O Brasil no contexto da Guerra Fria sem fim
Em seu último discurso de abertura na Assembléia Geral das Nações Unidas, o Presidente Jair Bolsonaro afirmou que “o Brasil estava à beira do socialismo”; o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por sua vez, sem referir-se diretamente à China e Rússia, disse “não querer promover uma nova Guerra Fria”, o que sugere ser este tema algo importante a ser discutido e revisado.
No dia 10 de janeiro de 1946, durante a primeira Assembléia Geral das Nações Unidas ficou definida a supremacia dos Estados Unidos em assuntos de segurança nacional, envolvendo países latino-americanos.
Em 1947, em Conferência no Rio de Janeiro, foi assinado o Acordo Interamericano de Assistência Mútua, chancelando a proeminência dos EUA, no que concerne à luta contra o comunismo na América Latina, garantindo-se com isso apoio militar em caso de um conflito intra ou extracontinental, posição ratificada posteriormente na Conferência Interamericana, em Bogotá, onde foi fundada a Organização dos Estados Americanos (OEA), cujo objetivo era formar uma liga anticomunista intracontinental.
A política norte-americana de proteção de sua área de influência geopolítica tornou-se incisiva, sobretudo, após a Crise dos Mísseis (1962), ou seja, quando o governo cubano, de certo modo abandonado pelos soviéticos, assumiu a postura de liderança no processo revolucionário de expansão do comunismo na América Latina como forma de salvaguardar-se no caso de uma eventual invasão dos EUA.
Com efeito, este país, com ajuda de setores civis e das forças armadas nacionais latino-americanas, iniciou verdadeira “cruzada anticomunista” contra governos, partidos, sindicatos e outros atores sociais suspeitos de serem socialistas, comunistas ou de alguma forma “subversivos”.
À medida que o regime soviético internamente desmoronava-se, o governo americano entendia não ser mais necessário manter sob implacável dominação política boa parte da América Latina, razão pela qual países como Brasil passaram por um processo paulatino de anistia e redemocratização.
Com o fim da União Soviética, ficou patente que o “Comunismo” não era mais ameaça ao sistema capitalista.
O que chama a atenção de modo surpreendente é o fato de que a Guerra Fria teve impacto profundo nos rumos políticos e econômicos dos governos latino-americanos. No caso brasileiro, ele parece ter produzido efeitos de longo prazo, cujos reflexos se fazem sentir até hoje nos discursos políticos.
Na última eleição, a polêmica da ameaça comunista ocupou lugar de destaque. O que se espera para esse ano é que os candidatos formulem respostas para questões como o problema da taxa de câmbio, o controle inflacionário, a geração de emprego, etc., pois estas são questões que colocam em risco a soberania nacional e o bem-estar dos brasileiros.
FLÁVIO SANTOS OLIVEIRA é professor e doutor em História pela Ufes.