Cebola sobe 20 vezes mais do que inflação na pandemia
Pesquisa feita pelo Procon de Vitória mostra que a cebola teve a maior variação de preço no período da pandemia, de março de 2020 a março deste ano, ficando 88,44% mais cara.
O produto subiu 20 vezes mais do que a inflação média do ano passado, que fechou em 4,52%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Outros destaques do levantamento foram o feijão (79,33%), óleo de soja (58,54%) e arroz branco (51,81%).
O superintendente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), Hélio Schneider, explica que o período de cultivo acabou trazendo essa alta variação no preço da cebola.
“Não é estranho vermos grandes variações, para mais ou para menos, no valor do feijão e da cebola, que precisam ser cultivados em climas mais úmidos, assim como o tomate. No ano passado, a produção foi prejudicada e a oferta diminuiu muito, puxando os preços para cima”, afirmou.
Já no caso do arroz, óleo de soja e carne bovina, ele afirma que os altos preços estão diretamente ligados à cotação do dólar. “São matérias-primas cotadas na moeda estrangeira. Com o dólar alto, fica mais vantajoso para o produtor vender para fora”, analisou.
No caso do porco e do frango, o custo da produção aumentou, já que insumos como trigo e farelo de soja, usados para alimentar os animais, também são cotados em dólar.
O Procon também pesquisou a variação de preços de um supermercado para outro.
“Pouco tempo atrás, os preços eram menores nos bairros do que nos grandes centros. Agora, porém, a situação mudou. E o consumidor consegue economizar até R$ 18 se sair do bairro e for comprar em centros maiores, já contando com os custos desse deslocamento”, revelou a gerente do Procon de Vitória, Denize Izaita.
A pesquisa completa, com os preços dos 64 produtos mais procurados, está disponível no aplicativo “Procon Vitória” para que o consumidor possa saber onde encontrar os melhores preços.
VALORES
Cebola (kg)
- Março de 2020 R$ 1,99
- Março de 2021 R$ 3,75
- 88,44% de aumento
Feijão preto (kg)
- Março de 2020 R$ 4,45
- Março de 2021 R$ 7,98
- 79,33% de aumento
Óleo de soja (900 ml)
- Março de 2020 R$ 3,69
- Março de 2021 R$ 5,85
- 58,54% de aumento
Arroz (5 kg)
- Março de 2020 R$ 12,45
- Março de 2021 R$ 18,90
- 51,81% de aumento
Alta de juros para conter preços
Na tentativa de controlar a inflação, o Banco Central aumentou a taxa Selic em 0,75% na última semana. Agora, a taxa de juros é de 2,75%. De acordo com especialistas, a medida deverá inibir o consumo e equilibrar a balança da oferta e da procura.
“O aumento da taxa de juros deverá trazer novos investidores para o Brasil e valorizar nossa moeda. O dólar já registrou uma pequena queda e deve continuar caindo, fazendo com que as matérias-primas produzidas aqui também fiquem mais baratas”, comentou o economista Eduardo Araújo.
O especialista acredita que o que deve surtir mais efeito para a recuperação econômica seja a política de imunização, com a vacinação.
“As medidas mais rígidas de isolamento social e a vacinação da população devem acabar com essa crise e, consequentemente, com a inflação. Mas perdemos muito tempo antes de começar a imunização, deixamos algumas oportunidades passarem. Agora, o cidadão está pagando a conta, com o alto índice de desemprego e os altos preços dos produtos básicos.”
O economista José Márcio Soares de Barros concorda que uma redução mais tímida na taxa de juros seria melhor para o mercado, mas defende a necessidade de controlar o inflação.
“O aumento acabou surpreendendo por ser maior do que o esperado, mas, a longo prazo, os efeitos serão positivos. É momento de inibir o consumo, fazer com que as pessoas não saiam comprando sem saber como pagar, e diminuir a oferta sobre os produtos altamente inflacionados”, defende.