O extrativismo
Coluna foi publicada no domingo (10)
Hegel, o famoso filósofo alemão, exclamou certa vez que “a única coisa que a história ensina é que ela não nos ensinou nada”. Eis aí uma frase que se encaixa como uma luva no Brasil de nossa geração, que insiste em permanecer exportador de riquezas naturais e importador de tecnologia.
Talvez devesse ser lembrado, por todos nós, o exemplo de Dom João V, o rei português apontado como um dos responsáveis pelo desperdício do ouro carregado do Brasil – que chegou a 14 toneladas anuais. Segundo consta, no reinado dele o gasto em festas e supérfluos foi tamanho que mereceu até um versinho: “Ai quanto veludo e seda, e quantos finos brocados! Ai, como está com seus cofres completamente arrasados”.
Foi assim que 60% do nosso ouro acabaram com a Inglaterra, credora de Portugal, que o utilizou sabiamente para financiar as bases da futura Revolução Industrial e se desenvolver de forma sólida.
Ignorando esta lição, o Brasil segue firme no extrativismo. Porém, e eis aí algo sério, já dá para ver no horizonte o final da festa – foi o que extraí de uma pesquisa divulgada há algum tempo.
Vamos começar pelo minério de ferro. Temos 7,1% das reservas mundiais e somos o segundo maior produtor. Tudo isto seria suportável, se o minério de ferro fosse uma riqueza renovável. Mas não é! Se o ritmo de extração se mantiver nos níveis atuais (e ele só tem aumentado), em 82 anos nossas reservas conhecidas vão estar esgotadas.
Há também o níquel. Temos 6,7% das reservas mundiais e somos o sétimo maior produtor. Porém, a continuarmos nesta tocada, em 116 anos passaremos a importadores.
Somos também grandes exportadores de bauxita – o segundo do mundo, para ser exato. Nós podemos exportar tanta bauxita por termos a terceira maior reserva do planeta – que, no entanto, acabará em 159 anos, caso seja mantido o nível de exploração.
E o que dizer do chumbo? Temos a maior reserva do mundo e somos o 11º produtor. Porém, a se manter o ritmo de extração, em 96 anos não o teremos mais. Mas pior ainda é o caso do nióbio, um metal valiosíssimo. Temos a maior reserva do planeta e somos os maiores produtores – porém, só durante mais 35 anos, quando estarão esgotadas nossas fontes.
Somos também grandes exportadores de estanho. Temos a terceira maior reserva do mundo e somos o quinto maior produtor – mas, por pouco tempo, já que em 80 anos também esta riqueza terá se esgotado. Não nos esqueçamos do ouro: temos a 10ª maior reserva e somos o 14º produtor mundial – mas, por 43 anos, tempo previsto para o esgotamento das jazidas.
Finalmente, o Brasil também foi abençoado com a sexta maior reserva de diamantes do mundo, e atualmente é o nono maior produtor. Porém, no ritmo atual de extração, daqui a 123 anos também esta riqueza estará esgotada.
Fico a pensar no País que entregaremos para a geração seguinte. Abrimos mão de desenvolver um parque industrial próprio, desnacionalizamos nossas mais importantes empresas e estamos consumindo inebriadamente as maiores riquezas não-renováveis que a natureza nos ofereceu. Cuidado, Brasil!