso. Na sequência, o governo federal editou medida provisória para revogar o benefício.

Somente com as prefeituras que hoje já recolhem para o INSS, o impacto é de R$ 4 bilhões ao ano. Mas a desoneração pode criar uma situação de elevada disparidade com as 2.118 prefeituras que têm regimes próprios e são responsáveis por mantê-los em equilíbrio.

A advogada especialista em Direito Previdenciário Renata Prado detalha que, embora no curto prazo a migração possa elevar receitas do INSS, no futuro o rombo será maior com o pagamento de mais aposentadorias.

“A arrecadação do INSS ficaria menor para um montante de obrigações cada vez maior. O desequilíbrio acentuado das contas da Previdência exigiria um esforço fiscal ainda maior da União”, disse Renata Prado.

“Bomba-relógio”

O economista Ricardo Paixão classifica a possibilidade de migração como uma “bomba-relógio”.

“Vai explodir a médio e longo prazo. O nó a ser desatado seria um desafio grande no futuro. O ideal é buscar alternativas para evitar essa migração”.

O economista Jorge D'Ambrósio explica que, na prática, por um lado, haveria um alívio para as prefeituras no curto-prazo. “Mas, por outro, afetaria o INSS, que arcaria com futuras aposentadorias, desequilibrando ainda mais o caixa”, explica o especialista.

Entenda

Lei aprovada e veto derrubado

Eventual transferência de servidores municipais para o regime geral poderia aprofundar o déficit do INSS, que em 2023 fechou em R$ 311,3 bilhões – ou R$ 283,6 bilhões, descontado o pagamento extraordinário de precatórios represados de anos anteriores.

O temor existe porque o Congresso Nacional aprovou uma lei que reduz de 20% para 8% a contribuição patronal dos municípios com até 156,2 mil habitantes. A medida foi vetada por Lula, mas restabelecida pelo Congresso.

Na sequência, o governo editou uma MP (medida provisória) para revogar o benefício, considerado inconstitucional pela área jurídica do Executivo.

A iniciativa, porém, enfrenta resistências de deputados e senadores e é ainda alvo de negociações.

Impacto bilionário

Só com as prefeituras que hoje já recolhem para o INSS, o impacto é de R$ 4 bilhões ao ano. Mas a desoneração pode criar uma situação de elevada disparidade com as 2.118 prefeituras que têm regimes próprios e são responsáveis por mantê-los em equilíbrio.

Nesses municípios, a alíquota patronal normal oscila entre 11% e 31%, com uma média de 16,5%. No entanto, o déficit atuarial - jargão técnico para o dado que sinaliza a falta de dinheiro suficiente para cobrir o pagamento de benefícios no futuro - obriga cerca de metade das prefeituras a arcar com alíquotas suplementares que vão de 0,1% a 153,7% sobre a folha (em média, 18,5%).

Na avaliação do Ministério da Previdência Social, o corte da alíquota do INSS para municípios poderia intensificar a busca de prefeitos pela migração para o regime geral como forma de obter um alívio de curto prazo sobre o caixa. Esse movimento já vinha ocorrendo no ano passado.

Preocupação

O que preocupa o governo é que alguém precisará pagar essa conta no futuro. A arrecadação do INSS ficaria menor para um montante de obrigações cada vez maior. O desequilíbrio acentuado das contas da Previdência exigiria um esforço fiscal ainda maior da União.

A mudança traria repercussões relevantes para os servidores municipais. No caso de um funcionário que trabalhou a vida inteira para a prefeitura e nunca contribuiu para o INSS, a migração de regime o jogaria na regra definitiva para aposentadoria aprovada na reforma da Previdência - idade mínima de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens.

Fonte: Pesquisa AT

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