Insônia agrava depressão e ansiedade em adolescentes
Pesquisa diz que dificuldade para dormir afeta 65% da população. Problema é mais frequente a partir dos 14 anos
Dormir bem é essencial para a saúde física e mental. Só que a qualidade do sono tem sido um desafio na rotina dos adolescentes. Pesquisas revelam que eles estão sofrendo mais com insônia, o que tem levado ao agravamento de quadros como depressão e ansiedade. Problema é mais frequente a partir dos 14 anos.
As dificuldades para atingir uma noite de qualidade, segundo pesquisa recente da Associação Brasileira do Sono (ABS), afetam 65% da população – informação corroborada por um estudo publicado recentemente na revista científica Sleep Epidemiology, que ressalta ainda a maior propensão dos jovens a um sono ruim.
Fernando Louzada, especialista em sono e doutor em neurociências, observa que é uma faixa etária mais vulnerável à privação de sono e às adversidades no geral, porque é uma etapa de enorme plasticidade cerebral, de modificação das redes neuronais.
“Não é só de modificação do pensamento, do comportamento, mas de estrutura física mesmo do cérebro”, declarou.
Doutora em saúde mental, Anna Lucia Spear King pontua que a depressão e a ansiedade são transtornos psíquicos causados por muitos fatores. A insônia pode ter correlação com o quadro clínico do adolescente e, ainda, agravar desequilíbrios emocionais dos transtornos.
“A insônia provoca consequências emocionais para os jovens e pode agravar alguns sintomas clínicos da ansiedade e da depressão, como o acúmulo de estresse, a irritabilidade frequente, além da dificuldade de concentração e de memorização”.
Jéssica Polese, presidente da Associação Brasileira do Sono, regional Espírito Santo, diz que, dos atendimentos em seu consultório, 50% dos adolescentes maiores de 14 anos são diagnosticados com transtorno de ansiedade e depressão associados ao distúrbio do sono.
Já a neuropediatra Larissa Khroling alerta que o sono de qualidade é fundamental para o desenvolvimento do adolescente e, quando prejudicado como ocorreu na pandemia, pode torná-lo mais suscetível a desenvolver danos psicológicos.
“Na pandemia, muitos adolescentes começaram a adiar o horário de dormir e, com isso, tiveram menos horas de sono e mais interrupções durante o descanso noturno. Dormir durante o dia não recupera os benefícios do sono regulado à noite. Em muitas situações, essa insônia pode agravar a depressão e a ansiedade”.
RAIO-X
Dificuldade para dormir
> 65% da população têm dificuldade para atingir uma noite de sono de qualidade, sendo o público jovem o mais afetado.
Média de sono
> Levantamento da Associação Brasileira do Sono (ABS) de 2020 revela que, em comparação com o ano anterior, a média de horas de sono por noite caiu de 7,12 horas – o mínimo recomendado pela Fundação Nacional do Sono dos Estados Unidos – para 6,23 horas.
Pandemia da covid-19
> Entre os jovens, que precisam de mais tempo por noite, um estudo conduzido no primeiro ano da pandemia pela Fiocruz mostrou esse impacto da covid-19.
> 36% dos adolescentes de 12 a 17 anos relataram uma piora na qualidade do sono com a chegada da pandemia.
:> Desses, 24% desenvolveram problemas relacionados à hora de dormir.
> 12% admitiram que já tinham dificuldade relatando uma piora.
> Um estudo publicado este ano na revista científica Sleep Science, feito por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco com adolescentes de 13 a 18 anos, mostrou que um índice maior, de 58,2%, relatava uma piora na qualidade do sono.
Riscos à saúde
> Um trabalho da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, publicado no American Journal of Human Biology, estimou que o risco para obesidade, por exemplo, aumenta em 80% a cada hora reduzida no sono de jovens entre 11 e 16 anos.
Fonte: Agência O Globo, Associação Brasileira do Sono (ABS) e médicos entrevistados.
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