Idosos deixam de comprar remédio por falta de dinheiro

| 11/03/2021, 17:07 17:07 h | Atualizado em 11/03/2021, 17:26

A situação financeira tem impactado no cuidado com a saúde. Uma pesquisa revela que mais da metade dos idosos (59%), bem como quem tem entre 50 e 59 anos, já deixaram de comprar medicamentos por falta de dinheiro.

Os dados são de um estudo realizado pelo Instituto Febrafar de Pesquisa e Educação Corporativa (Ifepec). Foram ouvidos 2.200 consumidores com 50 anos ou mais e 300 cuidadores de idosos acamados no País, incluindo no Estado.

Ao comparar o histórico de outros estudos, o coordenador do Ifepec, Rodnei Domingues, disse o índice de 59% é o maior. Os outros nunca ultrapassaram 40%.

“Neste levantamento, a gente também procurou entender quais são as fontes de renda dessas pessoas e identificamos que 37% dependem exclusivamente de aposentadoria”, disse.

Outro dado aponta que 67% costumam pagar os medicamentos que compra, prioritariamente. Já 29% retiram no Sistema Único de Saúde (SUS), posto de saúde ou Farmácia Popular, e só para 4% são pagos por parentes.

Ainda como impacto dos preços, se observa que os genéricos foram os produtos mais adquirido pelos consumidores, com 66%; seguido por medicamentos de marcas (42%) e outros (27%), lembrando que os consumidores podem adquirir mais de um tipo de produto por ida à farmácia.

“Um dos objetivos do estudo é perceber quais são as dificuldades desse grupo etário, a prevenção e os seus hábitos de consumo, até para que a indústria farmacêutica e as farmácias possam entender no que podem ajudar”, destacou Rodnei Domingues.

O presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Pessoas Idosas (Sindnapi-ES), Jânio Araújo, confirma essa realidade e lembra que, na pandemia de Covid-19, muitos filhos dos aposentados perderam o emprego e voltaram para casa, aumentando os custos.

“Com isso, muitos aposentados têm sacrificado a saúde e deixado de comprar remédios para sustentar filhos, netos. Só que isso representa um risco, pois muitos dependem de remédios de uso contínuo e podem adoecer”, observa.

Casal tem gasto de R$ 600 todo mês

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Comprar remédios é uma realidade para o casal de aposentados Edna Muniz, de 87 anos, e Nelson Moreira Xavier, 80. Por mês, eles gastam cerca de R$ 600 no total.

Remédios para pressão, alergia, vitaminas, cálcio e ferro estão na lista de Edna, enquanto medicamentos para próstata, dor no corpo e nas articulações são comprados por Nelson. A aposentada recebe ajuda do seu filho para conseguir comprar todos os seus remédios, já que o valor pessoal gasto é de R$ 300.

“A sorte é que temos casa própria e não precisamos pagar aluguel. Abrimos mão de passear – apesar de, agora, não estarmos viajando por causa da pandemia –, e até de comprar determinados alimentos, pois a prioridade é cuidar da saúde”, disse Nelson.

Medicamentos vão ter novo reajuste no final do mês

Os gastos com remédios vão pesar mais no bolso. O Comitê Técnico-Executivo da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) definiu em 3,29% o fator de produtividade (Fator X) para o reajuste dos preços dos remédios neste ano.

O reajuste acontece anualmente no dia 31 de março, mas passa a valer a partir de abril. A resolução com a decisão do colegiado foi publicada no Diário Oficial da União no dia 25 de novembro do ano passado.

O Fator X é o mecanismo que permite repassar aos consumidores, por meio dos preços dos remédios, as projeções de ganhos de produtividade das empresas produtoras de medicamentos.

Conforme a Lei 10.742, de 2003, que define normas de regulação para o setor, o ajuste nos valores de medicamentos tem por base um modelo de teto de preços calculado por meio de um índice de preços, de um fator de produtividade (Fator X) e de uma parcela de fator de ajuste de preços relativos entre setores (Fator Y) e intrassetor (Fator Z).

O percentual não é um aumento automático nos preços, mas uma definição de teto permitido de reajuste, ou seja, cada empresa pode optar pela aplicação do índice total ou menor, a depender das estratégias comerciais.

Comprometimento

Demonstrando preocupação, o presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Pessoas Idosas (Sindnapi-ES), Jânio Araújo, lamentou ontem o aumento nos preços dos medicamentos.

“O aposentado consome um terço do benefício dele com medicamentos. Se juntar os remédios e planos de saúde, os gastos comprometidos são de 50% da aposentadoria”, disse o presidente do Sindnapi-ES.

Jânio acredita que pode chegar um momento em que os aposentados irão fazer a opção sobre gastos com a saúde. “Claro que tem aposentado não abre mão do plano de saúde e nem da medicação, mas muitos acabam sacrificando algo, infelizmente”.

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Metodologia

  • Realizado pelo Instituto Febrafar de Pesquisa e Educação Corporativa, o estudo ouviu 2.200 consumidores com 50 anos ou mais e 300 cuidadores de idosos acamados em todo o País no final do ano passado. A divulgação foi feita recentemente.
  • O questionamento foi feito nas portas das farmácias, por amostragem.

Fonte: Instituto Febrafar de Pesquisa e Educação Corporativa (Ifepec).

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