Pai faz faculdade para ajudar filho autista a realizar sonho

| 06/01/2021, 15:10 15:10 h | Atualizado em 06/01/2021, 15:41

O desejo de se formar na profissão que sempre sonhou pode ser uma das maiores motivações para superar as dificuldades que a vida impõe. E quando se tem pessoas dispostas a caminhar ao lado nessa jornada, a missão costuma render belas histórias.

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dos autistas
Foi o que aconteceu com o técnico industrial Luís Felipe Soares, de 46 anos, pai de Lucas Weberling, de 23, que possui autismo de grau leve. Luís entrou na faculdade de Direito com o filho para ajudá-lo a realizar o sonho de se formar.

A história teve início em 2016, quando Lucas, então com 19 anos, decidiu cursar Direito, profissão da mãe, Viviane Weberling. A família mora na Serra.

Por Lucas ser autista e ter um histórico de episódios de bullying na adolescência, enquanto fazia o ensino médio, Luís decidiu acompanhar o filho durante a faculdade. A decisão foi tomada em família.

“O maior problema é a socialização. Então, organizei minha vida, já que trabalho em uma empresa e nos matriculamos juntos”, contou Luís. A ideia inicial era fazer junto com o filho apenas até o quarto período do curso, na Faculdade Doctum, na Serra, mas quando o pai cogitou parar, Lucas não aceitou e, assim, os dois foram até o final.

O jovem fez todo o curso como os demais companheiros de turma, sem nenhuma facilidade em relação aos outros.

“Nós nos formamos juntos. Ele não teve nenhum benefício em relação aos demais. Teve as mesmas provas, atividades individuais e em grupo. Fez, inclusive, o trabalho de conclusão de curso. Foi em dupla. Eu e ele fizemos juntos. O mérito é todo dele”, contou Luís.

Se antes de entrar na faculdade os pais estavam receosos de o filho não se enturmar, logo no início, ficou provado que esse não seria problema para Lucas.

“No início das aulas, todos se apresentaram para a turma. Com ele, não foi diferente. Ele se apresentou, explicou as dificuldades dele e a turma rapidamente o acolheu, assim como os professores. Isso tudo me incentivou a ficar até o final com ele”, ressaltou Luís.

Agora formado, o próximo passo de Lucas é fazer o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e prestar concurso público.

Já o pai, que é da área de exatas, disse que o ramo de Direito pode se tornar uma opção futura. Por enquanto, o seu plano é buscar uma especialização na área de Direito dos autistas.

“Os outros alunos o acolheram”, Luís Felipe Soares, pai de Lucas

O técnico industrial Luís Felipe Soares, de 46 anos, pai de Lucas Weberling, de 23, que possui autismo de grau leve, contou que decidiu se matricular no curso de Direito junto com o filho porque tinha receio de que ele sofresse bullying na faculdade, como ocorreu em sua adolescência, durante o ensino médio.

A Tribuna – Qual a maior dificuldade do Lucas, por ser autista?
Luís Felipe Soares – Apesar de ter autismo, o grau é leve, então ele não apresenta deficiência cognitiva.

A maior dificuldade dele sempre foi a socialização com outras pessoas. Ficamos com receio de ele ficar desmotivado ao longo da faculdade por causa disso.

A Tribuna – Como o Lucas lidou com os estudos na faculdade?
Luís Felipe Soares – Ele se saiu bem. O nosso medo maior era como seria a relação com os outros alunos, mas, logo no início das aulas, todos se apresentaram e ele explicou o jeito dele. Os outros alunos o acolheram muito bem. Os professores também colaboraram muito para o desenvolvimento dele.

Ele não recebeu nenhum benefício por ser autista. Fez as mesmas provas, teve de fazer os mesmos trabalhos que todos os alunos fizeram.
 

A Tribuna – O que foi mais difícil para o Lucas no curso e o que ele mais gostou no período em que esteve na faculdade?
Luís Felipe Soares – O que ele achou mais difícil foi o período de aulas na pandemia. Por ter sido online, sentiu muita falta do convívio com os professores e do ambiente escolar.

O que ele mais gostou foi do curso como um todo, do convívio com a turma e com os professores.

Qualidade de vida com apoio profissional desde cedo

O autismo pode se manifestar de diversas maneiras e requer diferentes níveis de intervenções para ajudar no tratamento.

O que há em comum entre os diferentes graus do distúrbio é o tratamento, que, quanto mais precocemente começar, melhor.

De acordo com a psiquiatra Fernanda Mappa, o autismo é causado por um transtorno do neurodesenvolvimento, o que gera déficit na comunicação, podendo ter atraso na fala, e dificuldade na interação social. Para amenizar esses impactos, o recomendado são as terapias e até acompanhamento pela parte pedagógica da escola.

“Quanto antes iniciarmos as intervenções, menor o impacto das dificuldades apresentadas. Além disso, a parceria com a escola é fundamental para redução dessas dificuldades”.

O neurologista infantil Thiago Gusmão também reforça a importância da busca por apoio profissional desde cedo.

“Quando é feita intervenção precoce, com terapia ocupacional, acompanhamento com psicólogo, a pessoa com autismo vai ganhando mais independência, fica mais autônoma. Não devemos negligenciar os diagnósticos e muito menos esses tipos de tratamento”, alertou Gusmão.

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