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Tribuna Livre

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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

Um crime

Coluna foi publicada neste domingo (05)

Pedro Valls Feu Rosa | 05/05/2024, 10:00 10:00 h | Atualizado em 03/05/2024, 16:42

Estranhamente não se fala da administração pública, tantas vezes omissa na tarefa de prevenir novas enchentes

E lá veio, em algum lugar perdido do planeta, outra inundação. Os “suspeitos de sempre” são imediatamente chamados às falas. Do aquecimento global a São Pedro, do desmatamento à poluição, são todos submetidos a um brutal linchamento moral. Estranhamente não se fala da administração pública, tantas vezes omissa na tarefa de prevenir novas enchentes. Afinal, é mais fácil acusar quem não pode se defender.

As águas tudo levaram. Do patrimônio duramente conquistado aos animais de estimação, da dignidade à própria vida, tudo desapareceu enxurrada abaixo, no meio da lama fosca.

Surge, em cenário tão cinzento, um raio de luz: a compaixão da população, materializada em doações de medicamentos, vestes, equipamentos domésticos etc. Não raramente, porém, logo retorna uma lúgubre penumbra a esconder os desvios de donativos – ora distribuídos aos amigos, ora guardados para uso em tempos mais convenientes, ora simplesmente afanados.

Por falar em desvios não é incomum surgirem denúncias de que as verbas públicas destinadas ao socorro daqueles que tudo perderam estão também indo “enxurrada abaixo”, na torrente das facilidades legais instituídas – justamente, registro – para momentos que tais.

Instalam-se na comunidade atingida a fome e a sede – saciadas pela ajuda de voluntários quando acontece de a eventual inoperância da administração pública não atrapalhar. Não são exceção denúncias de que toneladas de alimentos se perdem por conta disso – acabam no lixo.

Chega, então, o momento da remoção dos escombros e da limpeza das casas que não desabaram. Note que o tom fosco da lama que encobre as vestes dos amigos e familiares das vítimas contrasta com o brilho impecável dos coletes vermelhos envergados por alguns administradores ao longo de entrevistas mil – um traje quase que obrigatório nas aparições públicas em tempos assim.

Pode acontecer de surgir alguma ajuda oficial. Muitas vezes, porém, chega acompanhada de sérias denúncias no sentido de que o valor do auxílio é inferior ao da verba de publicidade gasta para divulgá-lo com tons de piedade.

Passado algum tempo tudo começa a retornar ao ramerrão habitual. Os mortos vão sendo sepultados, os imóveis reparados e os prejuízos contabilizados. Entre um culto religioso e outro, lança-se o olhar ao céu em busca de bênçãos. Porém, quase nunca às medidas que a administração pública deveria ter adotado a tempo de prevenir tanta dor e sofrimento.

Alguns meses depois, quando já normalizada – eu disse “normalizada”? – a situação, poucos percebem que as obras de contenção, limpeza pública, desassoreamento, dragagem e similares, que evitariam enchentes outras, simplesmente não estão sendo realizadas. Dizem alguns que assim é por não serem daquelas que realçam uma administração. Não, não pode ser! Não podemos ser assim tão pequenos!

Diante de um quadro tão medonho, alguns meios de comunicação ingenuamente noticiam episódios que tais como uma “tragédia”. Humildemente, discordo. O que houve, em verdade, foi um crime. Inominável crime.

- Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo

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