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Opinião Internacional

Colunista

Religião e política

Coluna foi publicada no domingo (07)

José Vicente de Sá Pimentel | 08/07/2024, 12:19 12:19 h | Atualizado em 08/07/2024, 12:19

Nos Estados Unidos, Trump vem adotando em seus discursos um tom de voz cada vez mais parecido com a cantilena monocórdica de um padre de anedota. Chega a ser embaraçoso ouvi-lo, dá aquela vergonha alheia. Mas as pesquisas de opinião demonstram que seus apoiadores gostam, e ele vai em frente.

Por mais que os críticos denunciem a sonsice do playboy de vida dissipada que nunca demonstrou interesse em igreja nenhuma, o cálculo político o impele nessa linha de deboche. Abaixo do Equador, alguns políticos também vêm adotando, sempre que há uma câmera por perto, um ar de compungida religiosidade.

Ressalte-se que Bolsonaro não inovou, apenas seguiu a tendência que, há bastante tempo, irmana líderes autocráticos mundo afora. Se os “convertidos” dessem a Cesar o que é de Cesar e deixassem a fé à margem de suas decisões temporais, o dano seria menor. Só que não. Veja-se o caso de Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, que, no início deste ano, declarou que sua “energia não é biológica”; ele seria “completamente devotado a Deus” e por Ele enviado à Terra “com um propósito”.

Ocorre que esse propósito implica transformar a Índia num país somente hinduísta, batendo de frente com Gandhi e Nehru, que se empenharam para manter o Estado bem separado da religião. Modi desdenha dos pais da pátria indiana, e é ousado no seu atrevimento.

Em 1992, uma mesquita islâmica, localizada na cidade de Ayodhya, foi destruída por hinduístas hindus, em meio a uma dessas ondas de violência que vira e mexe irrompem por lá.

Pois Modi mandou construir sobre as ruínas muçulmanas um templo hinduísta e, em janeiro passado, foi pessoalmente inaugurá-lo, apesar do clamor em contrário não só dos fiéis muçulmano, mas também de políticos e intelectuais importantes, dentro e fora do país.

Na Turquia, onde os muçulmanos são majoritários, Recep Endorgan seguiu roteiro semelhante, ao transformar por decreto, em 2020, a Basílica de Santa Sofia em mesquita. Ele sabia do alvoroço que causaria, era como se contasse com a indignação do mundo civilizado.

Nem piscou, sua política se nutre da confusão que provoca. Por isso mesmo, está agora dobrando a meta: introduziu nos currículos escolares a educação religiosa e a valorização dos “valores nacionais”, sob aplausos de apoiadores que o consideram “um enviado de Alá”.

O mais notável reconvertido desta safra é Vladimir Putin. O ex-oficial do serviço secreto da União Soviética (KGB) é o que há mais tempo constatou que a imagem de crente piedoso pode render dividendos políticos.

Lembro que quando Putin visitou os Estados Unidos em 2002, o então presidente George W. Bush se deixou encantar pela força da fé do visitante. Desde então, o ex-espião comunista se exibe cada vez mais beato, quando lhe convém.

Tem dado certo. Em 2007, uma seita ortodoxa de uma aldeia do Volga passou a venerar Putin como a reencarnação de São Paulo Apóstolo. Em 2010, Vladislav Surkov, à época assessor palaciano, qualificou o presidente de “cavaleiro branco”, descido dos céus para salvar a Rússia.

Desde a invasão da Ucrânia em 2022, a mídia social do Kremlin embute frequentes alusões ao que seria a simbiose entre Putin e Deus. Os pelegos tentam justificar a blasfêmia, argumentando que o povo reage melhor às adversidades quando acha que Deus está a seu lado. O argumento poderia até ser considerado ardiloso, não fosse tão ostensivamente hipócrita.

Nós brasileiros já vimos esse filme. Se alguém pensou que o evangelismo triunfante de 2019 a 2022 era uma coisa randômica, pense de novo. Reavalie, diante da evidência internacional, a probabilidade de existir por trás da fachada de evangelismo uma estratégia que pode estar sendo tramada, neste momento, em Camboriú e em outras paragens, visando à volta dos escolhidos ao Palácio do Planalto.

O mais preocupante é que, sendo o Brasil, constitucionalmente, um Estado laico, um governo religioso só poderá sustentar-se se a Constituição for abolida, e sem Constituição não há democracia. O que pensa o leitor? Eles preferem a democracia ou o poder?

Imagem ilustrativa da imagem Religião e política
José Vicente de Sá Pimentel é embaixador aposentado |  Foto: Divulgação

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