O conceito de idoso ficou velho
Coluna foi publicada nesta quarta-feira (15)
O envelhecimento populacional fortalece uma pauta importante relacionada ao público 50+: a economia prateada, também chamada de economia da longevidade. A lógica é simples: se em 2030, como indicam as pesquisas, teremos no Brasil mais idosos do que crianças, precisamos discutir os desafios e as oportunidades que vêm junto com essa transformação.
Como empresas, pessoas e governos têm se debruçado sobre esse novo mundo, onde as pessoas não somente querem vivem mais, mas também viver melhor, tendo acesso a serviços e produtos de qualidade? É essa uma das questões que se coloca.
Nesse sentido, vale ressaltar – sem, é claro, ignorar a desigualdade que nos caracteriza como nação e que precisa ser combatida – que há cifras expressivas envolvendo este público. Levantamento da agência Fleishman Hillard revela que a economia prateada é a terceira maior atividade econômica do mundo, responsável por movimentar US$ 7,1 trilhões (R$ 36 trilhões na cotação atual) ao ano.
No Brasil, o número é de R$ 1,6 trilhão por ano, com cerca de R$ 900 bilhões destinados ao consumo – e o restante para reserva financeira. Ou seja, a economia prateada é – e tende a se tornar cada vez mais – um setor importante da economia.
Além disso, ao se aprofundar neste perfil, o que se percebe é que os dados relacionados à saúde estão cada vez mais relacionados ao bem viver, e não apenas ao tratamento de doenças, em um fenômeno que o especialista e professor da FGV Martin Henkel, bem definiu: “É como se eles dissessem em alto e bom som: agora é a minha vez”.
Agora é minha vez de viajar. Agora é minha vez de ter tempo pra mim. Agora é minha vez de escolher. Enfim, agora é a minha vez e, na era da valorização da experiência, vale se atentar que o desejo de viver coisas novas, boas e diferenciadas não é privilégio dos mais jovens. Ao contrário: o amadurecer tende a nos tornar mais sábios e capazes de valorizar o que realmente nos faz bem e aí a experiência entra no lugar do acúmulo sem propósito.
Recentemente, conversava com uma senhora de 72 anos sobre as atividades que lhe trazem bem-estar e fiquei feliz ao vê-la concluir: “Tenho que aproveitar enquanto não fico velha”. E não é exatamente isso que devemos querer, para nós e para todos: uma vida plena, onde o passar dos anos não seja, necessariamente, sinônimo de uma “aposentaria” de sonhos?
Que o compromisso das empresas com seus clientes contribua para oferecer mais e melhor para que se cumpra aquilo que tão lindamente nos disse Milton Nascimento, em Clube da Esquina 2: “Porque se chamavam homens também se chamavam sonhos e sonhos não envelhecem”.
Aliás, em sua Última Sessão Música – que apesar de ter sido sua despedida dos palcos, não representou sua aposentadoria –, o cantor, que será enredo da Portela em 2025, disse para um Mineirão lotado por 60 mil fãs do alto dos seus 80 anos: “A prova de que sonhos não envelhecem é que estou aqui, cantando para vocês”. Que a gente não se esqueça disso.
- Maycon Oliveira é diretor de marketing da MedSênior