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Tribuna Livre

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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

Dona Domingas, importante mulher na cultura capixaba

| 11/06/2021, 10:17 10:17 h | Atualizado em 11/06/2021, 10:21

Em um pequeno elevado, a estátua de Dona Domingas. Eu a conheci. Barraquinho no lugar denominado Pedreira, local mais alto do Morro do Pinto, em Santo Antônio.

Magra, negra, baixa, neta de pessoas escravizadas, não conversava, nem sorria. Sofria com a perna dolorida em seu andar lento, sacos às costas catando papelão e papel, um pau ajudava a andar e espantar cachorros. Não pedia nem aceitava ajuda. Primeira catadora de papel.

Sua presença exótica era respeitada por todos. Nas datas religiosas os padres pavonianos realizavam procissões, ela acompanhava cabisbaixa, rezando sem olhar pra ninguém. Só falava o necessário com o vigário Pe. Matheus Panizza pedindo missa em intenção das almas dos escravizados, com Zé Costa dono da venda onde comprava o que precisasse à sobrevivência com o dinheiro da venda de papel e papelão e com o comprador de papelão e papel. Não falava com mais ninguém.

Um dia, eu e meu pai fomos à Venda do Zé Costa, ele comentou que Dona Domingas não aceitava ajuda de ninguém, fazia questão de pagar suas compras, só falava para pedir o que queria comprar, e não olhava para ele.

Os padres, sendo italianos, convidaram o escultor italiano Carlo Crepaz, que aceitou o convite e produziu muitas esculturas, incluindo a de Dona Domingas. Ela aceitou a pedido de Pe. Matheus.
Na Missa o padre falou para não se admirarem, pois ele pediu para ela posar. Adquirida pela Prefeitura de Vitória, a estátua foi colocada em área lateral da escadaria do Palácio Anchieta. Escultor lucrou com trabalho gratuito de Dona Domingas!

Ela trabalhava do amanhecer ao entardecer, na labuta diária, caminhada árdua. Viver tedioso, sem perspectivas. A esfarrapada com seus trapos seguia a linha do bonde, jamais entrou em um. Cães latiam, talvez saudando a trabalhadora.

A igreja de Santo Antônio recebia seu corpo magro, aos pés da Santa que intercedia por milagres para os necessitados. Devota da Mãe de Cristo, ela provável santa. Não aparentava ter sonhos.
Seu futuro, retornar à casinha, em sua vida de formiguinha carregadeira. Tomava chuva. Quiçá, seriam os pingos lágrimas que seus olhos não vertiam.

Não subiu o Morro para o lançamento da Pedra fundamental do Santuário em 9 de dezembro de 1956: sua igreja era a pequena Matriz, desde a inauguração, em 29 de maio de 1951. Em 1963, extinção do serviço de bonde, a ela indiferente. Inauguração do Santuário sábado, 29 de maio de 1971, não compareceu.

Não teve nenhuma espécie de brinquedo nem teve estudo. No fim da vida, não deixou saudades. Deixou papel e papelão, jogados nos lixos pelos moradores. Deixou a vida, foi a óbito em tempo chuvoso: a natureza chorou. Foi sepultada no cemitério do bairro, como indigente.

Sua estátua num canto discreto como discreta ela foi, sem o nome identificado, porém a localização não é justa: merece local de destaque na capital capixaba e placa com seu nome e sua biografia. Dona Domingas faz parte da história de Vitória e do Estado do Espírito Santo.

Aldo José Barroca é escritor membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.

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