Fila de espera para comprar carro zero dura 6 meses no Estado

Montadoras reduziram produção e modelos estão em falta em lojas

Rafael Gomes, do jornal A Tribuna | 18/11/2021, 17:38 17:38 h | Atualizado em 18/11/2021, 17:38

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/100000/372x236/inline_00106623_00/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F100000%2Finline_00106623_00.jpg%3Fxid%3D261110&xid=261110 600w, A picape S10 é um dos modelos que estão em falta no mercado do Estado e para o qual há necessidade de esperar
  

Com a produção de veículos registrando queda histórica, a fila de espera para comprar um carro zero quilômetro está chegando a seis meses no Estado.

Os prazos para a entrega aumentaram e a demora tem gerado transtorno tanto para quem busca os veículos mais populares, quanto para quem deseja comprar os mais caros, como os SUVs.

“A fila está muito grande. E muitas vezes, quando o carro chega, o cliente desiste de comprar por causa do preço, pois a demora foi tanta que o valor sobe, em alguns casos mais de 5% de um mês para o outro”, afirmou o presidente da Associação de Revendedores Independentes de Veículos do Estado (Arives), Paulo Souza.

A demora na entrega dos veículos tem sido tanta que algumas concessionárias já estão desistindo de fazer lista de espera. O objetivo, agora, é conseguir atender a demanda mais antiga, como explicou o presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Espírito Santo (Sincodives), José Francisco Costa.

“A espera trazia transtorno e insatisfação dos clientes. Com isso, empresas não estão mais fazendo lista, estão tentando fazer entrega de quatro meses atrás.”

A demora também frustrou os vendedores, que esperavam por um ano positivo. Em 2020, no auge da pandemia, a venda de carros caiu  62% no Estado, segundo o Sincodives. Com a melhora no cenário  e o reaquecimento da economia, a procura aumentou e a expectativa era alta.

“Em 2020, tínhamos fornecimento, mas não tínhamos clientes. Este ano, estávamos animados, porém, agora, a demanda é alta, mas não consegue ser atendida. O mercado está sendo ditado pelo volume de veículos que as montadoras entregam”, ressaltou Costa.

O atraso é consequência da crise no fornecimento dos semicondutores, que são componentes eletrônicos dos carros.

O mês de outubro, que normalmente costuma  ter bastante produção, foi o pior dos últimos cinco anos. Calcula-se que a indústria automotiva global perderá de 7 a 9 milhões de veículos produzidos em 2021, segundo a  Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

“Nunca havíamos tido tanta dificuldade. As incertezas para garantir a produção de veículos é grande. Estamos presenciando uma procura por parte dos  consumidores para compra de novos produtos, mas não temos unidades para atender à demanda”, afirmou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes.

Preço de usados sobe 20% e vendas voltam ao normal

Com a demora na entrega dos carros novos, cresceu a procura por veículos seminovos e usados. O resultado disso foi a valorização desses modelos, fazendo o preço disparar e subir até 20%.

“Há um ano, quem vendia perdia 20% do valor com a desvalorização. Agora, é o contrário, ganha 20%”, ressaltou o presidente da Associação de Revendedores Independentes de Veículos do Estado (Arives), Paulo Souza.

A crescente no comércio de seminovos foi tão grande que as vendas que estavam em baixa durante o ano de 2020 voltaram ao normal, segundo Souza.

O acumulado de vendas em todo o País aumentou 30% com relação ao mesmo período de 2020, segundo a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto). Até o final do mês de outubro, o total chegou a 12 milhões de carros, contra 9 milhões no mesmo período do ano passado.

Para o presidente da Fenauto, Ilídio dos Santos, as variações de venda ainda podem ocorrer até o final do ano. “Mas esperamos que o ano feche positivo”, disse.

Apesar desse aumento, o presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Estado (Sincodives), José Francisco Costa, acredita que a tendência é de queda a partir de agora. 

“É o mercado de venda de carro novo que faz o estoque do usado. Com o desabastecimento dos novos, o estoque de carro usado também cai. O mercado não vai se sustentar”, frisou.

Mais reformas e oficinas lotadas

A dificuldade em comprar um carro novo tem impactado até mesmo o setor de reparo. Sem opção de compra, os proprietários estão buscando a reforma de seus veículos, lotando as oficinas. 

“Antes, muitos chegavam querendo fazer reparos para vender o carro, somente o suficiente para venda. Agora, com a dificuldade maior para comprar veículo novo, os proprietários estão ficando mais com o carro, e procuram as oficinas para fazer o reparo e  seguir com ele. A demanda cresceu muito, e muitas oficinas estão lotadas”, afirmou o presidente do Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado (Sindirepa), Diego Receputi.

Com a demanda alta, Receputi conta que as empresas já estão buscando expandir o serviço. 

“Neste momento, muitas estão querendo expandir e contratar, e só não conseguem por falta de profissional qualificado no mercado. Isso tem acontecido até mesmo nas que reduziram a equipe durante a pandemia. Mas o setor em si foi pouco impactado com a pandemia”, ressaltou.


POPULARES, SUVs E PICAPE EM FALTA

Fila de espera
    • A espera para comprar diversos modelos de carro zero quilômetro chega a ser de seis meses no Estado. 
    • O motivo é a falta de veículos no mercado – consequência da crise na produção de carros, que tem registrado baixas históricas.
    • O prazo maior para a entrega é tanto para quem busca os veículos mais populares quanto para quem deseja comprar os mais caros.
    • Entre os veículos, estão modelos como HB20, Argo, Gol, SW4, Corolla e S10.
    • Falta de semicondutores

      • Nos últimos meses, os fabricantes de veículos estão tendo problema na produção por conta da falta de semicondutores.
      • Os Semicondutores são microchips responsáveis por fazer os componentes eletrônicos do veículo, como computador de bordo, frenagem autônoma e ligação correta entre o motor e o câmbio.
      • Somente 10 empresas são responsáveis por 72% da fabricação de semicondutores no mundo, sendo somente uma indústria no Brasil.
      • Com a pandemia, a fabricação passou a ser destinada a outros aparelhos eletrônicos, afetando a produção dos veículos.

      Queda na produção

      • Calcula-se que a indústria automotiva global perderá de 7 a 9 milhões de veículos produzidos em 2021.
      • A produção em outubro foi a pior em cinco anos.

      Fonte: Arives, Sincodives e Anfavea.

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