Férias: um ócio necessário

As férias são um momento de desconexão, descompressão e de regularização |  Foto: © Divulgação/Canva

“Vamos fugir, deste lugar, baby…”. O grande Gilberto Gil está mais que correto! Tem hora que precisamos fugir porque ou a gente foge ou a gente surta! Por isso, que venham as férias! A rotina é algo desgastante por si só! Acordar todos os dias e fazer as mesmas tarefas é desgastante para o corpo e para a saúde mental!

Isso se dá tanto pelo esforço físico quanto pelo esforço psíquico que temos de despender em atividades repetitivas, não desafiadoras e, porque não, chatas.

Para piorar, o mundo em que vivemos cobra de nós produtividade em excesso. E cobra não só por questões de trabalho, mas por questões sociais. Aposto que você já foi julgado por não estar realizando um exercício físico, não estar ampliando seus conhecimentos com um curso novo ou não estar interagindo com pessoas em festas por aí!

Quando nos obrigamos a fazer algo que não nos causa prazer, apenas porque precisamos ser produtivos ou queremos evitar o julgamento alheio, isso também é rotina! E isso vale para qualquer idade.

Podem ver que nem mesmo as crianças conseguem fugir das rotinas exaustivas de escolas e atividades extracurriculares! É inglês duas vezes por semana (“vai ser bom para ela no futuro”), natação três vezes (“o corpo precisa de movimento”), reforço uma hora por dia (“aquela nota de Física foi muito baixa”) e pracinha toda noite (“ele precisa de socialização”). Você se cansou lendo? Imagine a criança!

Em 1995, o sociólogo italiano Domenico De Masi lançou seu livro La Find del Lavoro, em português, O Ócio Criativo. A ideia do autor era fazer uma crítica à sociedade pós-industrial, que via no trabalho a solução de todos os problemas! O sociólogo propõe um outro olhar. O mesmo explora a ideia de como o ócio pode ser uma fonte de inovação e realização pessoal na era contemporânea.

Não é à toa que grandes empresas como Google e Facebook incentivam no ambiente de trabalho uma pausa para realização de atividades prazerosas, como dormir e jogar videogame.

As férias são um momento de desconexão, descompressão e de regularização. A desconexão gera a diminuição das preocupações com as cobranças diárias, diminuindo a ansiedade.

A descompressão age diretamente nos hormônios que influenciam no estresse, e há a regularização do sono, haja visto que todos os fatores anteriores não lhe deixam ter uma noite de sono tranquila, né? Mas isso só acontece se realmente aproveitamos as férias! Se nos damos o direito de realmente nos desconectarmos e permitimos que nosso cérebro (coitado) vá descansar.

Vejo pessoas organizando as suas férias com milhares de atividades! Fazem cronogramas, escolhem viagens, estipulam dias e horários para fazer trilhas, andar de escuna, esquiar na neve... Parece bacana! Mas se tal organização virou um planejamento estratégico minimamente calculado, cadê o ócio?

E se tudo isto for criado para obter “flashes” magníficos para as redes sociais, piorou.

Mario Sergio Cortella, nosso querido filósofo brasileiro, afirma que ócio é quando temos um tempo livre e escolhemos (sem determinações sociais) o que queremos fazer!

Portanto, escolha as suas férias do seu jeitinho! Se quer se jogar no sofá e ver filmes o dia inteiro, se jogue! Se quer fazer uma viagem cheia de aventuras, faça! No meu caso, é “pé na areia, caipirinha, água de coco, a cervejinha”! Boas férias!